NÚMENOR E O MAL QUE VEM DE DENTRO

Poucas séries são mais aguardadas do que a produção de “O Senhor dos Anéis” que vem sendo desenvolvida pela Amazon Prime. Com lançamento previsto para 02/09/2022, a história se passará durante o período classificado por Tolkien como a Segunda Era, e certamente abordará o Reino de Númenor, vulgarmente chamado de a “Atlântida” do criador da Terra-Média.

A história de Númenor, relatada no conto “Akallabêth” (presente em “O Silmarillion”), fala, em resumo, de uma civilização humana não apenas técnica, mas moralmente avançada, erguida após os traumas da grande guerra travada contra Morgoth, o primeiro Senhor do Escuro. Sauron, o braço-direito de Morgoth, após uma série de eventos, em vez de resistir, entregou-se, sendo levado em cativeiro para Númenor, onde, aos poucos, apresentando-se com brilho e beleza, e não em sua bestialidade original, a seduziu e corrompeu, levando-a ao seu colapso.

Como a lenda de Atlântida, a de Númenor trata da submissão do homem ao seu suposto autoconhecimento, e de sua cegueira em relação à verdade revelada pela Criação. A versão de Tolkien, porém, traz um aspecto menos abstrato para essa corrupção do espírito a partir do arquétipo de Sauron, que, embora maligno, se apresenta de uma maneira bela e sedutora. A forma bruta do que representa falhou, caiu. Astuto, resolve entrar nos corações dos homens através de palavras que, apesar da beleza, contêm o veneno da insurgência não expressamente contra a Luz, mas à suposta injustiça na verdade por ela iluminada e refletida na forma de mandamentos.

Eis a grande provocação de Tolkien: o mal nem sempre se apresenta em sua forma original, pois ela assusta e repugna. Portanto, a fim de tocar os corações dos homens e arregimentá-los, ele se disfarça, seduz e, o que é pior, finge concordar com nossos princípios para, aos poucos, corromper nossos valores e usurpar dons em favor das trevas.

Não há dúvidas de que, em muitas áreas do conhecimento e do cotidiano, Sauron, com sua face bela e discurso sedutor, está entre nós. A pergunta é: para onde seus ensinamentos nos levarão? Para Tolkien, já há resposta.

*Imagem: https://blue-phoenix-rpg.fandom.com/pt-br/wiki/Ar-Pharaz%C3%B4n

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