Crônicas, contos, poesias e algo mais.
Por RENAN E. M. GUIMARÃES.
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MORTAL KOMBAT E A HUMILDADE PARA A CONFIANÇA
De
todos os arcos desenvolvidos no filme “Mortal Kombat”, de 1995, o de Sonya
Blade, interpretado por Bridgette Wilson, é o mais fraco, talvez caricato, eu
diria. Mesmo assim, e para que não digam que não falei de flores, traz uma
lição valiosa.
Exortados
por Raiden (Christopher Lambert), Liu Kang, Johnny Cage e Sonya Blade ouvem do
deus do trovão o que os torna insuficientes para as grandes batalhas que lhes
aguardavam. Dele, Sonya escuta: “Você,
Sonya, está com medo de admitir que até você, às vezes, precisa de ajuda. Se
está com medo de confiar, você vai perder”.
Poucas
coisas são mais irritantes do que um cabeça-dura. Aquela pessoa que
simplesmente não ouve a verdade e sequer se presta a refletir a respeito. Alguém
que se olha no espelho e acha que ali estarão as respostas para as suas
perguntas. Receber ajuda não é apenas aceitar serviços a seu favor, mas
conselhos. Antes, porém, é preciso ser humilde para admitir que o caminho originalmente escolhido para
ser trilhado talvez esteja errado, e que somos incapazes, muitas vezes, de, por
si só, mudarmos o trem de direção. Precisamos de uma força, de algo além de nós
mesmos, para retomarmos os rumos de nossas vidas ou termos êxito em nossos
objetivos.
Aceitar
ajuda não é negar nossa autonomia e nossa individualidade. Não se trata de nos
convertermos em marionetes de terceiros, ou nos submetermos a uma relação de
ampla dependência de outros. É ter humildade para reconhecer que, ainda que trilhando
a estrada da verdade, é preciso mais do que nossas próprias pernas para alcançá-la.
Por trás dos grandes nomes há multidões. Esses nomes as encarnam, é verdade,
mas eles apenas existem e existiram graças a outros tantos. Colombo não chegou à
América remando em um bote, e Neil Armstrong e companhia não alcançaram a lua por
uma catapulta montada por eles mesmos.
A
construção de uma Sonya Blade orgulhosa foi uma iniciativa muito mais
cinematográfica do que baseada no jogo, uma pressuposição caricata de como
seria uma mulher líder de uma força militar especial. Uma exortação como a de
Raiden, hoje, até seria considerada “politicamente incorreta”, afinal, a única
pessoa que ouve que deveria aceitar ajuda foi a mulher do grupo. Machista?
Claro que não. Realista. Sonya era a mulher do grupo, é verdade, mas também era
a orgulhosa, não por ser mulher, mas por se tratar, simplesmente, de um ser humano com
aquele vício.
No
filme, Shang Tsung vê Sonya como a mais derrotável entre os três heróis,
desafiando-a para o combate final. Isso é simbólico, pois a escolha do vilão não
se dá por ela ser mulher, mas uma pessoa orgulhosa. Sem
humildade, não enxergamos nossas falhas e, assim, não melhoramos. O orgulhoso
certamente tombará, mas o humilde, enquanto viver, certamente se reerguerá
melhor do que antes.
Nada
se consegue sem ajuda, gratuita ou não, e toda ajuda é buscada a partir de um
espirito humilde que capacitará aquele que a demanda a confiar. Não se busca
ajuda sem confiança.
Na
reta final do filme, Sonya não aceita o desafio de Shang Tsung. A negação ao
combate também é significativa, pois a heroína compreende que não conseguirá
derrotar o inimigo e, apesar de acorrentada em um lugar sombrio e distante,
revela a esperança de que seus amigos a salvariam. Ou seja, apesar de todas as
virtudes que julgava ter, chegou o momento em que elas não lhe serviam para
nada, restando-lhe, apenas, a humildade de admitir que precisava de ajuda e que
confiaria nos únicos que poderiam resgatá-la.
Observada
superficialmente, a jornada de Sonya parece apenas ilustrar um clichê, mas os
clichês existem por um motivo, eles se formam a partir de lições clamadas por
gerações e gerações que, de tão universais e evidentes ao espírito humano e
para a nossa própria experiência civilizatória, claramente indicam um vislumbre
da verdade, ecoando para todo o sempre.
Pois o filme “Mortal Kombat”, de 1995, se mostrou um grande vetor de sabedoria,
aproveitando o arco de Blade para explicitar o quão falaciosa é a ideia de
autossuficiência de qualquer pessoa, seja ela um homem, seja uma mulher, e na
necessidade de confiar no próximo, ainda que sob o risco de uma grande decepção,
para seguirmos adiante olhando para frente, e não para o nosso próprio umbigo.
“Bem-aventurados os humildes de espírito,
porque deles é o reino dos céus” (Mateus, 5:3).
Toda história tem um prólogo. Não é possível imaginarmos que qualquer fato tenha uma origem em si mesmo, sem nenhum motivo anterior. Nem mesmo o universo (e a sua história) vieram do nada: Deus deu o pontapé inicial, e apenas Ele, Deus, não tem uma razão externa para existir, pois é eterno e fora da natureza. Nossa história não começa no nascimento, mas vem de muito antes. Na verdade, seria possível dizer que, caso quiséssemos, sinceramente, elaborar um prólogo fiel de nossas vidas, seria preciso retornar à origem do universo. No entanto, por razões óbvias, se a ideia é criar alguma introdução para a nossa biografia (ou simples livro de memórias), então imagino que o melhor a fazer é limitá-la aos nossos pais, pois são nossas referências biológicas e sociais mais diretas. Minha vida, ou o projeto que se tornaria a minha vida, começou no dia em que meus pais se conheceram, pois ali se encontrava a grande e objetiva propulsão que resultaria, cerca de dez anos depois, no meu enc...
Como já é possível perceber, estou há muito tempo sem escrever por aqui. Não é apenas por esse canal: eu realmente não mais tenho conseguido palavras para expressar, por meio de textos, meus pensamentos (e garanto que não são poucos!). É interessante que, falando, ou melhor, dialogando com alguém, eu consigo trazer à tona diversas reflexões sobre os mais variados assuntos, mas ultimamente tem sido um sacrifício transportá-las para o "papel". Estou há poucos dias de férias e resolvi, com o fim de apenas entreter-me, acessar esse meu blog e conferir meus textos antigos. Fiquei impressionado. "Quem é esse que escreve tão bem?", perguntei-me. Sem falsa modéstia, tenho o dom da escrita, ou ao menos tinha, pois parece-me que tal dom "escapou-me pelos dedos", como se o teclado em que digito ou a folha sobre a qual passeia a caneta que venho a empunhar emanassem um sopro de desinspiração, esvaziando a minha mente. "Onde eu estava mesmo...?" é a pergun...
Enquanto eu e o Henrique almoçávamos assistindo ao Chaves e ao Chapolin, lá estavas tu, convencendo o meu irmão a, para a comida, dizer “sim”, antes que eu desse cabo aos restos a serem deixados por ele que, diante de uma colher de arroz e feijão, insistia em falar “não”. Enquanto eu e o Henrique estávamos na escola, durante a manhã, na época do Mãe de Deus, tu arrumavas a bagunça do nosso quarto, preparando-o para ser desarrumado outra vez. Então, quando desembarcávamos da Kombi do Ademir, tu, não sem antes sorrir, nos recebias cheia de carinho e atenção, e dava aquele abraço caloroso que transmitia o que havia no teu coração. Enquanto eu e o Henrique, em tenra idade escolar, tínhamos dificuldades nos deveres de casa, tu estavas lá, nos ajudando a ler, escrever e contar, pois, embora a humildade seja tua maior virtude, ela era muito menor do que tua doação. Sabias que, em breve, não mais conseguirias fazê-lo, mas, até lá, com zelo, estenderias tuas mãos. Enquanto eu e o Henri...
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