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EU, EU MESMO E AS REDES



“Eu, Eu Mesmo & Irene” é uma das melhores comédias da história, segundo o instituto de pesquisas Eu & Eu Mesmo. Concordo plenamente! A obra nos faz rir do começo ao fim, e a considero o ápice dos talentosos Irmãos Farrelly, que nos levam às gargalhadas porque sabem como somos e escolhem gênios como Jim Carrey para transmitir suas mensagens com ironia e bom humor.

 O filme conta a história de Charlie (Jim Carrey) um policial bonzinho (e inegavelmente bundão) que, lá pelas tantas, tem um colapso nervoso que desperta uma segunda personalidade (Hank), a versão sem filtro (nem moral) do primeiro. Já medicado, a Charlie é dada uma última missão antes de gozar das férias impostas por sua chefia: conduzir Irene (Renée Zelweeger), jovem ex-namorada de um mafioso, até outra cidade. Após esquecer o remédio que controla seu transtorno, começa a confusão.

 Mais do que uma brincadeira, o filme nos leva a pensar sobre dupla personalidade. Afinal, ela está presente apenas em quem tem o tal Transtorno Dissociativo de Identidade?

 Olha, pelo que vejo nas redes sociais, acho que a coisa é mais comum do que parece. É o que percebo ao me deparar com muitas postagens de pessoas que conheço há anos. Sério, é tão chocante que me sinto como a mãe sem-noção da espetacular cena da primeira transformação de Charlie em Hank (a do “VagiClean”). Assim, quem seriam as verdadeiras pessoas que mantemos em nossas redes? As que conhecemos pessoalmente ou as bestializadas por suas postagens lacradoras?

 Claro, não estou julgando o mérito das opiniões. O problema não é esse. O que me incomoda não é um Charlie botando pra fora seus sentimentos, mas um Hank convertendo essa necessidade de expressão em um vômito de estupidez. Quando uma opinião é compactada em rótulos antecedidos de hashtags vazias e desacompanhadas de argumentos, tudo o que vemos é um troglodita virtual que, para se afirmar, precisa ferir burramente os outros. Esses trogloditas nas redes geralmente são pessoas agradáveis pessoalmente, boas de conversar, educadas. Charlies, portanto. Porém, quando contrariados no mundo virtual, aquela musiquinha “Fire like this (we’re gonna rock you)” toca a toda nas suas mentes, e o resultado é um Hank que confunde dizer o que pensa com atitudes destrutivas. Essas atitudes não são apenas as grosserias, mas as indiretinhas, ironiazinhas, enfim, as lacrações imbecis.

 Com muito bom humor, “Eu, Eu Mesmo & Irene” nos mostra que devemos dar vazão aos nossos sentimentos e, especialmente, em vez de fugirmos, encararmos com coragem as frustrações e desafios que se erguem diante de nós. Porém, isso não se confunde com despertar (e cultivar) uma personalidade exclusivamente dedicada a isso e que ignore os princípios mais básicos que nos sustentam. Olhe-se no espelho e pergunte-se se aquele que posta nas redes com tanta arrogância e insensibilidade é o mesmo que deseja um carinhoso feliz aniversário a quem pensa diferente. Se a resposta for não, saiba que seu Hank egocêntrico, estúpido e autoritário é quem assume o comando após o login. Cuidado, pois ele não quer dividir espaço com o seu Charlie, e, daqui a pouco, estará dirigindo a sua vida por completo.




*Imagem: https://wall.alphacoders.com/by_sub_category.php?id=200112&name=Me%2C+Myself+%26+Irene+Wallpapers

 

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