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A Última Página do Momento e O Final em Movimento da História do Senado - Respeitar O Quê?

Venho hoje comentar sobre o senado. Não tenho tanta inspiração para escrever no dia de hoje, como não venho tendo há tempos (vide a data da minha última postagem), mas preciso, depois de mais um escândalo da nossa "brilhante" instituição legislativa, me manifestar. O escândalo a que me refiro é o dos atos secretos utilizados por senadores e servidores para nomeações, aumentos de salários, comissões etc. Não quero falar especificamente dos atos, mas da atitude dos senadores frente às acusações.

Quando o ilustre senador, atual presidente do Senado e ex-Presidente da República (e depois a gente não entende porque o nosso país não "vai pra fente"...) José Sarney subiu à tribuna e começou a se defender afirmando que deveríamos amar o parlamento, que ele não merecia ser tratado daquela forma graças à sua história política, blá, blá, blá, e que a culpa não era dele, mas do senado como um todo, e que o senado precisava se moralizar, confesso que fiquei com vontade de rasgar o jornal. É sério, nesses momento tenho acessos de raiva, reviro os meus olhos e oro a Deus para que ele me dê paz e me ajude a lidar com esse tipo de situação. Hoje, enquanto dirigia, ouvi pelo rádio o pronunciamento do Sen. Mão Santa, que defendia integralmente seu colega, ao mesmo tempo em que outros representantes da pornobre casa legislativa pediam ao povo a valorização da instituição, com base nas leis que já foram aprovadas, na solidificação da democracia, na "transparência da Casa" (sim, eles tiveram coragem de falar isso).

A crise de valores é explicitada no senado. Os senadores, aos poucos, tentam desviar o foco das discussões! Querem que nos calemos, que respeitemos a dignidade da casa e de seus representantes, ao mesmo tempo em que, gradualmente, é abafado mais um escândalo. Não podemos aceitar isso! De modo algum! Certa vez, um professor de Política e Teoria de Estado disse, em sala de aula, que uma instituição não é a sua história, nem o prédio onde ela está instalada, mas ela é o que/quem a compõe. Devemos respeitar o senado? É claro que sim, mas, por outro lado, esse órgão tem que respeitar aqueles que representa, agindo, no mínimo, com decoro e transparência. As leis que vêm sendo editadas em nosso país, de um modo geral, têm tornado nossa vida melhor e desenvolvido a democracia, a cidadania e a defesa dos Direitos Fundamentais. Isso é fato. Entretanto, nada justifica a safadeza entranhada no concreto brasiliense. É inaceitável aceitar esse argumento como uma resposta às acusações. Não deixa de ser um abuso aristocrático, e um contrassenso, inclusive. Afinal, o senado não está acima do bem e do mal, e precisa se comportar de modo ético e moral (rimou!). Quanto não se poderia fazer com o dinheiro que é desviado em tantos escândalos, ou com aquele relativo aos aumentos irregulares ou, no mínimos, imorais? Que trabalhador que recebe um reajuste salarial nas proproções dos parlamentares? Aí vem um bando de engravatados, com palavras pomposas e um sorriso nojento dizer que devemos respeitá-los e, pior, chegam a dizer que existe uma conspiração para desmoralizar a Casa, ameaçando a democracia? Vale dizer que a maioria desses nossos representantes se tratam de dinossauros cuja origem remonta a ARENA da ditadura militar e só buscam o autobenefício. É uma tentativa clara de calar e até constranger as pessoas.

"Não podemos se entregar pros homem, de jeito nenhum" e "não tá morto quem peleia" são expressões populares gaúchas muito oportunas para esse momento. Não podemos deixar esse tipo de argumento arrogante nos calar. Que o Senado tem e de lá surgem coisas boas, é inegável, não podemos ser ignorantes ao ponto de dizer que não. Entretanto, usar isso como um argumento para pedir respeito e compreensão ao povo brasileiro com o nosso parlamento é de tirar do sério. Tenho vergonha de ser brasileiro nessas horas. Mas não quero fugir do país em busca de um lugar "desenvolvido". Quero concentrar a minha indignação para melhorar a nossa auto-imagem. Portanto, leitores, não se calem!

O livro da História tem apenas início e meio, pois o seu fim é marcado pelo presente, que está em constante movimento. As suas páginas estão sempre sendo escritas, e o livro depende muito do modo como ele se encerra. Logo, o "final" do livro da História, que é simplesmente o "presente mais recente", tem que ser satisfatório, para que essa História seja valorizada. E assim é o Senado: não importa o que tenha tramitado ou ocorrido nessa instituição; ela é lembrada pelas páginas escritas com os excrementos dos seus escândalos e, como fedem, chamam a atenção. Por isso, se os senadores querem uma maior valorização e respeito pelo nosso alto parlamento, que as próximas páginas sejam escritas com os perfumados pincéis da ética, da transparência e da honestidade. Por enquanto, a "última página do momento" está bem suja e fedida.

Publicado originalmente em 17/06/2009, no blog RENAÇÕES - renanguimaraes.zip.net - antigo blog do autor.

COMENTÁRIOS

[Roberta] [eu.robs@gmail.com]
Mais uma vez escreveste muito bem!!Sintetizou o que todos pensam e ninguém fala!Parabéns meu amor.

24/07/2009 15:19


Comentários

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