O
ano era 2004, segundo semestre de Direito na PUCRS, onde estudei antes da UFRGS.
Ainda nos primeiros dias de agosto, fui incentivado a organizar o trote dos
nossos “bixos”, um rito de passagem pelo qual não havíamos passado.
Fizemos compras, um cronograma de brincadeiras foi montado, e a professora da turma a ser vitimizada nos deu carta branca. E para lá fomos nós, com palavras de ordem que tinham a ver com trote. Eu segurava uma corda de varal para conduzir os calouros ao pátio como se fossem elefantinhos. Alguns colegas levavam tintas e ingredientes de bolo. A diversão seria garantida e as vítimas, presenteadas pelo que não tivemos: a saudável humilhação do trote.
Eu liderava a tropa, à frente de uns trinta empolgados colegas, mas quando ingressei na sala, cantando, escutava apenas a minha voz. Estava sozinho. Por algum motivo, meus colegas travaram. Ficaram todos no corredor. De repente, havia apenas eu, a corda de varal e os cerca de cinquenta calouros para quem ainda ousei anunciar que “nós” (como se eu fosse o Gollum) estávamos lá para o trote. A reação foi nula, e o silêncio, constrangedor.
Uma aluna, policiar militar fardada, dirigiu-se até mim e, com dedo em riste, disse que aquilo era uma palhaçada. Seus colegas uniram-se a ela na resistência. A professora manteve-se em silêncio, olhava para o alto. Então, surgiu o idoso diretor da faculdade, irado, bufando. Arrancou a cordinha de varal das minhas mãos e deu-me uma bronca daquelas. Só faltou retirar-me da sala de aula puxando-me as orelhas.
No corredor, avistei um mísero colega que, a uma segura distância, assistia à maior carraspana que já recebi em um ambiente de ensino. “Agora, volta pra aula, guri”, ele encerrou. Voltei, com o rabo entre as pernas, solitário, humilhado, vermelho de vergonha e ressentido pelo abandono.
*Imagem: https://www.visse.com.br/a-vergonha-alheia-de-cada-dia-ii/
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