INSPIRAÇÃO, POR ONDE ANDAS?

Como já é possível perceber, estou há muito tempo sem escrever por aqui. Não é apenas por esse canal: eu realmente não mais tenho conseguido palavras para expressar, por meio de textos, meus pensamentos (e garanto que não são poucos!). É interessante que, falando, ou melhor, dialogando com alguém, eu consigo trazer à tona diversas reflexões sobre os mais variados assuntos, mas ultimamente tem sido um sacrifício transportá-las para o "papel". 

Estou há poucos dias de férias e resolvi, com o fim de apenas entreter-me, acessar esse meu blog e conferir meus textos antigos. Fiquei impressionado. "Quem é esse que escreve tão bem?", perguntei-me. Sem falsa modéstia, tenho o dom da escrita, ou ao menos tinha, pois parece-me que tal dom "escapou-me pelos dedos", como se o teclado em que digito ou a folha sobre a qual passeia a caneta que venho a empunhar emanassem um sopro de desinspiração, esvaziando a minha mente. "Onde eu estava mesmo...?" é a pergunta recorrente, sucedida por longos minutos em que visualizo a tela branca, com meus dedos posicionados para escrever algo e, quando o faço, acabo por frequentemente apertar a tecla "backspace", deletando boa parte daquilo que fora registrado.

O irônico é que escrever é parte do meu cotidiano e da minha profissão. Sou formado em Direito, e meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) tem mais de 100 páginas, maior, portanto, do que muitas dissertações de mestrado; meu TCC da Especialização em Direito Ambiental é um pouco menor, mas também bate nas 100 páginas; finalmente, minha dissertação de mestrado possui quase 200 páginas. Além disso, possuo vários artigos científicos publicados, e todos os dias escrevo diversas peças jurídicas, dos mais variados tipos e áreas, desde Direito de Família até Direito Penal, de Direito do Consumidor a Direito Administrativo e assim por diante. Em suma, passo o dia escrevendo, e apesar de se tratarem, tanto nos exemplos acadêmicos quanto profissionais, de registros técnicos, é preciso, para isso, alguma criatividade, pois não somos robôs, e o vazio reflexivo e discursivo acaba resultando em incompetência quando da transmissão de alguma ideia. Além disso, já escrevi DOIS romances (sim, o livro "A Tábua-Guia", segundo volume da minha trilogia "A Armadura", está pronto há TRÊS anos, mas por falta de verba ainda não foi possível publicá-lo), o primeiro com 150 páginas (considerando sua fonte original - Times New Roman) e o segundo, com quase 400 páginas, tendo como referência a mesma fonte.

Todavia, percebi que, com o passar dos dias e o gradual sufocamento de meu tempo livre, o que é justificado por questões superiores, como os cuidados com minha filhinha de quase um ano de idade, investimento em saltos profissionais (o que demanda estudos de madrugada ou até tarde da noite), fora o tempo enclausurado no necessário ambiente de trabalho do qual provém o pão de cada dia, minha inspiração se perdeu. Onde ela está?

Olho pela janela e visualizo a dança do farfalhar das folhas das árvores e não a encontro entre seus galhos ou atrás do verde de seus domos; observo o céu azul e o sol ofusca a minha procura quando olho para o alto; repito o movimento em dias cinzentos, mas aí são as nuvens que insistem em escondê-la de mim; olho para o chão e tudo o que enxergo é a minha proeminente barriga, que além de crescente e peluda, agora já é dotada de alguns solitários e assustadores pelos brancos; viro-me para a direita e enxergo o Olavo de Carvalho e sua reflexões por vezes interessantes, realistas e verdadeiras, por outras chatas, repetitivas e aparentemente equivocadas, as quais acabam por tomar o meu tempo, seja para aplaudi-las, seja para criticá-las; volto-me para a esquerda e enxergo uma histeria promovida por mau-caratismo de muitos e entorpecimento coletivo de outros tantos e sua incapacidade ou falta de vontade de refletir com honestidade intelectual acerca de tantos temas, o que, igualmente, me faz perder tempo demais para criticá-los ou refletir sobre seus posicionamentos; enfim, olho para trás, e vejo o meu passado, a minha história, o que me fez, em todos os sentidos, chegar até aqui. Então, encontro a minha inspiração.

Ela está na minha filha linda e maravilhosa, um presente de Deus, manifestada em cada sorriso, em cada tentativa de falar alguma palavra, em cada movimento, em cada brincadeira, em cada pequena coisa que faz jus ao seu nome: Glória; ela está no amor, na beleza e no companheirismo da minha esposa Roberta; ela está na dedicação, na compreensão e no sacrifício de meus pais; na parceria e na amizade incalculável de meu irmão e no brilho da família que ele formou; no amor da família da minha sogra e na sua união; na força de meus irmãos na fé; na lealdade de meus amigos; nos propósitos que percebo residir em mim em relação àquilo que a vida me reserva; na beleza da natureza e no espetáculo da Criação; no exemplo de grandes pessoas, algumas anônimas para a sociedade, mas tão próximas de mim, outras ilustres e globalmente conhecidas, mas a quem devemos, em certa medida, a existência de nossa civilização graças a sua dedicação, convicção e sacrifício; e em Deus e seu incomensurável amor e misericórdia.

Eis a minha inspiração. Ela é intocável, pois ainda que se perca materialmente, consumida pela extinção da vida, ainda assim será imortal e vívida no meu interior, sendo que uma delas, a de Deus, é e sempre será eterna, inclusive quando nem eu mais estiver aqui.

Encontrei a minha inspiração. Obrigado por me ajudarem nessa tarefa. Acho que estou pronto para voltar a escrever.