Pular para o conteúdo principal

A OUTRA ANIVERSARIANTE

 


Não se sabe exatamente o porquê de comemorarmos o natal em 25 de dezembro. Embora não haja nenhuma evidência de que Jesus teria vindo ao mundo nesse dia, o fato é que a escolha de uma data específica para comemorar o seu nascimento se deu por alguma convenção, o que não tira, evidentemente, a importância da celebração.

Acontece que há os que realmente nasceram em 25 de dezembro e que, ano após ano, “concorrem” com aquele que não tem concorrência. Bênção para uns, azar para outros, a verdade é que não é fácil aniversariar nesse dia, o que acaba sempre representando alguma frustração, de convidados ausentes à falta de parabéns; de presentes que se confundem com os de natal ao desinteresse pelo bom e clássico bolo de chocolate ante tantas outras farturas da data.

Sei bem como ´é isso. Minha mãe nasceu no natal de 1958 e, obviamente, sempre nos dividimos em comemorar o seu aniversário e a data que, ao lado da páscoa, é a mais importante do cristianismo. Durante a ceia, a poucos instantes da meia-noite, ela corre para a cozinha, acende uma vela e a crava num bolo. Conta os segundos para a badalada que indicará a entrada do dia 25 e, enquanto muitos já se abraçam desejando feliz natal, ela própria surge puxando o seu parabéns.

Pois hoje, depois de várias crônicas focando no mais importante do natal, não poderia deixar de prestar essa homenagem para essa outra aniversariante do dia 25 de dezembro. Poucos sabem, mas a minha mãe é a pessoa que mais me incentivou a escrever. Desde os tempos da escola, sempre apreciou os meus rabiscos, fossem eles redações, textos livres ou poesias. Nunca o fez de forma cega, mas crítica. Claro, com uma rigidez de mãe, ou seja, sempre apontou falhas, mas nunca deixando a ternura de lado. Sempre acreditou em mim, auxiliando-me das mais diversas formas, tanto na publicação de obras quanto na realização de oficinas literárias e na minha qualificação profissional avançada. Acima de tudo, ela me apoia como filho e como alguém que conhece e que sabe do seu potencial.

Mas minha mãe é mais do que isso. Sua personalidade forte sempre foi um esteio para o meu pai em seus grandes desafios na vida, e posso dizer que ela se sacrificou muito por mim e o meu irmão, especialmente no âmbito profissional. Valeu a pena? Ela, e mais ninguém, diz que sim, sem pestanejar. Invariavelmente presente, sempre transmitindo seus valores, dando sua opinião (doesse ela ou não), ensinando-nos a sermos francos e transparentes. Se há uma virtude indiscutível na minha mãe, algo que, inclusive, a vulnerabiliza, é a sua franqueza, especialmente com os filhos e o marido, ou seja, com quem interessa. Isso sempre permitiu que, em nossa casa, não houvesse ovos a serem pisados, tornando a verdade mais do que a regra, mas o próprio ordenamento de nosso lar.

Nesse natal, minha mãe, a outra aniversariante, também merece todos os aplausos e homenagens. Nada poderá representar o tamanho da minha gratidão. Ela é eterna, assim como meu amor, respeito e orgulho por ter sido gerado em seu ventre.

Feliz aniversário, mãe. Eu te amo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A HISTÓRIA DA MINHA VIDA #1: PRÓLOGO

Toda história tem um prólogo. Não é possível imaginarmos que qualquer fato tenha uma origem em si mesmo, sem nenhum motivo anterior. Nem mesmo o universo (e a sua história) vieram do nada: Deus deu o pontapé inicial, e apenas Ele, Deus, não tem uma razão externa para existir, pois é eterno e fora da natureza. Nossa história não começa no nascimento, mas vem de muito antes. Na verdade, seria possível dizer que, caso quiséssemos, sinceramente, elaborar um prólogo fiel de nossas vidas, seria preciso retornar à origem do universo. No entanto, por razões óbvias, se a ideia é criar alguma introdução para a nossa biografia (ou simples livro de memórias), então imagino que o melhor a fazer é limitá-la aos nossos pais, pois são nossas referências biológicas e sociais mais diretas. Minha vida, ou o projeto que se tornaria a minha vida, começou no dia em que meus pais se conheceram, pois ali se encontrava a grande e objetiva propulsão que resultaria, cerca de dez anos depois, no meu enc...

INSPIRAÇÃO, POR ONDE ANDAS?

Como já é possível perceber, estou há muito tempo sem escrever por aqui. Não é apenas por esse canal: eu realmente não mais tenho conseguido palavras para expressar, por meio de textos, meus pensamentos (e garanto que não são poucos!). É interessante que, falando, ou melhor, dialogando com alguém, eu consigo trazer à tona diversas reflexões sobre os mais variados assuntos, mas ultimamente tem sido um sacrifício transportá-las para o "papel".  Estou há poucos dias de férias e resolvi, com o fim de apenas entreter-me, acessar esse meu blog e conferir meus textos antigos. Fiquei impressionado. "Quem é esse que escreve tão bem?", perguntei-me. Sem falsa modéstia, tenho o dom da escrita, ou ao menos tinha, pois parece-me que tal dom "escapou-me pelos dedos", como se o teclado em que digito ou a folha sobre a qual passeia a caneta que venho a empunhar emanassem um sopro de desinspiração, esvaziando a minha mente. "Onde eu estava mesmo...?" é a pergun...

TIA NOECI, HENRIQUE E EU

  Enquanto eu e o Henrique almoçávamos assistindo ao Chaves e ao Chapolin, lá estavas tu, convencendo o meu irmão a, para a comida, dizer “sim”, antes que eu desse cabo aos restos a serem deixados por ele que, diante de uma colher de arroz e feijão, insistia em falar “não”. Enquanto eu e o Henrique estávamos na escola, durante a manhã, na época do Mãe de Deus, tu arrumavas a bagunça do nosso quarto, preparando-o para ser desarrumado outra vez. Então, quando desembarcávamos da Kombi do Ademir, tu, não sem antes sorrir, nos recebias cheia de carinho e atenção, e dava aquele abraço caloroso que transmitia o que havia no teu coração. Enquanto eu e o Henrique, em tenra idade escolar, tínhamos dificuldades nos deveres de casa, tu estavas lá, nos ajudando a ler, escrever e contar, pois, embora a humildade seja tua maior virtude, ela era muito menor do que tua doação. Sabias que, em breve, não mais conseguirias fazê-lo, mas, até lá, com zelo, estenderias tuas mãos. Enquanto eu e o Henri...