Pular para o conteúdo principal

QUE CAIAM TODOS! MAS NÃO HOUVE GOLPE

Hoje o Brasil amanheceu ao som de mais uma bomba na política: a divulgação de conversas telefônicas feitas entre Romero Jucá, um dos articuladores do impeachment de Dilma Rousseff, e um aliado político que demonstram sua intenção de não apenas derrubar a presidente então em exercício, mas de “estancar a sangria desatada” pela Operação Lava Jato e que tende a atingir os altos escalões de Brasília, independentemente dos lados.

Muitos que sempre consideraram o impeachment um “golpe” estão vibrando com a notícia, como se ela representasse a prova cabal de que estavam certos e de que a queda de Dilma seria uma afronta à Constituição. Entretanto, ainda que o combustível para o impeachment seja político e escuso, há base legal e constitucional para o seu processamento e procedência.

De fato, todo processo de impeachment tem motivações políticas. É um processo político em si, e não penal ou administrativo. Ninguém é inocente ao pensar que a turma do Temer era “honesta” e “bem intencionada”. Sempre quiseram abocanhar o governo, de um jeito ou de outro. Contudo, isso não significa que o impeachment tenha sido golpe. Há base legal e constitucional. As fraudes fiscais aconteceram e em uma proporção que levou o país a uma crise econômica e social (considerando o colapso dos serviços públicos) sem precedentes. O fato de haver raposas rondando a cadeira presidencial não implica em ser conivente com crimes de responsabilidade. Se as safadezas dessa turma vierem à tona, que tombem as peças desse dominó, desse castelo de cartas. O mesmo policial que prende outros por cometerem crimes pode eventualmente ser corrupto. Imaginemos que esse oficial faça vista grossa a traficantes de uma comunidade que lhe pagam uma mesada. Um belo dia, por qualquer motivo, param de suborná-lo. Indignado, o policial resolve prendê-los, com provas de todos os crimes cometidos. O fato de um policial corrupto insatisfeito ter realizado as prisões não torna inocentes aqueles que prende, tampouco “descriminaliza” as condutas delituosas cometidas por essas pessoas. Elas serão julgadas e condenadas por esses crimes, enquanto o policial, uma vez descoberto, o será em relação à corrupção vinda à tona. Uma coisa não anula a outra.

Portanto, que caiam todos! Que a mídia convenientemente chamada de “golpista” quando divulga apenas o que não interessa ao partido no poder siga revelando fatos que colocam nossos governantes em saia justa. Se é para não sobrar pedra sobre pedra, então que seja! Agora, não podemos cair na tentação de mergulhar no discurso planejado a la Goebbels de sair repetindo que houve um “golpe” quando este não ocorreu. Não houve rompimento institucional, o procedimento aconteceu conforme previsto na Constituição, o crime de responsabilidade constatado está na Carta Magna (desrespeito aos artigos 85, inciso VI e 167, inciso V) e na Lei (art. 10, item 4, e art. 11, item 2, ambos da Lei 1.079/1950), as fraudes fiscais foram reais e restaram provadas.

Enfim, o que quero dizer é que não podemos ser acríticos em relação a isso. A rigidez do impeachment precisa continuar, especialmente a partir da sociedade civil. Que caiam todos, mas cuidemos para não cairmos na armadilha da retórica do golpe.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CASAMENTO É UMA MARATONA

  Ontem o dia foi corrido e realmente não deu para fazer a reflexão a partir de um #tbt. Porém, por que não um #fbf (Flashback Friday)? A vida já é dura demais para condicionarmos lembranças a dias específicos da semana! Pois na quarta-feira escrevi sobre símbolos e me inspirei na linda celebração de casamento que fiz na @loja_loveit, entre a @adrianasviegas e o @tales.viegas e, claro, a lembrança da semana, precisava ser a deles.   Pra quem não sabe, os dois se conheceram e, mais tarde, iniciaram seu namoro a partir de maratonas, e esse esporte muito tem a ensinar quando se fala em relacionamentos e, claro, matrimônio.   Em uma maratona, em meio a confusão da largada, a única certeza é a incerteza acerca do que virá nos primeiros metros ou nos quilômetros finais da prova. Logo nos primeiros passos, é possível que tropecemos em algum atleta que venha a tombar, podemos ficar ansiosos ante a dificuldade em avançar rapidamente, e é difícil prever precisamente qual será o...

Dica de Tiras - High School Comics

Essa tira foi desenhad a por um amigo meu, Rodrigo Chaves, o qual realizou tal trabalho em parceria com outro artista, Cláudio Patto. Acho simplesmente excelente essa série de tiras chamada "High Shool Comics", que trata do cotidiano da vida escolar, sempre com bom humor. Mereceria aparecer todos os dias nos jornais, sem dúvida. Se a visualização não ficou boa, cliquem na imagem. Querem ver mais? Então acessem: http://contratemposmodernos.blogspot.com .

POR QUE A FANTASIA?

  Amanhã é natal, e duas imagens me vêm à cabeça: a do presépio e a do Papai Noel. Claro que a primeira é muito mais importante do que a segunda, mas a nossa cultura está aí e é inevitável pensarmos no barbudinho de vermelho. Quando alimentamos o símbolo do Papai Noel, alimentamos a fantasia, e não se trata de uma fantasia qualquer. As crianças crescem ouvindo sobre ele, o trenó, os duendes, o Polo Norte, a descida pela chaminé e tudo o mais, até que, um dia, vem a aguardada pergunta, o rompimento de uma fronteira do seu amadurecimento, e nada nos resta a não ser dizer a verdade. Lembro-me de quando fiz a pergunta e da tristeza ao ouvir a resposta, recordo-me da reação ainda mais decepcionada e revoltada do meu irmão, e temo por isso quando chegar o momento da revelação para as minhas filhas. Então, por que alimentamos essa fantasia? Tolkien entendia de fantasia. Sem fazer uso de alegorias como as do seu amigo C. S. Lewis, ele queria desenvolvê-la como uma ilustração da Verdade ...