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NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA PEDRA...

 


Já defendi a sabedoria de clichês, afinal, deve haver algo de bom naquilo que é reiteradamente repetido de geração em geração. Porém, há aqueles baseados em percepções equivocadas da realidade, perpetuando-se falsos ensinamentos. Um deles é que um casal não deve dormir até que se chegue a um consenso ou faça as pazes.

 Poucas coisas boas saem de uma cabeça quente. Brigas acontecem, e, por vezes, quanto mais se busca o tal “consenso”, mais intensa se torna a discussão. Ainda que uma das partes, ou mesmo as duas, sinceramente se mostre disposta solucionar a discórdia instaurada, se uma delas, ou ambas, parte de premissas erradas para defenderem seus pontos de vista, a paz baseada na concordância jamais será alcançada. Então, o melhor a fazer é uma retirada estratégica para que, com a cabeça fria, no dia seguinte, se encontre o tal ponto de equilíbrio.

 Acontece que, ainda assim, isso talvez seja inviável. Às vezes não haverá consenso, seja por orgulho, seja pela legítima percepção de ambos os lados de que não há como ceder, não por uma questão de vitória pessoal, mas porque simplesmente representará dizer que 2+2=5. Logo, o que fazer? Perpetuar a briga até que um dos lados peça penico, ou recuar, aceitando uma derrota que, na realidade, não existe?

 É como uma pedra que bloqueia integralmente a passagem do casal. Diante dela, há três alternativas: ficar parado e desistir da jornada, erguê-la e tirá-la do caminho ou escalá-la. A desistência significa o fim do casamento; erguer a pedra e tirá-la do caminho pode se mostrar impossível, considerando o seu tamanho e o seu peso. Logo, resta escalá-la, e esse deve ser o esforço do casal diante de um impasse. Claro, há aquelas pedras que iminentemente farão a estrada ceder e, nesses casos, não devem ser medidos esforços e sacrifícios para retirá-las, mas a maioria delas, convenhamos, é escalável.

 Após uma noite de sono e de cabeça fria e coração quente, é preciso refletir se aquela pedra, se aquela discordância representa algo vital ou nada mais do que uma picuinha. Afinal, do que adianta sairmos vencedores de discussões vãs se o troféu for o rompimento do matrimônio? Amanheça disposto a escalar aquilo que parece grande aos seus olhos, mas pequeno para o que representa o seu amor.

*Imagem: https://www.ihikesandiego.com/harper-cabin-and-dams-anza-borrego/rock-blocking-the-way/

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