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O MAL NUNCA MORRE

 


No último dia 07 de outubro, Jair Bolsonaro anunciou que acabou com a Lava-Jato porque teria acabado com a corrupção. Apesar de irônica, a declaração do presidente fez menção ao fato de que, no seu governo, ainda não teria tido nenhum caso relativo ao referido crime. Seja lá por que motivos, de fato ainda não havia vindo à tona nenhum caso de esquema criminoso organizado, como se verificou no mensalão e no petrolão, por exemplo, ou, recentemente, no estado do Rio de Janeiro. Contudo, dizer que “acabou” com a corrupção é, por si só, uma mentira. Isso porque ela nunca morre.

Uma semana depois de mais uma polêmica gratuitamente criada pelo Presidente da República, eis que o vice-líder de seu governo no Senado, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), foi flagrado com cerca de 33 mil reais em suas cuecas, além de muito mais em sua residência. Era dinheiro de esquema relativo ao governo federal? Não importa. O fato é que era dinheiro, no mínimo, não declarado e de origem duvidosa. Sujo, certamente era. Algum punzinho (que de inocente, saindo daquele sujeito, não devia ter nada) provavelmente deixou aquela marca de freada em várias notas, que, sem dúvidas, já se encontravam mal-cheirosas.

Casos assim são simbólicos, pois nos trazem para a realidade da vida: o mal nunca morre. Alguns de seus peões ficam pelo caminho, mas ele, o mal, esse é tão forte que somente na volta definitiva de Cristo vai ser extinto, quando todas as coisas serão novas. Ou seja, sua persistência está tão arraigada à natureza humana que não nos permite flertar com qualquer utopia, seja ela qual for. Por isso que a única promessa “plausível” de que o mal um dia será extinto está no campo da fé e transcende a natureza, porque aquele que está entre o céu e a terra é impossível de ser destruído. No máximo, derrotado, mas sempre estará pronto para se reerguer e voltar a nos assombrar.

Lembro que esse conceito de que o mal não morre me marcou ainda na infância. Eu era fã de animes, a começar por Cavaleiros do Zodíaco (CdZ). Na onda de seu sucesso, a Rede Manchete lançou a série Shurato, que nada mais era que uma cópia de CdZ, mas com a temática mitológica hindu. Então, no seu último capítulo, quando o vilão já havia sido derrotado e tudo parecia perfeito, num clima de “viveram felizes para sempre”, eis que um poder sombrio ressurge: o tal “soma negro”, que seria a energia negativa emanada pela maldade bruta. Os heróis não entendiam como aquilo estava acontecendo, afinal, a “maldade” havia sido derrotada. Entretanto, a mensagem final da série é que o “soma negro sempre volta”. É como diz Jesus: “Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca.” (Mateus, 26:41). Reverberando esse ensinamento, o apóstolo Pedro escreveu: “Estejam alertas e vigiem. O Diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar.” (1 Pedro 5:8).

A corrupção é a raiz da maior parte dos nossos problemas quanto ao funcionamento do Estado. Claro, o maior vício é mais profundo, é moral e cultural, mas isso é outra conversa. Agora, o que detona o nosso país diariamente são os casos de corrupção, da pequena à estruturada e organizada. Essa última é até possível de, por um tempo, desmantelar. Mesmo assim, como uma fênix das trevas, das cinzas sempre retorna.

Grandes operações como a Lava-Jato poderão destruir e intimidar a articulação de esquemas de corrupção organizados, e isso é excelente. Também é possível, sim, que um governo consiga, dentro de seus processos internos, impedir que a corrupção seja instaurada de forma “institucional”. Entretanto, do mesmo modo que se mostra inviável extinguir qualquer crime, sempre será impossível acabar com a corrupção.

Onde houver o queijo do poder, sempre existirá o rato da corrupção, e por mais que espalhemos ratoeiras pela casa, ela precisa se manter sempre limpa e higienizada, pois os ratos não morrem, mas apenas aguardam, nas trevas das profundezas, a oportunidade para saírem de suas tocas. Mantenhamo-nos vigilantes, pois o mal nunca morre. Ele apenas dorme.



último episódio de Shurato. É "nerdice", é verdade, mas se trata de uma lição que todos os "utopistas" deveriam aprender.






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