O ano de 1994 foi especial para mim. Talvez tenha sido o momento em que o mundo, aos meus olhos, tornou-se "maior que o meu quarto", e devo isso ao futebol.
Era ano de Copa do Mundo e, na época, meus pais eram assinantes do jornal "Folha de S. Paulo", do qual encomendaram um "pacote" chamado "Folha conta 40 anos de Copa". Nele estavam inclusos uma fita de vídeo e uma série de fascículos, os quais contavam os tais 40 anos de Copa do Mundo, além de um pôster enorme que exibia um mapa múndi no qual destacavam-se os países que participariam do Mundial dos EUA. No pôster havia espaços para colar figurinhas alusivas às seleções de futebol, e também uma tabela com dados das nações, como capital, moeda e idioma. Para mim, era como uma enciclopédia colada na parede do meu quarto.
Tudo isso para dizer que havia um Renan a.C e outro d.C, ou seja, antes da Copa e depois da Copa de 1994. O Renan d.C. passou a se interessar pelo mundo ao redor e sua respectiva História, e o mesmo em relação ao futebol, o qual, agora, era calcado em História. A conquista da Copa do Mundo pelo Brasil encheu-me de euforia quanto ao futebol, e a sensação gloriosa da vitória esportiva era algo que eu gostaria de experimentar muitas vezes. E o Grêmio da época dava mostras de que supriria essa minha necessidade.
O Grêmio estava na final da Copa do Brasil e nfrentaria o Ceará. Recordo-me bem de ter acompanhado, via rádio, sua classificação ante o Vasco da Gama, regada do seguinte grito/refrão entoado pelo narrador: "Nildo: o matador!". O jogo de ida da decisão, em Fortaleza, foi um apático 0 x 0, transmitido pela extinta Rede Manchete. Meu pai dormiu o tempo todo. Eu tentei prestar atenção naquela chatice, mas foi difícil.
O fato é que a finalíssima seria em Porto Alegre e, menos de um ano depois da minha última visita, voltaria ao Olímpico, e para presenciar a primeira decisão futebolística da minha vida. Mais uma vez nossa família compareceria com formação completa.
O dia era 10/08/1994, e lembro-me que havia passado a tarde na casa de um ex-colega, Giovane (ou Giovanni, ou Geovanni, não importa...), onde comemoramos o seu aniversário. Meus pais buscararam-me antes que o sol se pusesse, e partimos em direção ao templo tricolor. Estávamos atrasados, o jogo começaria logo, e meu pai não encontrava vaga próxima ao estádio para estacionar. Razoavelmente longe dali, viu uma. Quando estava parando o carro, apareceu um flanelinha, que lhe disse que cobraria cinco reais adiantado para guardar o veículo.
- Cinco reais? CINCO REAIS? - perguntou meu pai, enquanto cuspia fogo de tão irado. Vejam bem: estávamos em 1994, e cinco reais na época, hoje, equivaleriam a uma nota preta. - Vou embora daqui e chamar a Brigada Militar! - avisou.
- Pode ir que eu espero aqui, magrão! - respondeu o flanela.
Meu pai saiu cantando pneu, em busca de uma outra vaga. O brigadiano teria que ficar para depois. Enquanto isso, o jogo já havia começado e o Grêmio pressionava. Todos estávamos ansiosos, até que, enfim, estacionamos o nosso carro. No entanto, ainda teríamos dez minutos de caminhada pela frente. Quando nos aproximávamos das catracas de ingresso ao interior do estádio, o grito de gol ecoou como uma explosão. O chão tremeu, a parede tremeu, meu coração tremeu e, embora eu não me lembre com certeza, tudo indica que minha mãe disse algum palavrão, indignada com o nosso atraso.
Finalmente entramos. Dirigimo-nos rapidamente às cadeiras laterais, situadas atrás de uma das goleiras, cuja parte mais superior era de gremistas, mas a inferior era toda composta por torcedores do Ceará, com bandeira e tudo. Hoje isso parece estranho, mas até aquela época a convivência entre as torcidas parecia pacífica. Parecia. Não houve briga ou confusão, mas uma provocação nauseante.
Estávamos sentados bem no meio do bloco de cadeiras, no que poderia ser descrita como a linha fronteiriça entre os torcedores do Ceará e os do Grêmio. Então, alguém gritou:
- Olha o mijo!
E o copo voou por cima de nossas cabeças. Se eu dissesse que senti pingos mornos e fétidos sobre a minha cabeça estaria mentindo, mas os torcedores do Ceará não. Devem ter sido uns dois ou três copos arremessados, mas pelo menos um acertou em cheio algum dos alvi-negros nordestinos. Na época, na minha idiotice infantil, achei aquilo divertido, mas hoje, inegavelmente e sem medo de ser chamado de politicamente correto, lamento aquele fato. Graças a Deus que as vítimas dos copos de urina não eram loucas ao ponto de reagir, e acharam mais seguro aguentar o fedor até o fim do jogo em que Nildo, o matador, nos dera o gol do título.
O grande legado desta partida, além da lição de nunca mais ficar no fogo (ou xixi?) cruzado entre torcidas, é que foi a primeira na qual comemorei um título no Olímpico. Também foi a partir dela que comecei a memorizar o nome daqueles atletas que fariam História no Grêmio, como Danrlei, Roger, Émerson, Carlos Miguel e o próprio Nildo, que embora viesse a perder espaço com a vinda de Jardel, no ano seguinte, ainda nos presentearia com outros gols importantes.
Era ano de Copa do Mundo e, na época, meus pais eram assinantes do jornal "Folha de S. Paulo", do qual encomendaram um "pacote" chamado "Folha conta 40 anos de Copa". Nele estavam inclusos uma fita de vídeo e uma série de fascículos, os quais contavam os tais 40 anos de Copa do Mundo, além de um pôster enorme que exibia um mapa múndi no qual destacavam-se os países que participariam do Mundial dos EUA. No pôster havia espaços para colar figurinhas alusivas às seleções de futebol, e também uma tabela com dados das nações, como capital, moeda e idioma. Para mim, era como uma enciclopédia colada na parede do meu quarto.
Tudo isso para dizer que havia um Renan a.C e outro d.C, ou seja, antes da Copa e depois da Copa de 1994. O Renan d.C. passou a se interessar pelo mundo ao redor e sua respectiva História, e o mesmo em relação ao futebol, o qual, agora, era calcado em História. A conquista da Copa do Mundo pelo Brasil encheu-me de euforia quanto ao futebol, e a sensação gloriosa da vitória esportiva era algo que eu gostaria de experimentar muitas vezes. E o Grêmio da época dava mostras de que supriria essa minha necessidade.
O Grêmio estava na final da Copa do Brasil e nfrentaria o Ceará. Recordo-me bem de ter acompanhado, via rádio, sua classificação ante o Vasco da Gama, regada do seguinte grito/refrão entoado pelo narrador: "Nildo: o matador!". O jogo de ida da decisão, em Fortaleza, foi um apático 0 x 0, transmitido pela extinta Rede Manchete. Meu pai dormiu o tempo todo. Eu tentei prestar atenção naquela chatice, mas foi difícil.
O fato é que a finalíssima seria em Porto Alegre e, menos de um ano depois da minha última visita, voltaria ao Olímpico, e para presenciar a primeira decisão futebolística da minha vida. Mais uma vez nossa família compareceria com formação completa.
O dia era 10/08/1994, e lembro-me que havia passado a tarde na casa de um ex-colega, Giovane (ou Giovanni, ou Geovanni, não importa...), onde comemoramos o seu aniversário. Meus pais buscararam-me antes que o sol se pusesse, e partimos em direção ao templo tricolor. Estávamos atrasados, o jogo começaria logo, e meu pai não encontrava vaga próxima ao estádio para estacionar. Razoavelmente longe dali, viu uma. Quando estava parando o carro, apareceu um flanelinha, que lhe disse que cobraria cinco reais adiantado para guardar o veículo.
- Cinco reais? CINCO REAIS? - perguntou meu pai, enquanto cuspia fogo de tão irado. Vejam bem: estávamos em 1994, e cinco reais na época, hoje, equivaleriam a uma nota preta. - Vou embora daqui e chamar a Brigada Militar! - avisou.
- Pode ir que eu espero aqui, magrão! - respondeu o flanela.
Meu pai saiu cantando pneu, em busca de uma outra vaga. O brigadiano teria que ficar para depois. Enquanto isso, o jogo já havia começado e o Grêmio pressionava. Todos estávamos ansiosos, até que, enfim, estacionamos o nosso carro. No entanto, ainda teríamos dez minutos de caminhada pela frente. Quando nos aproximávamos das catracas de ingresso ao interior do estádio, o grito de gol ecoou como uma explosão. O chão tremeu, a parede tremeu, meu coração tremeu e, embora eu não me lembre com certeza, tudo indica que minha mãe disse algum palavrão, indignada com o nosso atraso.
Finalmente entramos. Dirigimo-nos rapidamente às cadeiras laterais, situadas atrás de uma das goleiras, cuja parte mais superior era de gremistas, mas a inferior era toda composta por torcedores do Ceará, com bandeira e tudo. Hoje isso parece estranho, mas até aquela época a convivência entre as torcidas parecia pacífica. Parecia. Não houve briga ou confusão, mas uma provocação nauseante.
Estávamos sentados bem no meio do bloco de cadeiras, no que poderia ser descrita como a linha fronteiriça entre os torcedores do Ceará e os do Grêmio. Então, alguém gritou:
- Olha o mijo!
E o copo voou por cima de nossas cabeças. Se eu dissesse que senti pingos mornos e fétidos sobre a minha cabeça estaria mentindo, mas os torcedores do Ceará não. Devem ter sido uns dois ou três copos arremessados, mas pelo menos um acertou em cheio algum dos alvi-negros nordestinos. Na época, na minha idiotice infantil, achei aquilo divertido, mas hoje, inegavelmente e sem medo de ser chamado de politicamente correto, lamento aquele fato. Graças a Deus que as vítimas dos copos de urina não eram loucas ao ponto de reagir, e acharam mais seguro aguentar o fedor até o fim do jogo em que Nildo, o matador, nos dera o gol do título.
O grande legado desta partida, além da lição de nunca mais ficar no fogo (ou xixi?) cruzado entre torcidas, é que foi a primeira na qual comemorei um título no Olímpico. Também foi a partir dela que comecei a memorizar o nome daqueles atletas que fariam História no Grêmio, como Danrlei, Roger, Émerson, Carlos Miguel e o próprio Nildo, que embora viesse a perder espaço com a vinda de Jardel, no ano seguinte, ainda nos presentearia com outros gols importantes.
Comentários
Postar um comentário