Pular para o conteúdo principal

EXILADOS DO MELHOR LUGAR DO MUNDO

 

O melhor lugar do mundo é dentro de um abraço. Porém, dele estamos exilados. Tanto o velho quanto o novo, mesmo o apaixonado, hesita em abraçar. Todos estão medrosos. Prossegue a pandemia, ninguém aguenta mais, quase tudo é permitido, mas o abraço está proibido. Será a última atividade a ser liberada.


Do melhor lugar do mundo, seguimos exilados. Muitos continuam solitários e todos estamos carentes. O inverno começou antes do outono, invadiu a primavera, e nos vemos fora do lugar onde sempre é quente.


Muito do que a gente sofre, com abraço se resolve. Mas e quando tudo o que se espera ou sonha é o próprio abraço? Onde vamos encontrar essa resposta? Fora do abraço? Ela poderá fazer sentido, mas sempre será fria como a pandemia que não termina, como as lives solitárias gravadas pelos artistas em suas cozinhas, como as chamadas de vídeo com os queridos que moram logo ali, na esquina.


As ruas aos poucos retomam seu movimento, mas as pessoas que nelas circulam o fazem mudas e caladas. No silêncio, a maioria mantém o compromisso de se manter distante do próximo. E do melhor lugar do mundo, seguimos exilados, pois estamos fora do abraço, onde apenas se ouve o tique-taque do relógio e se leem as notícias sobre quando vem a tal vacina. Enquanto isso, buscamos uma luz, esperando que em breve tudo ficará melhor e rostos poderão repousar livremente sobre o peito amado, quando os corações cantarão juntos, em descompasso.


Falta pouco para o fim do pesadelo, quando todo esse sofrimento terá se dissolvido no primeiro abraço despreocupado, quando sentiremos o calor e o perfume daquilo que esperamos. É com isso que sonhamos! Até lá, do melhor lugar do mundo, seguiremos exilados, e a tristeza continuará assombrando as solitárias alegrias, uma tristeza que nos impede de abraçar na chegada, que nos impede de abraçar, também, na partida.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CASAMENTO É UMA MARATONA

  Ontem o dia foi corrido e realmente não deu para fazer a reflexão a partir de um #tbt. Porém, por que não um #fbf (Flashback Friday)? A vida já é dura demais para condicionarmos lembranças a dias específicos da semana! Pois na quarta-feira escrevi sobre símbolos e me inspirei na linda celebração de casamento que fiz na @loja_loveit, entre a @adrianasviegas e o @tales.viegas e, claro, a lembrança da semana, precisava ser a deles.   Pra quem não sabe, os dois se conheceram e, mais tarde, iniciaram seu namoro a partir de maratonas, e esse esporte muito tem a ensinar quando se fala em relacionamentos e, claro, matrimônio.   Em uma maratona, em meio a confusão da largada, a única certeza é a incerteza acerca do que virá nos primeiros metros ou nos quilômetros finais da prova. Logo nos primeiros passos, é possível que tropecemos em algum atleta que venha a tombar, podemos ficar ansiosos ante a dificuldade em avançar rapidamente, e é difícil prever precisamente qual será o...

Dica de Tiras - High School Comics

Essa tira foi desenhad a por um amigo meu, Rodrigo Chaves, o qual realizou tal trabalho em parceria com outro artista, Cláudio Patto. Acho simplesmente excelente essa série de tiras chamada "High Shool Comics", que trata do cotidiano da vida escolar, sempre com bom humor. Mereceria aparecer todos os dias nos jornais, sem dúvida. Se a visualização não ficou boa, cliquem na imagem. Querem ver mais? Então acessem: http://contratemposmodernos.blogspot.com .

POR QUE A FANTASIA?

  Amanhã é natal, e duas imagens me vêm à cabeça: a do presépio e a do Papai Noel. Claro que a primeira é muito mais importante do que a segunda, mas a nossa cultura está aí e é inevitável pensarmos no barbudinho de vermelho. Quando alimentamos o símbolo do Papai Noel, alimentamos a fantasia, e não se trata de uma fantasia qualquer. As crianças crescem ouvindo sobre ele, o trenó, os duendes, o Polo Norte, a descida pela chaminé e tudo o mais, até que, um dia, vem a aguardada pergunta, o rompimento de uma fronteira do seu amadurecimento, e nada nos resta a não ser dizer a verdade. Lembro-me de quando fiz a pergunta e da tristeza ao ouvir a resposta, recordo-me da reação ainda mais decepcionada e revoltada do meu irmão, e temo por isso quando chegar o momento da revelação para as minhas filhas. Então, por que alimentamos essa fantasia? Tolkien entendia de fantasia. Sem fazer uso de alegorias como as do seu amigo C. S. Lewis, ele queria desenvolvê-la como uma ilustração da Verdade ...