Pular para o conteúdo principal

AMOR AO PRÓXIMO E HIPOCRISIA


Todos são imperfeitos e, em certa medida, contraditórios. Ninguém consegue agir totalmente de acordo com as suas palavras, sendo fato que, em dado momento, qualquer um tropeçará e fará algo que vá contra aquilo em que acredita. A natureza humana é falha, pecadora, e é por isso que sempre podemos, enquanto vivermos, recomeçar.

No entanto, não podemos confundir imperfeição com hipocrisia. A hipocrisia é premeditada, maquiavélica, e tem um uso específico com um fim bem delineado. É o retrato da falsidade do ser humano, levando este a conscientemente aparentar algo, embora, sem nenhum pudor, pense ou aja de outra maneira. Para o hipócrita, o que vale é ser visto como um virtuoso, não sendo necessário assim sê-lo. O hipócrita quer ser querido, amável, sendo invariavelmente um camaleão que se adapta às pessoas e situações. Não há rocha que o firme em algum princípio real e verdadeiro. O importante é ele ser visto como um exemplo, uma boa pessoa, que apareça e que represente a perfeição. O hipócrita não é humilde, não confessa suas falhas, e ainda que não faça julgamentos oralmente diretos, ele assim o faz ao se comparar aos outros por meio da sua “jornada de herói”, que, ao cabo, revelará como ele é “bom e vencedor”. O hipócrita gosta de aparecer, de estar em evidência, de ser uma autoproclamada luz àqueles ao seu redor, ainda que saiba que seu interior é sombrio, nebuloso e nada sincero. Ele fala o que aqueles que o ouvem querem ouvir, sorri para aqueles que vê apenas para ganhar simpatia. Por fim, o que mais é do gosto do hipócrita é fingir amar aqueles que não ama, tendo como objetivo tão somente estar de bem com todos, a fim de alcançar algum objetivo tido como maior.

Escrevo isso porque, embora devamos amar uns aos outros, inclusive os nossos inimigos, é preciso ponderar esse esforço com o risco de sermos hipócritas. O amor é um exercício, e aquele dirigido aos que não merecem recebê-lo de nós envolve oração, exortação, compaixão, educação, cordialidade, mas nunca pode ser falso, desprovido de franqueza e honestidade. O amor ágape, ou doação, é gratuito e não quer nada em troca, é verdade, mas ele não pode ser pretexto para uma mentira utilitarista que busca reconhecimento e aprovação. O esforço para exercê-lo precisa ser verdadeiro. Caso contrário, é teatro, é cena, é mera hipocrisia. Enfim, é repugnante.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CASAMENTO É UMA MARATONA

  Ontem o dia foi corrido e realmente não deu para fazer a reflexão a partir de um #tbt. Porém, por que não um #fbf (Flashback Friday)? A vida já é dura demais para condicionarmos lembranças a dias específicos da semana! Pois na quarta-feira escrevi sobre símbolos e me inspirei na linda celebração de casamento que fiz na @loja_loveit, entre a @adrianasviegas e o @tales.viegas e, claro, a lembrança da semana, precisava ser a deles.   Pra quem não sabe, os dois se conheceram e, mais tarde, iniciaram seu namoro a partir de maratonas, e esse esporte muito tem a ensinar quando se fala em relacionamentos e, claro, matrimônio.   Em uma maratona, em meio a confusão da largada, a única certeza é a incerteza acerca do que virá nos primeiros metros ou nos quilômetros finais da prova. Logo nos primeiros passos, é possível que tropecemos em algum atleta que venha a tombar, podemos ficar ansiosos ante a dificuldade em avançar rapidamente, e é difícil prever precisamente qual será o...

Dica de Tiras - High School Comics

Essa tira foi desenhad a por um amigo meu, Rodrigo Chaves, o qual realizou tal trabalho em parceria com outro artista, Cláudio Patto. Acho simplesmente excelente essa série de tiras chamada "High Shool Comics", que trata do cotidiano da vida escolar, sempre com bom humor. Mereceria aparecer todos os dias nos jornais, sem dúvida. Se a visualização não ficou boa, cliquem na imagem. Querem ver mais? Então acessem: http://contratemposmodernos.blogspot.com .

POR QUE A FANTASIA?

  Amanhã é natal, e duas imagens me vêm à cabeça: a do presépio e a do Papai Noel. Claro que a primeira é muito mais importante do que a segunda, mas a nossa cultura está aí e é inevitável pensarmos no barbudinho de vermelho. Quando alimentamos o símbolo do Papai Noel, alimentamos a fantasia, e não se trata de uma fantasia qualquer. As crianças crescem ouvindo sobre ele, o trenó, os duendes, o Polo Norte, a descida pela chaminé e tudo o mais, até que, um dia, vem a aguardada pergunta, o rompimento de uma fronteira do seu amadurecimento, e nada nos resta a não ser dizer a verdade. Lembro-me de quando fiz a pergunta e da tristeza ao ouvir a resposta, recordo-me da reação ainda mais decepcionada e revoltada do meu irmão, e temo por isso quando chegar o momento da revelação para as minhas filhas. Então, por que alimentamos essa fantasia? Tolkien entendia de fantasia. Sem fazer uso de alegorias como as do seu amigo C. S. Lewis, ele queria desenvolvê-la como uma ilustração da Verdade ...