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MORTAL KOMBAT E A RAZÃO DAS NOSSAS LUTAS

 


A profundidade disfarçada de entretenimento juvenil do filme Mortal Kombat, de 1995, embora aparentemente simples e rasa, ainda é capaz de ressoar de maneira relevante em nossos corações. Uma de suas mensagens está no questionamento sobre o que nos motiva a encarar nossos desafios.

 Em um momento crucial da história, Raiden (Christopher Lambert), aborda Liu Kang, Johnny Cage e Sonya Blade e lhes diz por que cada um deles ainda não estava pronto. Para Cage (Linden Ashby), esclarece: “Você, Johnny, está com medo de ser uma farsa, então vai entrar em qualquer luta para provar que não é. Vai lutar bravamente, mas estupidamente, descuidado, e será derrotado”. Pois é assim em Mortal Kombat, é assim na vida.

 Então, o que nos motiva em nossas batalhas diárias? Pois uma das maiores armadilhas está na preocupação com a maneira como os outros nos verão. No filme, Johnny Cage sabia que não era uma farsa, mas queria convencer os outros do contrário. Ainda que ciente da verdade pura e simples a respeito dele mesmo, só ficaria em paz se todos a enxergassem. A razão pela qual lutava, portanto, era ilegítima, e sua derrota, iminente. Tudo muda, porém, ao perceber que Goro derrotaria facilmente os guerreiros da Terra, inclusive Sonya, por quem se apaixonara. Ele desafia o Príncipe Shokan, e, embora Raiden tente demovê-lo da ideia, não recua, dizendo: “É o nosso torneio, lembra? Mortal Kombat! Nós lutamos!”.

 A decisão de Cage e sua resposta ao deus do trovão indicam uma razão, um sentido para o desafio e, além disso, a responsabilidade pela escolha feita. O herói abriu mão do conforto do momento para ficar frente a frente com o inevitável, fazendo-o, porém, não em nome do seu ego, mas, acima de tudo, pela vida daquela que amava e da própria humanidade. Ele vai para o combate com prudência e coragem, uma escolha que, por si só, já indica um sacrifício. Ele não só vence como sobrevive, enchendo de confiança os demais heróis e enfraquecendo a dos inimigos.

 O arco de Johnny Cage revela, portanto, que a razão das nossas batalhas não pode ser a maneira como queremos que os outros nos veem, pois isso acaba por corromper nossas personalidades e vocações. Cedo ou tarde, a realidade cobra o seu preço, quando fracassamos em alcançar o objetivo ou, uma vez no topo do pódio, percebemos que nossas almas se encontram derrotadas e empunhando um troféu desprovido de valor. Por outro lado, a vitória já é conquistada só de entrarmos em uma luta para defendermos algo realmente virtuoso, e nada pode ser maior do que a responsabilidade, a coragem e o sacrifício para fazê-lo diante do que parece impossível.



 

 


 

 

 

 

 

 

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