O
ano é 1453. Sitiados, milhares de bizantinos oram a Deus para que Ele os
proteja da iminente invasão otomana. Clamam por um milagre, imploram pela
prometida fidelidade, invocam sua misericórdia. Mas em vez de os céus se
abrirem com o exército de anjos de Cristo, canhões explodem as até então
intransponíveis muralhas de Constantinopla, que nunca mais seria uma cidade
cristã após o banho de sangue que se seguiu.
Pensar
no terror desse evento é uma tentação interessante para questionarmos o poder
da fé. Como os pobres bizantinos, todos nós, em todos os dias da vida, das
situações mais corriqueiras às mais trágicas, inesperadas e certamente injustas,
nos vemos cercados pela desgraça iminente e que, muitas vezes, parece imune às
nossas orações. Logo, a pergunta: qual a diferença? Seria a fé inútil?
Esse
é um questionamento ardiloso. Isso porque fé não se confunde com desejo e muito
menos tem a ver com “toma-lá-dá-cá.” Então, por que deveríamos tê-la? Em
primeiro lugar, ter fé envolve humildade, ou seja, é saber que somos pó de
estrelas e que nem sempre, por mais terrível, grandiosa, e, até mesmo, fatal seja a nossa causa, talvez ela não o seja para Deus, ou, de repente, haja um propósito
muito maior por trás do que Ele permite. Em segundo lugar, fé não é pedir com a
certeza do que virá, mas com a certeza de que Deus é capaz de nos atender. Só
Ele pode, sempre, nos atender, do menor ao maior milagre. O Deus de hoje é o
mesmo que criou os céus e a terra; é o mesmo que deu nome a todas as estrelas
que existem, existiram e existirão; é o mesmo que abriu o Mar Vermelho; é o
mesmo que deu maná ao povo faminto no deserto; é o mesmo que salvou Daniel da
cova dos leões, e os seus amigos da fornalha ardente; é o mesmo que, em
Cristo, ressuscitou e, por Cristo, fez tantos serem curados e voltarem à vida.
Quantos
mares Moisés abriu? Quanta fartura caiu dos céus? Daniel voltou para a sua
terra? Jesus curou todos os doentes do seu tempo? Ressuscitou todos os
conhecidos que vieram a falecer? Você sabe as respostas, e elas mostram que,
nem sempre, Deus parece nos atender. Porém, não há dúvidas de que Ele pode fazê-lo.
Ele tem esse poder, e, paradoxalmente, o simples fato de que não há garantias de
que, apesar de ser Todo-Poderoso, Deus não necessariamente satisfará nossos
pedidos, nos dá a certeza de que Ele É verdadeiro.
Portanto,
a você, que, nessa manhã de segunda-feira, está aflito por não ter suas orações
atendidas, digo o seguinte: persevere, pois a fé verdadeira não está na certeza
ou na esperança de que algo acontecerá, mas de que Deus tem o poder para fazê-lo.
Reconhecer isso envolve humildade, e a partir dessa humildade, nossos ouvidos
se destapam e passamos a ouvir de Deus mais do que as respostas para as nossas
perguntas, mas a explicação para aquilo que sequer enxergamos.
*Imagem: http://sou-cesar.blogspot.com/2018/02/a-queda-de-constantinopla.html
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