A churrasqueira fora acesa bem cedo, no meio da manhã, e a banda, liderada pelo saudoso Seu Carlos, embalava aquela tarde com sua música gauchesca. Barril de chope, carne abundante, aquela alegre zoeira de vozes que ecoam de uma festa animada, a correria das crianças que subiam na casinha d a árvore e, pelo escorredor, desciam, jogavam futebol e, subversivamente, atiravam-se na piscina sob a ilusão do calor da ensolarada tarde primaveril, ignorando o ventinho traiçoeiro que logo viria e antecederia não só o crepúsculo, mas aquele resfriado que chegaria junto com a segunda-feira. Era a primeira celebração dos aniversariantes de outubro daquela casa para onde nos mudáramos no início do ano, e nossos parentes mais próximos e melhores amigos estavam lá, entre risadas, música, comilança, cerveja, refrigerantes, bolo e docinhos. Então, eis que, de repente, surgem, descendo a rampa que levava à garagem e “salão de festas” do nosso lar, meu avô Roberto e minha avó Nina. Surpresa! Uma grande...
Amanhã é natal, e duas imagens me vêm à cabeça: a do presépio e a do Papai Noel. Claro que a primeira é muito mais importante do que a segunda, mas a nossa cultura está aí e é inevitável pensarmos no barbudinho de vermelho. Quando alimentamos o símbolo do Papai Noel, alimentamos a fantasia, e não se trata de uma fantasia qualquer. As crianças crescem ouvindo sobre ele, o trenó, os duendes, o Polo Norte, a descida pela chaminé e tudo o mais, até que, um dia, vem a aguardada pergunta, o rompimento de uma fronteira do seu amadurecimento, e nada nos resta a não ser dizer a verdade. Lembro-me de quando fiz a pergunta e da tristeza ao ouvir a resposta, recordo-me da reação ainda mais decepcionada e revoltada do meu irmão, e temo por isso quando chegar o momento da revelação para as minhas filhas. Então, por que alimentamos essa fantasia? Tolkien entendia de fantasia. Sem fazer uso de alegorias como as do seu amigo C. S. Lewis, ele queria desenvolvê-la como uma ilustração da Verdade ...