Amanhã é natal, e duas imagens me vêm à cabeça: a do presépio e a do Papai Noel. Claro que a primeira é muito mais importante do que a segunda, mas a nossa cultura está aí e é inevitável pensarmos no barbudinho de vermelho.
Quando alimentamos o símbolo do Papai Noel, alimentamos a fantasia, e não se trata de uma fantasia qualquer. As crianças crescem ouvindo sobre ele, o trenó, os duendes, o Polo Norte, a descida pela chaminé e tudo o mais, até que, um dia, vem a aguardada pergunta, o rompimento de uma fronteira do seu amadurecimento, e nada nos resta a não ser dizer a verdade.
Lembro-me de quando fiz a pergunta e da tristeza ao ouvir a resposta, recordo-me da reação ainda mais decepcionada e revoltada do meu irmão, e temo por isso quando chegar o momento da revelação para as minhas filhas. Então, por que alimentamos essa fantasia?
Tolkien entendia de fantasia. Sem fazer uso de alegorias como as do seu amigo C. S. Lewis, ele queria desenvolvê-la como uma ilustração da Verdade de Deus ou da sua sabedoria. Enfim, o criador de “O Senhor dos Anéis” via a fantasia como uma subcriação de Deus através da limitada imaginação humana. Estando a estória (com “e”, mesmo) conectada aos valores revelados pela Verdade, ela é verdadeira por si só, mesmo que seus eventos e personagens sejam fictícios.
Portanto, não é errado alimentarmos a fantasia do Papai Noel se a utilizamos como um elo simbólico com a Verdade revelada no natal, remetendo à união familiar, caridade, bondade, aconchego, alegria, esperança, gratidão, perdão e à própria referência a São Nicolau, o Papai Noel original, o verdadeiro, que possuía todas as virtudes do “Bom Velhinho”, mas sem as renas, duendes, trenó e superpoderes. O grande problema é, justamente, engordar o Barbudinho desconectando-o daquilo que ele simboliza. A fantasia pode fortalecer a Verdade, tornando esta última ainda mais clara e bela, mas a fragiliza se apresentada como uma simples historinha vazia.
Ao falarem do Papai Noel aos seus filhos, foquem na realidade do símbolo da sua fantasia, e não na realidade material da fantasia. Isso irá prepará-los para o momento em que a Verdade lhes será revelada e tornará muito mais fácil compreendê-la e aceitá-la.
Imagem: Tolkien, J.R.R., Cartas do Papai Noel
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