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Vale Tudo Eleitoral



Não mais me surpreendo com a sede pelo poder. Li há pouco que Dilma editou o seu programa de governo para esse segundo turno, dando maior atenção à defesa do meio ambiente e às liberdades religiosa e de imprensa. Nada como o risco de perder uma eleição e a coroa. O candidato José Serra, desde o início da campanha, já havia se manifestado sobre esses assuntos. Não vou afirmar que, ao manter suas posições iniciais, ele esteja sendo coerente, pois é possível que o posicionamento acerca desses temas tenha, desde o início, uma intenção eleitoreira. Todavia, nada mais eleitoreiro do que adaptar o programa de governo para o segundo turno das eleições apenas para conseguir apoio para se manter no poder.

Política é assim mesmo: buscar a melhor forma de conciliar conflitos de interésses (o acento é proposital, lembrando o caudilho Brizola). Muitos dizem que na política os ideais e ideologias são prostituídos, mas o fato é que, se não houver negociações e concessões, restam dois caminhos: a corrupção (em vez de negociar, compra-se os votos) ou o autoritarismo (imposição pela força). Evidentemente que ambos destroem as instituições. Resta, assim, a discussão e a concessão. Acontece que, em certas ocasiões, é por demais evidente que não haverá, sinceramente, uma concessão, uma discussão. No caso atual, em que o programa de Dilma foi adaptado na correria apenas para buscar votos do eleitor de Marina, é por demais frágil a certeza de que os pontos em questão serão realmente respeitados. Dilma sempre dizia ser a favor do aborto mas, de repente, na semana imediatamente posterior às eleições, muda de idéia? Dilma sempre defendeu com unhas e dentes a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, que afogará quilômetros e quilômetros quadrados da amazônia, e agora resolve priorizar a defesa do meio ambiente? Suspeito, não? Depois, todos adoram prometer mundos e fundos em época de eleição, cientes de que o eleitor tradicionalmente cobra pouco.

Quanto a José Serra, acredito que sua ala seja, de fato, mais inclinada a ser contra o aborto, a favor da liberdade de imprensa e religiosa, mas em relação ao meio ambiente, acho difícil. Afinal, o partido de maior preferência dos ruralistas, ao lado do PP (que apoia Dilma, é bom lembrar), é o DEM. Logo, acho muito difícil que Serra, por mais que se diga pró-ambiente, seja capaz de realizar um governo muito melhor do que os dos seus antecessores nesse ponto.

Na reta final das eleições, os candidatos que seguem no páreo não medem esforços para conseguir o apoio de Marina Silva e seu PV, o qual decidirá as eleições. E o PV, apesar de não mais concorrer, poderá revelar a sua verdadeira face nessae segundo turno. Poderá ser um partido sério e manter-se neutro, deixando seus eleitores à vontade com suas consciências, ou vender-se para um dos lados em troca de um plano de governo que atenda às suas necessidades. E o que é esse plano de governo? Equipar o Ministério do Meio Ambiente com membros do PV, tendo Marina Silva novamente no comando, mas com mais autonomia? Ciro Gomes fez isso no passado e se tornou um coadjuvante na política nacional, por exemplo. Trata-se de uma questão de escolhas: Marina apoiará Serra e os ruralistas que lhe dão suporte, ou o PT, partido do qual se desfiliou por incompatibilidades político-ideológicas? Ela não tem uma saída que não seja a neutralidade, a não ser que seu objetivo seja simplesmente o poder (sobre aquilo que gostaria, de fato, de comandar).

Enfim, o campo do vale tudo eleitoral será semeado. Resta saber o que de fato colheremos: a verdade ou a mentira?

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