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PORQUE ELA MERECE!

 


Na última quarta-feira (14/10), a jurista Cláudia Lima Marques foi eleita diretora da Faculdade de Direito da UFRGS, e terá como vice a professora Ana Paula Motta Costa. Em seu discurso de posse, Cláudia celebrou “ter sido escolhida como a primeira jurista mulher” para a direção da instituição. Uma referência válida e muito importante, sem dúvidas, e que acabou reverberando junto  à mídia como o elemento mais marcante da referida eleição. Ocorre que o histórico e incontestável fato de ser a primeira mulher a ocupar tal posição acaba por tirar luzes de outra evidência: Cláudia está lá porque merece!

Sou “filho da UFRGS”, e ingressar naquela faculdade não foi fácil. Foram três tentativas em uma época em que eram apenas 70 vagas para o turno da manhã e outras 70 para a noite. Ter passado naquele concorrido vestibular é um dos feitos de que me orgulho muito, e todos que conviveram comigo na época sabem disso. Lá, fiquei decepcionado com a qualidade de alguns professores jurássicos, mas me impressionei com a supremacia de outros e pelo incentivo à pesquisa e ao estudo. Um deles foi a professora Cláudia.

Seu grupo de pesquisa sempre foi um dos mais procurados, e a matrícula para a cadeira que lecionava, de Direito do Consumidor, era muito concorrida. Cláudia Lima Marques é mais do que uma jurista, mas uma instituição que se confunde com o próprio Direito do Consumidor brasileiro. Tê-la na Faculdade de Direito da UFRGS (ou melhor, mantê-la, considerando as presumíveis sondagens mundo afora que devem rodeá-la constantemente) é, por si só, uma prova de seu amor pela pesquisa e pela própria instituição. Um amor que nos faz acreditar na qualidade do ensino e do desenvolvimento acadêmico, especialmente da pesquisa.

Conferir as produções de Cláudia em seu currículo lattes chega a ser cansativo, considerando a extensão. Muitas delas se devem à forma organizada como coordena seus grupos de pesquisa, levando seus discípulos a esmiuçarem as migalhas do Direito do Consumidor, beneficiando, ao final, toda a comunidade acadêmica, jurídica e a sociedade, em si. O Direito do Consumidor pode ter suas aberrações e seus excessos, mas, convenhamos, dotou de um equilíbrio fundamental a relação entre fornecedor e consumidor, e os exageros vêm sendo sopesados, gradualmente, pelo próprio Poder Judiciário, o que é natural. E Cláudia Lima Marques é peça fundamental dessa engrenagem. Como referi, seu nome se confunde com o próprio Direito do Consumidor brasileiro consolidado na atualidade e em constante desenvolvimento.

Sabemos que o cargo de Diretor da Faculdade de Direito é político e a natureza de sua função é a de gestor da instituição, e não de pesquisador ou professor, embora inexista impeditivo (até onde sei) para conciliar as atividades. Logo, não há garantia de que a verdadeiramente ilustre professora e pesquisadora Cláudia Lima Marques será uma boa diretora. Mesmo assim, estou certo de que sua visão é acadêmica e científica, e suas intenções, as melhores possíveis e com grande foco no ensino de seus alunos. Ela possui um viés mais progressista, é verdade, mas ainda que haja aqueles que não concordem com tal visão de mundo, Marques é uma realidade técnica e jurídica. Uma pessoa que fez e faz história no desenvolvimento de uma área tão importante do Direito e está lá, acima de tudo, porque merece.

Cláudia Lima Marques é digna de todos os aplausos por ocupar esse cargo tão importante, e as luzes sobre essa conquista devem estar no mérito daquela que, como disse, é uma notável e fática autoridade do Direito do Consumidor brasileiro. Imagino que outras professoras, ao longo do século, tentaram alcançar o cargo, e é possível que algumas, ou várias, ao fazê-lo, ficaram pelo caminho por preconceito pelo fato de serem do sexo feminino ou por seus eleitores da época simplesmente entenderem que não eram qualificadas o suficiente para a missão. Independentemente disso, devemos reconhecer a importância histórica de se tratar da primeira mulher a ocupar o posto, mas sem ocultar a verdade de que ela não está lá por ser mulher, mas por ser uma mulher que, por tudo o que fez e faz, merece estar lá.

Boa sorte, professora!



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