Na
última quarta-feira, 14 de julho, celebrou-se o mais importante feriado da
França: a Queda da Bastilha, a fortificada prisão situada em Paris e onde,
comumente, eram mantidos os presos políticos. O seu assalto pela população ensandecida
deu início à terceira fase da Revolução Francesa e o seu governador, o Marquês de Launay, decapitado. Sua cabeça, espetada em uma lança, foi exibida pelas ruas da Cidade Luz. Muito daquela fúria era de natureza antirreligiosa, o que, aliado à
aversão ao rei, poderia ser resumido na célebre frase de Jean Meslier, ecoada
intensamente por Voltaire: “O homem só
será livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre”.
Uma
das mais paradoxais medidas revolucionárias foi a busca por uma refundação
total e absoluta do Estado Francês, inclusive com a alteração do calendário
cristão para um baseado nos princípios e na nova república que surgia. Uma
república laica, evidentemente, apenas a serviço da “razão”. Assim, a célebre
Catedral de Notre Dame foi profanada, seus símbolos e tesouros cristãos,
eliminados ou roubados, e passou a ser usada como um templo para o Culto à
Razão.
Acontece
que a busca pela razão se faz com perguntas. Porém, a partir do momento em que
essa suposta busca é colocada em um altar, então nem mesmo ela, a maneira como é
feita ou as veredas por onde caminha, podem ser, de fato, questionadas. Afinal,
na verdade, ela não mais é buscada, mas cultuada, e o que é cultuado o é
mediante submissão. Porém, a “razão” não encontra respaldo em uma força
superior e inquestionável, mas ela é, por natureza, questionável. Logo, jamais
poderia ser colocada em um altar, jamais deveria ser objeto de culto, até
porque a tal “razão”, dependendo das premissas utilizadas para ser achada, se
equivocada, como um GPS desregulado ou uma bússola quebrada, poderá nos levar
para caminhos bem perigosos.
Assim,
cuidado ao, em nome da “razão”, derrubar as bastilhas de sua vida. Você não
sabe o que delas sairão. Em vez de liberdade, talvez você apenas encontre outro
senhor para lhe escravizar. Antes de fazer revolução e tábula-rasa, cheque as suas premissas e para onde elas lhe levarão. Lembre-se de que a
cabeça do Marquês de Launay não foi a última a rolar, mas apenas a primeira, e o seu mesmo destino foi reservado a muitos dos que a ergueram pelas ruas de Paris.
*Imagem 1:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tomada_da_Bastilha#/media/Ficheiro:Prise_de_la_Bastille_IMG_2250.jpg
** Imagem 2:
https://en.wikipedia.org/wiki/Bernard-Ren%C3%A9_Jourdan_de_Launay#/media/File:Jacques_de_Flesselles.jpg
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