Na verdade, estou lendo “O mínimo que você deveria saber para não ser um idiota”, coletânea de artigos jornalísticos do filósofo organizada por Felipe Moura Brasil em 2013, mas como ainda não terminei minha jornada pelas “Memórias da Segunda Guerra Mundial”, de Winston Churchill, inclino-me sobre o livro de Olavo de Carvalho apenas naquela horinha da manhã em que meu intestino funciona. Um artiguinho e deeeeeeu. Enfim, um detalhe de minha vida privada na privada. De qualquer forma, o que quero dizer é que não mergulhei de cabeça na obra e no pensamento do autor, de modo que minha visão a seu respeito ainda é muito limitada por seus vídeos publicados no YouTube. Mesmo assim, é possível verificar que a cruzada (legítima, diga-se de passagem) de Olavo é cultural, e ele está certo, afinal, a única maneira de transformar uma sociedade é transformando sua cultura. A transformação da cultura faz as mudanças virem de baixo para cima, de dentro para fora, uma modificação que se torna muito mais sólida e enraizada, com grande resistência a imposições políticas e de força. Para tanto, é preciso tempo, e a pluralidade de um ambiente político democrático estão nesse contexto.
![]() |
"O Mínimo..." e "O imbecil..." são as obras mais populares de Olavo de Carvalho. |
![]() |
Pensamento de Antônio Gramsci domina a cultura ocidental contemporânea |
Como já exaustivamente destacado, o grande objetivo de Olavo de Carvalho é transformar a cultura nacional segundo a sua visão de mundo, o que é legítimo, repito. Entretanto, como também já referido, uma transformação cultural sólida precisa estar enraizada na sociedade. Isso já vem acontecendo, e sua prova é a eleição de Bolsonaro e de uma razoável mudança nas fotografias do Congresso Nacional. No entanto, a política ainda é dinâmica e feita por pessoas em um ambiente plural e democrático, e quando falo isso nem estou indo aos “extremos” de esquerda e direita, ou de situação e oposição, mas me refiro às diferenças de opiniões específicas sobre determinados assuntos, o que é motivado não necessariamente por ideologia, mas por aspectos práticos, de experiência própria de vida ou, ainda, por interesses pessoais. Faz parte, e desde que o mundo é mundo, seja aqui, no Japão, na Noruega, na Inglaterra ou em qualquer outro lugar, nunca haverá uma unidade de pensamento e de ações. Logo, é natural que, ainda que o núcleo ao redor de Bolsonaro possa concordar com a visão de mundo de Olavo de Carvalho, ainda assim não será possível aplicá-lo em meia dúzia de canetaços, devendo-se aceitar a pluralidade inererente à democracia e a diferentes posições individuais, as quais, evidentemente, não podem, no governo, ser antagônicas ao ponto de inviabilizar ou descaracterizar objetivos centrais delineados e que são amparados por valores básicos previamente estabelecidos.
A visão cultural marxista precisou de quase sessenta anos para se enraizar solidamente não apenas na sociedade brasileira, mas em todo o mundo ocidental. Assim, a “revolução cultural” sonhada por Olavo de Carvalho, ainda mais em uma sociedade democrática, não se dará em um governo, tampouco em dois. Trata-se de algo gradual que possivelmente demande um terço de século ou até mais. Olavo fez a sua parte e, intelectualmente, segue fazendo, cabendo à sociedade, através dos cada vez mais amplos e públicos debates que venham a surgir, inclinar-se mais para o seu lado ou para aquele defendido pelos marxistas. Acredito que muito de sua visão de mundo venha a prevalecer, mas também que muito não se aproveitará. De quaquer forma, o “filósofo do momento” deve aceitar que a transformação a que visa, caso bem sucedida, se dará aos poucos, e que, assim como ocorreu com Antonio Gramsci, o grande influenciador de nossa cultura ocidental contemporânea, talvez não venha a efetivamente vivenciá-la.
Comentários
Postar um comentário