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No Line On The Horizon

Passei quase que todo o mês de março ouvindo ao novo disco do U2, "No Line On The Horizon". A razão de eu ter feito isso está no fato de eu ser um fã de carteirinha da banda irlandesa e, também, por causa das qualidades desse recente álbum de Bono e seus amigos.

Interessante. O U2 pode não ser a melhor banda do mundo, afinal, não existe "melhor" no meio artístico, pois tudo é uma questão de gosto, mas sem dúvida é a maior (da atualidade). Primeiro, porque tem muita qualidade; segundo, tem um marketing muito bem elaborado, assim como as suas turnês e produção;por fim, e, sem dúvida, o fato mais importante de todos aqueles que tornam essa banda a maior do mundo, está a sua incrível capacidade de reinvenção.

O U2 nem sempre "reinventa" o rock, mas se reinventa sempre, ou quase sempre. Já reinventou o rock algumas vezes, como na época de "War", "The Unforgettable Fire" e "The Joshua Tree". Canções como "Sunday Bloody Sunday" e "New Year's Day", "Pride", "Bad", "Where The Streets Have No Name", "With or Without You", "I Still Haven't Found What I'm Looking For", "Exit", dentre outras são absolutamente dissonantes em relação ao rock britânico dos anos 80, encabeçado por The Cure, The Smiths e outros, bem como com as bandas de hard rock norte-americanas daquela década, em que reinava a onda "poser". Foi isso que levou o grupo de Dublin ao topo, de onde nunca mais saiu.

Reinventou tb (e como!) com o disco "Achtung Baby", de 1991, em meio à decadência do hard rock e ao ápice do grunge. Aliás, "Achtung Baby" pode ser considerado, ainda, um disco atual, pois ainda serve de inspiração para muitas bandas novas. Reinventou a si próprio com "Zooropa" (1993) e "Pop"(1997). Quando muitos achavam que a banda estaria esgotada, veio "All That You Can't Leave Behind" (2000), mais uma reinvenção, um álbum diferente de todos os demais que o U2 já havia feito, mas sem a capacidade de reinventar o rock, mas de tornar o U2 a maior e melhor banda dos anos 2000. Em 2004, "How to Dismantle an Atomic Bomb" foi lançado com a promessa de que seria o melhor trabalho do U2 de todos os tempos. Não foi, mas mostrou a energia jovial dessa banda cujos componentes hoje beiram (ou já passam) os cinquenta anos. Enfim, "No Line on The Horizon" vem à tona. Houve nova "reinvenção"? A resposta é sim. Do U2 ou do rock? Do U2, mas não dá para descartar eventual influência desse trabalho àqueles que virão.

Além da sua capacidade de reinvenção, o U2 demonstra amor ao que faz a cada álbum gravado. Bono encarna as letras que escreve, cantando com uma emoção sem igual cada uma das músicas da banda. As três primeras músicas são de "arrebentar". Aquela que empresta o nome ao álbum é cheia de energia, e os seus "oôs" dão uma idéia do que virá. "Magnificence", a segunda, sem dúvida entrará para as "confirmads" de todos os shows de todas as turnês de todos os a´lbuns que virão, tamanha a sua qualidade, pegada e emoção; 'Moment of Surrender" tem um início um tanto quanto pobre musicalmente, até que Bono surpreende cantando com tudo, arrepiando o ouvinte naquela que é a música mais longa do trabalho; "Unknown Caller" segue a mesma linha, com um clima tranquilo, calmo. Das demais, destaco "Stand Up Comedy", uma música que mistura o estilo rock do U2 com o funk rock de Red Hot Chilli Peppers. Diferente. FEZ é sombria; White as Snow, linda; Breathe, energética, muito boa; Cedars os Lebanon traz uma balada igualmente sombria, com uma linha vocal no estilo daquela que marcou on álbum "Pop", no clima da música "Please".

De negativo, o equivocado "hit" GET ON YOUR BOOTS. Achei essa canção, sinceramente, ruim. Na minha opinião, quase todo os álbuns do U2 são ótimos mas sempre tem alguma canção que não precisaria estar lá. É o caso dessa. O estranho é porque ela, além de constar nesse disco, foi lançada como single? Sei lá! Mas não é o suficiente para manchar esse trabalho excelente.

O álbum, de um modo geral, traz influências interessantes, como do White Stripes, The Killers, Red Hot Chilli Peppers, Kings of Leon e do próprio U2, com misturas entre o estilo anos 80 (em especial, os álbuns Boy, October e War), anos 90(Achtung Baby e Zooropa - aliás, é no mínimo interessante que The Edge tenha aproveitado a base de "The Fly" para a música título do novo disco, bem como oestranho efeito sonoro da guitarra de "Lemon" para a energética "Magnificent") e 2000 (All That You Cant...).

Ouçam NO LINE ON THE HORIZON. Não é o melhor álbum dentre todos do U2, mas é ótimo, talvez o quarto ou quinto melhor álbum dessa banda que tem amor pelo que faz, e se esforça para não ser deixada para trás.

Depois dos Beatles, em termos de grandiosidade, vem o U2.

Publicado originalmente em 01/04/2009, no blog RENAÇÕES - renanguimaraes.zip.net - antigo blog do autor.

COMENTÁRIOS

[João Marcelo]
Por favor... Que abobrinha

08/09/2009 14:01

[Roberta] [eu.robs@gmail.com]
Vamos ao próximo show!!

24/07/2009 15:34

Comentários

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