Na
última segunda-feira, 26/07, celebrou-se o Dia dos Avós. Fui abençoado por não
só ter conhecido, mas convivido com meus dois avós paternos, os dois maternos e, ainda, uma bisavó paterna e uma materna. Poucos são agraciados assim, e posso dizer que aproveitei muito bem
os meus velhinhos (e, no caso da minha avó materna, Martha, ainda aproveito, graças a Deus). A exceção foi o meu avô Chico, pai da minha mãe, ironicamente o único que morava em Porto Alegre.
Era uma pessoa calada, estranha, que parecia um pouco sem jeito com os netos.
Quando ia visitá-lo, ele ficava inquieto, andava para todos os lados, se
ausentava do recinto e depois voltava, enfim, nunca trocamos palavras diversas
de “oi”, “tchau” e “obrigado”. Não tenho lembranças dele me fazendo perguntas
ou contando suas aventuras. Tampouco dele tenho histórias, salvo as que minha mãe
conta e, mesmo assim, se referem a fatos relacionados com ela e sua igualmente
parca convivência com o seu pai, já que minha
avó Martha e ele se desquitaram no início da década de 60. Poucas conversas, poucas histórias, cartas perdidas...
enfim, pouco sei de meu avô Chico. Quem foi ele, realmente?
Independentemente
da resposta, duas certezas: ele fez coisas ruins e boas. Contudo, nada muda o
fato de que ele era o meu avô materno, parte da minha história, sangue do meu
sangue, 25% do que eu sou. Eu queria saber detalhes de sua vida, “causos”,
gostaria de ouvir sobre sua visão de mundo, experiências, enfim, conhecê-lo de
fato, pelo menos a partir de registros de sua própria boca ou de seu próprio
punho. Porém, fora as poucas histórias da minha mãe, tios e da minha avó, não tenho
nada disso, mas apenas suas raras fotografias e ínfimos registros de vídeo.
Lamento
por isso, pois não importa quem ele realmente era, qual pudesse ser, de fato,
seu caráter, quais os detalhes comprometedores ou gloriosos de sua vida. Nada
disso é relevante. Eu só gostaria de saber mais, pois, assim, eu poderia, até
mesmo, me entender melhor, compreender de forma mais adequada a minha mãe, meus
tios, primos, até mesmo minha avó Martha, e tudo o que envolve as suas vidas.
Não só entender, mas aprender sobre erros e acertos do passado, não para fins
de julgamento, mas para identificar pegadas que, sim, me trouxeram até aqui. É
triste olhar para trás e perceber que os ventos e as ondas do mar da passagem
do tempo as desfizeram.
Viemos
de algum lugar e é preciso saber que lugar é esse e aprendermos com isso. Nosso
passado é até mais importante do que o futuro, pois o que passou, existiu, mas
o que virá simplesmente ainda não existe. O que há é o presente, e o primeiro
passo para sabermos para onde vamos é não só termos consciência de onde viemos,
mas valorizarmos a jornada que nos trouxe até aqui.
Não
é queimando, derrubando ou escondendo as estátuas do museu que há em cada
coração que se chega a um amanhã virtuoso. Pelo contrário: as estátuas devem
ser descobertas e, com humildade, expostas no salão principal de nossa
história, a fim de com elas aprendermos, pois só assim seremos livres para compreendermos, com honestidade, o ontem. Caso contrário, seremos apenas prisioneiros das ilusões que criamos hoje para vivermos um dia seguinte desprovido de verdade.
*Imagem: https://br.freepik.com/fotos-premium/praia-ondas-e-pegadas-na-hora-por-do-sol_7347252.htm
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