Pular para o conteúdo principal

Documentário para fãs do U2

Li que o U2 lançará, em breve, um documentário que traz os bastidores da gravação do álbum Achtung Baby. Fantástico. Para um fã do U2, como eu, não há nada melhor do que saber os detalhes, as singelezas das origens de canções tão bem trabalhadas e capazes de tocar os nossos corações.

Certa vez fiz uma "resenha crítica" de um dos álbuns do U2 (No Line on The Horizon) e um leitor desconhecido comentou o seguinte: "quanta abobrinha". Depois daquela opinião, pensei: "não vou mais fazer críticas de álbuns musicais". Dois anos e meio depois, não resisti e escrevi sobre uma música do Coldplay (post anterior a este, de 19 de setembro). Ali, no entanto, não fiz uma crítica técnica, mas de coração, apenas, ao contrário do que fiz com "No Line...". Agora, danem-se as abobrinhas, pois diante do lançamento iminente do documentário em questão, e eu, como fã do U2, preciso falar de Achtung Baby.

O álbum em questão foi lançado em 1991. Na mesma época, o Nirvana lançava o seu maior álbum, "Nevermind", o Guns 'n' Roses estava no auge, o Pearl Jam crescia, as bandas de hard rock começavam a enjoar a mídia, o britpop do Radiohead e de outras bandas britânicas brotava das sementes dos Smiths e do The Cure. No mundo, caíra o Muro de Berlim, a URSS entrara em colapso e se desfragmentava, as nações balcânicas começavam a se mexer pela independência, a televisão invadia os lares do mundo todo de maneira cada vez mais intensa.

Ao mesmo tempo em que tudo isso acontecia, o U2 passava por uma crise. Apesar de músicas excelentes, a banda enjoara do seu estilo e temia cair no mesmo cesto de tantas bandas ótimas dos anos 80 que, passada a barreira daquela década, teriam seus hits ressonados por todo o sempre, enquanto novas canções, apesar de apreciadas pelos velhos fãs, seriam ignoradas pela mídia capitalista e consumista, que sempre busca o novo. O U2 queria mais: a idéia não era ser lembrada como uma banda de enorme sucesso no passado, mas manter-se no topo, e não como um simples êxito comercial, mas com canções que tocassem para sempre, e para(e pedidas por) diferentes gerações. Foi nesse embalo que surgiu, depois de muitas brigas, discussões, crises, Achtung Baby.

O álbum e sua futura turnê tinham outro objetivo: retirar a idéia de parte do público de que a banda era uma espécie de "Jonas Brothers" da época, composta por jovens supostamente santinhos. Apesar de ser um conjunto de cristãos, o U2 queria mostrar que não era um grupo de anjos, razão pela qual brincaram tanto com eles mesmos, debochando de si e demonstrando o quão pecadores eram, justamente para não serem idolatrados de modo irracional, afinal, são homens, logo, pecam, como qualquer um (embora tenham obtido a Graça, mas não vou me deter nisso, não agora - leiam "Walk On - A Jornada Espiritual do U2, de Steve Stockman).

Não quero entrar em muitos detalhes aqui, mas quem entende de música sabe do que estou falando. O estilo musical de Achtung Baby é muito atual, e bandas como Coldplay, Kings of Leon, Hillsong United, The Killers, dentre muitas outras não existiriam sem a inspiração sonora desenvolvida pela guitarra de The Edge. Importa lembrar que, ouvindo Achtung Baby, não conseguimos associá-lo com nenhuma vertente do rock específica, o que lhe dá uma singularidade especial, razão pela qual é inspiração para muitas bandas até hoje.

Certa vez, em uma discussão imbecil que tive com um amigo, eu dizia que U2 não era uma banda "pop" (no sentido pejorativo e descartável do termo), enquanto ele, um "fundamentalista do rock", dizia que sim, mas que era a "rainha das bandas pop", que lhes servia de inspiração. Não sei exatamente o que ele quis dizer com isso, mas a partir do momento em que as canções de uma banda servem de inspiração a uma grande massa de outras, creio que ela não seja mais "pop", certo?

Independentemente de qualquer coisa, Achtung Baby é, na minha opinião, o segundo melhor álbum do U2, atrás apenas de The Joshua Tree (concorrer com um álbum que amontoa Where The Streets Have no Name, With or Without You, I Still Haven't found what I'm looking for, Bullet the Blue Sky, Exit, One Tree Hill, é covardia...). Além de excelente, é inspirador.

Enfim, o documentário trata das raízes de Achtung Baby e, claro, tem como alvo aqueles que foram tocados, sentimental ou tecnicamente pelo álbum. A expectativa é grande.

Abaixo, o trailer do documentário. Aproveito e colo, ainda, uma canção que representa bem o álbum, em uma de suas melhores versões.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A HISTÓRIA DA MINHA VIDA #1: PRÓLOGO

Toda história tem um prólogo. Não é possível imaginarmos que qualquer fato tenha uma origem em si mesmo, sem nenhum motivo anterior. Nem mesmo o universo (e a sua história) vieram do nada: Deus deu o pontapé inicial, e apenas Ele, Deus, não tem uma razão externa para existir, pois é eterno e fora da natureza. Nossa história não começa no nascimento, mas vem de muito antes. Na verdade, seria possível dizer que, caso quiséssemos, sinceramente, elaborar um prólogo fiel de nossas vidas, seria preciso retornar à origem do universo. No entanto, por razões óbvias, se a ideia é criar alguma introdução para a nossa biografia (ou simples livro de memórias), então imagino que o melhor a fazer é limitá-la aos nossos pais, pois são nossas referências biológicas e sociais mais diretas. Minha vida, ou o projeto que se tornaria a minha vida, começou no dia em que meus pais se conheceram, pois ali se encontrava a grande e objetiva propulsão que resultaria, cerca de dez anos depois, no meu enc...

INSPIRAÇÃO, POR ONDE ANDAS?

Como já é possível perceber, estou há muito tempo sem escrever por aqui. Não é apenas por esse canal: eu realmente não mais tenho conseguido palavras para expressar, por meio de textos, meus pensamentos (e garanto que não são poucos!). É interessante que, falando, ou melhor, dialogando com alguém, eu consigo trazer à tona diversas reflexões sobre os mais variados assuntos, mas ultimamente tem sido um sacrifício transportá-las para o "papel".  Estou há poucos dias de férias e resolvi, com o fim de apenas entreter-me, acessar esse meu blog e conferir meus textos antigos. Fiquei impressionado. "Quem é esse que escreve tão bem?", perguntei-me. Sem falsa modéstia, tenho o dom da escrita, ou ao menos tinha, pois parece-me que tal dom "escapou-me pelos dedos", como se o teclado em que digito ou a folha sobre a qual passeia a caneta que venho a empunhar emanassem um sopro de desinspiração, esvaziando a minha mente. "Onde eu estava mesmo...?" é a pergun...

TIA NOECI, HENRIQUE E EU

  Enquanto eu e o Henrique almoçávamos assistindo ao Chaves e ao Chapolin, lá estavas tu, convencendo o meu irmão a, para a comida, dizer “sim”, antes que eu desse cabo aos restos a serem deixados por ele que, diante de uma colher de arroz e feijão, insistia em falar “não”. Enquanto eu e o Henrique estávamos na escola, durante a manhã, na época do Mãe de Deus, tu arrumavas a bagunça do nosso quarto, preparando-o para ser desarrumado outra vez. Então, quando desembarcávamos da Kombi do Ademir, tu, não sem antes sorrir, nos recebias cheia de carinho e atenção, e dava aquele abraço caloroso que transmitia o que havia no teu coração. Enquanto eu e o Henrique, em tenra idade escolar, tínhamos dificuldades nos deveres de casa, tu estavas lá, nos ajudando a ler, escrever e contar, pois, embora a humildade seja tua maior virtude, ela era muito menor do que tua doação. Sabias que, em breve, não mais conseguirias fazê-lo, mas, até lá, com zelo, estenderias tuas mãos. Enquanto eu e o Henri...