O melhor lugar do mundo é dentro de um abraço. Porém, dele estamos exilados. Tanto o velho quanto o novo, mesmo o apaixonado, hesita em abraçar. Todos estão medrosos. Prossegue a pandemia, ninguém aguenta mais, quase tudo é permitido, mas o abraço está proibido. Será a última atividade a ser liberada.
Do melhor lugar do mundo, seguimos exilados. Muitos continuam solitários e todos estamos carentes. O inverno começou antes do outono, invadiu a primavera, e nos vemos fora do lugar onde sempre é quente.
Muito do que a gente sofre, com abraço se resolve. Mas e quando tudo o que se espera ou sonha é o próprio abraço? Onde vamos encontrar essa resposta? Fora do abraço? Ela poderá fazer sentido, mas sempre será fria como a pandemia que não termina, como as lives solitárias gravadas pelos artistas em suas cozinhas, como as chamadas de vídeo com os queridos que moram logo ali, na esquina.
As ruas aos poucos retomam seu movimento, mas as pessoas que nelas circulam o fazem mudas e caladas. No silêncio, a maioria mantém o compromisso de se manter distante do próximo. E do melhor lugar do mundo, seguimos exilados, pois estamos fora do abraço, onde apenas se ouve o tique-taque do relógio e se leem as notícias sobre quando vem a tal vacina. Enquanto isso, buscamos uma luz, esperando que em breve tudo ficará melhor e rostos poderão repousar livremente sobre o peito amado, quando os corações cantarão juntos, em descompasso.
Falta pouco para o fim do pesadelo, quando todo esse sofrimento terá se dissolvido no primeiro abraço despreocupado, quando sentiremos o calor e o perfume daquilo que esperamos. É com isso que sonhamos! Até lá, do melhor lugar do mundo, seguiremos exilados, e a tristeza continuará assombrando as solitárias alegrias, uma tristeza que nos impede de abraçar na chegada, que nos impede de abraçar, também, na partida.
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