Crônicas, contos, poesias e algo mais.
Por RENAN E. M. GUIMARÃES.
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A PORTA PARA A ESCURIDÃO
Na última sexta-feira, falei sobre
Matrix (1999) e toda a sabedoria envolvida na ideia da pílula vermelha. Um ano
antes, porém, uma obra-prima que aborda a mesma ideia nos foi dada: “O Show de
Truman” (1998).
Estrelada por Jim Carrey, a ficção
conta a história de Truman Burbank, um homem que não sabe que tudo ao seu redor
é uma simulação, tampouco que é a estrela de um reality show produzido em um
mundo cenográfico onde todas as pessoas são atrizes e figurantes, nenhuma amizade
é real, mas encenada, e o próprio céu, o sol e lua são artificiais. Após
algumas “falhas da produção”, ele passa a buscar a verdade.
No clímax do filme, Truman é encarado
pela realidade nua e crua, materializada na voz de Christof (Ed Harris),
criador do programa, onde lhe é ofertado seguir naquele mundo perfeito ou rumar
ao desconhecido do real. Apesar da notável semelhança entre as jornadas de Neo
e Truman, enquanto o primeiro opta pela verdade que literalmente bate à sua
porta, encarando, a partir disso, suas consequências, o foco do segundo está na
luta por liberdade para buscar a verdade, após claros sinais de falsidade, e
esse é o ponto mais realista do filme de Jim Carrey: uma vez vislumbrados,
ainda que nebulosamente, os pequenos sinais da verdade, deve-se ser livre para
dissipar a neblina que a oculta. A angústia no filme está justamente na grande
oposição à exploração do protagonista, simbolizada na perseverança para
simplesmente sair da ilha onde fica a sua cidade. A jornada de Truman não é
pela verdade, mas pela liberdade. O encontro com a verdade é a inevitável
consequência de alguém livre para pensar, falar e, não menos importante, ir e
vir.
O melhor filme de Jim Carrey ensina
que, mais importante do que há por trás da escuridão daquela porta que leva
para fora de um mundo seguro, porém falso e totalitário, é a liberdade para dar
um passo adiante e saber o que há lá. Só encontraremos a verdade se formos
livres para buscá-la, e apenas Deus tem autoridade para dizer que frutos devemos
evitar.
Toda história tem um prólogo. Não é possível imaginarmos que qualquer fato tenha uma origem em si mesmo, sem nenhum motivo anterior. Nem mesmo o universo (e a sua história) vieram do nada: Deus deu o pontapé inicial, e apenas Ele, Deus, não tem uma razão externa para existir, pois é eterno e fora da natureza. Nossa história não começa no nascimento, mas vem de muito antes. Na verdade, seria possível dizer que, caso quiséssemos, sinceramente, elaborar um prólogo fiel de nossas vidas, seria preciso retornar à origem do universo. No entanto, por razões óbvias, se a ideia é criar alguma introdução para a nossa biografia (ou simples livro de memórias), então imagino que o melhor a fazer é limitá-la aos nossos pais, pois são nossas referências biológicas e sociais mais diretas. Minha vida, ou o projeto que se tornaria a minha vida, começou no dia em que meus pais se conheceram, pois ali se encontrava a grande e objetiva propulsão que resultaria, cerca de dez anos depois, no meu enc...
Como já é possível perceber, estou há muito tempo sem escrever por aqui. Não é apenas por esse canal: eu realmente não mais tenho conseguido palavras para expressar, por meio de textos, meus pensamentos (e garanto que não são poucos!). É interessante que, falando, ou melhor, dialogando com alguém, eu consigo trazer à tona diversas reflexões sobre os mais variados assuntos, mas ultimamente tem sido um sacrifício transportá-las para o "papel". Estou há poucos dias de férias e resolvi, com o fim de apenas entreter-me, acessar esse meu blog e conferir meus textos antigos. Fiquei impressionado. "Quem é esse que escreve tão bem?", perguntei-me. Sem falsa modéstia, tenho o dom da escrita, ou ao menos tinha, pois parece-me que tal dom "escapou-me pelos dedos", como se o teclado em que digito ou a folha sobre a qual passeia a caneta que venho a empunhar emanassem um sopro de desinspiração, esvaziando a minha mente. "Onde eu estava mesmo...?" é a pergun...
Enquanto eu e o Henrique almoçávamos assistindo ao Chaves e ao Chapolin, lá estavas tu, convencendo o meu irmão a, para a comida, dizer “sim”, antes que eu desse cabo aos restos a serem deixados por ele que, diante de uma colher de arroz e feijão, insistia em falar “não”. Enquanto eu e o Henrique estávamos na escola, durante a manhã, na época do Mãe de Deus, tu arrumavas a bagunça do nosso quarto, preparando-o para ser desarrumado outra vez. Então, quando desembarcávamos da Kombi do Ademir, tu, não sem antes sorrir, nos recebias cheia de carinho e atenção, e dava aquele abraço caloroso que transmitia o que havia no teu coração. Enquanto eu e o Henrique, em tenra idade escolar, tínhamos dificuldades nos deveres de casa, tu estavas lá, nos ajudando a ler, escrever e contar, pois, embora a humildade seja tua maior virtude, ela era muito menor do que tua doação. Sabias que, em breve, não mais conseguirias fazê-lo, mas, até lá, com zelo, estenderias tuas mãos. Enquanto eu e o Henri...
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