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1917 E SUA AULA SOBRE CORAGEM

 


De onde vem a coragem? E o que torna corajoso o covarde? Aquilo que vem de seu espírito, o contexto, o testemunho da bravura do próximo, ou a mistura de tudo isso em uma jornada? São essas as questões abordadas no maravilhoso “1917”, um dos melhores filmes de guerra de todos os tempos.

 Tecnicamente original e muito bem feita, a produção será lembrada para sempre pelo seu primor e sua capacidade de edificar o público. Ambientado na Primeira Guerra Mundial no período conhecido como “Guerra de Trincheiras”, o filme, que cuida de uma missão que deve ser cumprida por dois entrincheirados oficiais ingleses em menos de 24 horas, traz muitas lições valiosas, todas centradas na ideia da construção de um caráter corajoso.

 Na obra, essa coragem é construída a partir do testemunho do corajoso, ou seja, o covarde é inicialmente motivado pela determinação do valente. Sem esse testemunho, o medo jamais seria desanuviado. O segundo passo da assimilação dessa virtude passa pelo sacrifício do bravo, arriscando a própria vida para salvar o covarde. Depois desses dois momentos, o temeroso já está diferente, e sua grande motivação não é apenas seguir adiante, mas seguir em nome dos valores defendidos, com coragem, pelo primeiro. O inferno da jornada o moldará, a Providência será o tempero da sua esperança, e a urgência do dever o impedirá de se entregar à desolação. No caminho, a fim de assumir definitivamente a coragem, é preciso despir-se daquilo que evidentemente não é necessário. Por fim, já assimilada e convertida no próprio ser, a coragem, antes um objetivo, agora é o impulsionador para o cumprimento do dever, custe o que custar.

 “1917” é um filme espetacular para a atualidade e que muito ensina sobre essa tão valorosa virtude. Em tempos de jovens acomodados e egocêntricos e de uma geração que confunde busca pela paz com covardia diante da tirania e da injustiça, a obra se revela fundamental para, quem sabe, ajudar-nos a reajustar a bússola de nossos valores em direção à coragem e abandonarmos as trincheiras de nossos egoísmos.

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