Crônicas, contos, poesias e algo mais.
Por RENAN E. M. GUIMARÃES.
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O SONO DO MAL*
Na
onda do sucesso de “Os Cavaleiros do Zodíaco”, a Rede Manchete lançou a série
Shurato, que nada mais era que uma cópia de CdZ, mas com a temática mitológica
hindu. O programa, embora não tenha sido espetacular, trouxe uma preciosa lição
em seu último capítulo (Episódio 38).
Tudo
parecia perfeito, num clima de “viveram felizes para sempre”. Então, um poder
sombrio ressurge: o “soma negro”, que seria a energia negativa emanada pela
maldade bruta que haveria em cada ser vivo. Os heróis não entendiam como aquilo
estava acontecendo, afinal, a “maldade” havia sido derrotada, o vilão, vencido.
Entretanto, a mensagem final da série é que o “soma negro sempre volta”. Será?
Por acaso não haverá o ocaso do mal?
Shurato, dialogando, aparentemente, com o espírito de Gai, seu melhor amigo no início da série que, depois de convertido em seu arqui-inimigo, voltou-se novamente para a bondade no final, sacrificando-se para salvar o protagonista, disse ter descoberto que "todas as coisas desse mundo tem o soma negro dentro de si". Gai complementa: "E todas elas temem a sombra desse soma negro que tem dentro de si e lutam com todas as forças pra não caírem sob seu fascínio. É uma luta dolorosa e sem fim". Ao que Shurato conclui: "O homem, ou qualquer ser vivo na natureza, que despertar o seu soma negro, poderá se tornar um segundo ou terceiro Shiva", fazendo menção ao aparentemente derrotado deus vilão da série, cuja voz, na forma de uma lembrança, ecoa na mente do herói, dizendo: "O soma negro é apenas o espírito do mal que existe dentro de cada um de nós. O que eu faço é despertar esse soma".
O
bem é como uma linda flor que precisa ser regada com frequência, plantada em um
solo adequado, exposta corretamente à luz, podada com precisão e livrada das
ervas daninhas que crescem ao seu redor. Caso contrário, logo murchará, secará
e apenas restará a lembrança de sua beleza. É assim em nossos namoros,
casamentos, amizades, família como um todo e qualquer tipo de relacionamento. É
assim no trabalho, na política, nas lutas de todos os dias. Acima de tudo, é assim com nós mesmos.
“Vigiem
e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é
fraca.” (Mateus, 26:41). Reverberando esse ensinamento de Jesus, o apóstolo
Pedro escreveu: “Estejam alertas e vigiem. O Diabo, o inimigo de vocês, anda ao
redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar.” (1 Pedro 5:8).
Não
basta superarmos o que obscurece nossas almas e a vida ao redor. Às vezes, vencer
a guerra pode até ser fácil. Difícil mesmo é manter a paz e evitar que aquilo
que motivou o conflito seja solapado (olhem o Afeganistão aí...). Aos que têm fé,
há a certeza de que, um dia, a vitória será definitiva. Porém, até lá, o mal apenas
dorme. Portanto, frutifiquemos as virtudes, pois ele sempre poderá ser despertado
pelo ruído dos vícios e o cheiro da comida temperada com nossos erros. A
maldade se alimenta do veneno que nos mata.
* Em outubro de 2020, esse mesmo episódio de Shurato motivou a crônica "O mal nunca morre", que apontava a "imortalidade" do fenômeno da corrupção. Alguns elementos daquele texto foram reproduzidos aqui.
Toda história tem um prólogo. Não é possível imaginarmos que qualquer fato tenha uma origem em si mesmo, sem nenhum motivo anterior. Nem mesmo o universo (e a sua história) vieram do nada: Deus deu o pontapé inicial, e apenas Ele, Deus, não tem uma razão externa para existir, pois é eterno e fora da natureza. Nossa história não começa no nascimento, mas vem de muito antes. Na verdade, seria possível dizer que, caso quiséssemos, sinceramente, elaborar um prólogo fiel de nossas vidas, seria preciso retornar à origem do universo. No entanto, por razões óbvias, se a ideia é criar alguma introdução para a nossa biografia (ou simples livro de memórias), então imagino que o melhor a fazer é limitá-la aos nossos pais, pois são nossas referências biológicas e sociais mais diretas. Minha vida, ou o projeto que se tornaria a minha vida, começou no dia em que meus pais se conheceram, pois ali se encontrava a grande e objetiva propulsão que resultaria, cerca de dez anos depois, no meu enc...
Como já é possível perceber, estou há muito tempo sem escrever por aqui. Não é apenas por esse canal: eu realmente não mais tenho conseguido palavras para expressar, por meio de textos, meus pensamentos (e garanto que não são poucos!). É interessante que, falando, ou melhor, dialogando com alguém, eu consigo trazer à tona diversas reflexões sobre os mais variados assuntos, mas ultimamente tem sido um sacrifício transportá-las para o "papel". Estou há poucos dias de férias e resolvi, com o fim de apenas entreter-me, acessar esse meu blog e conferir meus textos antigos. Fiquei impressionado. "Quem é esse que escreve tão bem?", perguntei-me. Sem falsa modéstia, tenho o dom da escrita, ou ao menos tinha, pois parece-me que tal dom "escapou-me pelos dedos", como se o teclado em que digito ou a folha sobre a qual passeia a caneta que venho a empunhar emanassem um sopro de desinspiração, esvaziando a minha mente. "Onde eu estava mesmo...?" é a pergun...
Enquanto eu e o Henrique almoçávamos assistindo ao Chaves e ao Chapolin, lá estavas tu, convencendo o meu irmão a, para a comida, dizer “sim”, antes que eu desse cabo aos restos a serem deixados por ele que, diante de uma colher de arroz e feijão, insistia em falar “não”. Enquanto eu e o Henrique estávamos na escola, durante a manhã, na época do Mãe de Deus, tu arrumavas a bagunça do nosso quarto, preparando-o para ser desarrumado outra vez. Então, quando desembarcávamos da Kombi do Ademir, tu, não sem antes sorrir, nos recebias cheia de carinho e atenção, e dava aquele abraço caloroso que transmitia o que havia no teu coração. Enquanto eu e o Henrique, em tenra idade escolar, tínhamos dificuldades nos deveres de casa, tu estavas lá, nos ajudando a ler, escrever e contar, pois, embora a humildade seja tua maior virtude, ela era muito menor do que tua doação. Sabias que, em breve, não mais conseguirias fazê-lo, mas, até lá, com zelo, estenderias tuas mãos. Enquanto eu e o Henri...
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