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A HISTÓRIA DA MINHA VIDA #4: DANDÁ PRA GANHAR TEM-TEM


Meu irmão Henrique nasceu no dia 12 de outubro de 1987, dia das crianças, portanto. Não poderia haver data mais adequada para a vinda de um irmão caçula, o qual sempre comemoraria seu aniversário em um feriado. Aliás, falando em feriado, sou o único da minha família que não teve esse privilégio. Além do meu irmão, minha mãe comemora o aniversário no dia 25 de dezembro (natal), enquanto o meu pai, em 15 de outubro. Tudo bem, em relação ao meu pai, o “feriado” vale apenas para professores e, consequentemente, escolas, universidades, etc, mas para a minha lógica infanto-juvenil era tecnicamente um feriado o seu aniversário, ainda que ele próprio trabalhasse normalmente no “seu” dia. Logo, sempre me senti um pouco revoltado quanto a isso. Afinal, por que eu, apenas eu, não nasci em um dia tido como especial? Minha mãe dizia: “Ah, meu filho, você nasceu no dia do aniversário do Tio Bóris...”. Certo, mas o dia do Tio Bóris não é feriado!

Enfim, passado o desabafo acerca do fato de que meu aniversário não caiu em nenhum feriado, voltemos ao meu irmão Henrique. Não lembro o dia ou as circunstâncias de seu nascimento, tampouco do período em que minha mãe estava grávida. Sei que ele veio prematuro, provavelmente porque o Vô Padrinho quase levou um tombo, assustando minha mãe, que realizou um movimento brusco para evitar a queda. Sua bolsa não estourou naquele momento, o que se deu na madrugada seguinte.

Considerando o horário em que teve início o trabalho de parto, meu Tio Guima, que viria a ser o padrinho do Henrique, foi despertado pelos meus pais e veio à nossa casa para cuidar de mim e do Vô Padrinho, a fim de que meus genitores pudessem correr para o hospital com “tranquilidade”. Tio Guima havia tomado alguns remédios para dormir, encontrando-se um verdadeiro “zumbi” naquele momento. Assim, exerceu com zelo o encargo de guardião do meu lar, dormindo profundamente sobre o lençol encharcado de líquido amniótico da cama dos meus pais, enquanto um anjo da guarda de fato cuidava de mim com uma mão, evitando que eu incendiasse a casa, enquanto com a outra impedia que Vô Padrinho se desmontasse. Ah, e com suas asas cuidava do desmaiado Tio Guima. De qualquer forma, todos sobrevivemos.

Voltando às minhas próprias lembranças, minhas recordações mais remotas já são preenchidas sob a companhia daquele que, graças a Deus, posso considerar o meu melhor amigo. Não me recordo, por exemplo, do dia em que ele me arranhou de tal maneira que me deixou com uma cicatriz visível até hoje em minha testa, nem de outras tantas histórias em comum que vivemos na época em que minha mente não era capaz de registrar nada que pudesse ser aproveitado como uma verdadeira lembrança.

A recordação mais remota do meu bódi (versão simplificada de brother – irmão, em inglês) é de um dia em que ele teria começado a engatinhar. Na verdade, não sei se ele já engatinhava e eu e minha mãe estávamos incentivando-o a fazê-lo novamente, mas lembro muito bem do momento em que o motivávamos cantando o célebre chavão de Paulo Silvino em sua atuação no programa de TV “Escolinha do Professor Raimundo”, estrelada pro Chico Anysio: “Dandá! Dandá! Dandá para ganhar tem-tem!”. Enquanto “cantávamos” o chavão, meu irmão engatinhava, sorridente, na nossa direção.

E essa é a recordação mais antiga do meu irmão e melhor amigo, Henrique.

Comentários

  1. Para variar, revivi os momentos! Quanto tempo! Excelente memória e lembranças! Muito engraçado o " tio Guima Zumbi"....dandá-dandá prá ganhar tem tem.....

    ResponderExcluir
  2. Para variar, revivi os momentos! Quanto tempo! Excelente memória e lembranças! Muito engraçado o " tio Guima Zumbi"....dandá-dandá prá ganhar tem tem.....

    ResponderExcluir
  3. Querido Renan
    Parece que foi ontem.
    Eu cuidando de ti e do vô Padrinho, mais uma noite acordado, bem que esta teve um motivo justo...
    Mas valeu a pena,
    Certamente as lições daquela noite estão presentes em tua vida...
    Bem, mas falando mais sério ( kkk ), parabéns voltei ara aquele momento, tão especial e de maneira inteligente, sensível e com muito humor.
    Parabéns e continua recordando , vale a pena, é muito gostoso e são lições e momentos que permanecem conosco e nos fazem ter sucesso, como pais e profissionais.
    Um enorme beijo
    Guima

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