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O SHOW NÃO PODE PARAR



Ontem, eu, a Roberta e a Glória fizemos uma programação de domingo diferente da que estamos acostumados: fomos ao circo! Sim, foi a primeira vez que a Glória assistiu a malabaristas, acrobatas e contorcionistas! Também houve um show de mágica que lhe encheu os olhos, além, é claro, de toda a magia do lugar.

O circo é o "Park Las Vegas" e está instalado aqui em Porto Alegre na avenida Juca Batista, próximo ao Zaffari Ipanema, desde o início de março, e por mais de dois meses não puderam trabalhar. Isso significa que não conseguiam ganhar dinheiro para o seu pão de cada dia por todo esse período. Os dias foram passando, as semanas, os meses. Sem condições financeiras mínimas para sua própria subsistência, sequer poderiam sair de lá. Nesse período, depois que rarearam seus recursos, passaram a ser auxiliados pela comunidade, que começou a lhes fazer doações de todo tipo, especialmente de alimentos. Era triste passar por ali e ver o circo todo montado, acompanhado de um parque de diversões de luzes apagadas, com brinquedos desligados e sem crianças para lhe dar vida. Mesmo assim, no interior dos seus trailers, havia pessoas, trabalhadores, famílias. Pessoas que precisavam trabalhar e só não passaram fome porque foram auxiliados.

Então, veio a última semana em que muitas atividades foram autorizadas para voltar a funcionar em nossa cidade, desde que obedecidas algumas restrições. Foi quando soubemos que o circo voltaria a funcionar, mas de uma maneira segura e original: no modo "DRIVE IN".

Quando a Roberta me falou dessa novidade, pensei: "Por que não?". Seria uma experiência inédita e certamente divertida para a Glória, e eu e a Roberta não íamos a um circo há sei lá quantos anos. Fomos lá e, por incrível que pareça, ficamos felizes ao chegarmos até a "fila" (um pequeno engarrafamento) e sabermos que os ingressos da sessão das 18h haviam se esgotado. Compramos para o das 20h e retornamos pouco depois.

A entrada foi um pouco melancólica, pois, para chegarmos até a lona do circo convertida em estacionamento (com exceção, é evidente, do palco e do "globo da morte"), tivemos que atravessar a área do parque de diversões desativado, o que nos lembrou da alegria que tantas crianças, inclusive a minha filha, estão deixando de desfrutar e, consequentemente, do quanto os valentes circenses estão deixando de ganhar.

Estacionamos. Um carro colado no outro, mas todos com boa visão do palco. Os vidros foram mantidos fechados ou levemente abertos para que os para-brisas não ficassem totalmente embaçados. Em pouco tempo, vários vendedores apareceram oferecendo guloseimas e brinquedos, como máquinas de bolinhas de sabão, espadas e outros itens piscantes, bonecos, balões etc. Então, teve início o espetáculo!

Em poucos minutos, vimos que um dos vendedores havia se convertido no mágico, e suas assistentes também estavam entre aquelas que estavam ofertando produtos ao público. Toda a melancolia se foi, e a clássica alegria contagiante do circo foi reacesa. O show de mágicas apresentou números clássicos que toda criança adora, como a inexplicável divisão de uma mulher em duas partes, ou seu sumiço de uma caixa depois de ter sido "transpassada" por uma dúzia de espadas. Foi uma graça ouvir a Glória perguntar pela assistente até o fim do espetáculo: "Cadê ela, pai?".

Não soube responder na hora, mas a vi na apresentação seguinte, pois ela era a acrobata que faria seu número em uma argola. Que habilidade! A mulher desafiava a gravidade, e eu nunca diria que aqueles braços finos detinham tanta força!

A contorcionista também foi impressionante! Mulher-elástico seria um apelido leve. Como pode não ter quebrado sua coluna? Demais! A Glória a observava de olhos bem abertos. Essa mesma contorcionista também se exibiu em uma corda, e, assim como a acrobata, parecia ignorar as leis da física, girando para lá e para cá.

Por falar em girar, ainda houve uma menina dos "cabelos de aço" que, segundo o apresentador, já havia participado do "Se Vira nos 30" do Domingão do Faustão. Suspensa por um cabo preso aos seus cabelos, fez no ar suas peripécias, culminando em giros que pareciam que ela levantaria voo como se fosse um helicóptero.

Depois, a apresentação do gorila King Kong! Um monstro de três metros de altura! A Glória gritava para a moça que seria a sua vítima: "Sai daí! Cuidado!". O que acontece com ela? Surpresa.

Depois, o globo da morte. O motociclista impressionou com seus loopings quase suicidas que deram aquele frio na barriga de todos os expectadores. Mais impressionante foi que, ao final de seu número, quando subiu ao palco, revelou que se tratava do próprio palhaço, que também era um dos manobristas!

Finalmente, o apresentador chamou ao palco todos os participantes e agradeceu aos presentes. Foi um momento emocionante, e seu discurso foi uma mensagem de muita gratidão, esperança e fé em Deus. Como durante todo o espetáculo, os carros buzinaram e acenderam seus faróis (os aplausos possíveis nesse modelo drive in), e foi uma pena que os artistas não puderam enxergar tantas lágrimas que escorriam dos olhos do "respeitável público". O homem, então, agradeceu mais ainda e, após dar as costas ao povo motorizado, retornou para trás das cortinas vibrando como se tivesse marcado um gol, tomado por adrenalina e alegria. Demais!

Segundos depois, o mágico (que também era o malabarista), a acrobata e a contorcionista já haviam se materializado na frente de meu veículo ofertando produtos. Um carro ficou sem bateria, e o manobrista/palhaço/motociclista do globo da morte ofereceu ajuda para empurrá-lo.

Uma noite muito grande momento e que me fez admirar demais aqueles artistas, tanto pelo seu talento quanto pela sua garra, sua fé e seu espírito coletivo e solidário, em que todos, humildemente, faziam não apenas aquilo que lhes era atribuído, como seus números, mas as mais diversas tarefas, sempre com um belo sorriso em seus rostos.

Parabéns, Circo Park Las Vegas! Mais do que um espetáculo admirável, mais do que uma iniciativa admirável, fui dormir, ontem, sabendo que havia me deparado com seres humanos admiráveis! Um exemplo, inclusive, para a minha filha!

Boa sorte! O show não pode parar!

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