Tempos atrás, postei por aqui sobre as vazias conversas de elevador e, apesar disso, do quanto elas eram importantes para o nosso convívio social. Afinal, quanto mais calados somos, mais mais gélidas se torna o nosso dia-a-dia. No entanto, até mesmo as vagas e curtas conversas de elevador estão com os dias contados.
Recém instalaram no elevador do prédio onde trabalho um monitor que transmite manchetes de um portal da internet. Portanto, quando entramos no elevador ficamos de dez a cinquenta segundos nos "atualizando" com aquelas notícias. Em silêncio, claro.
Não posso negar que se trata de uma grande invenção esse tipo de recurso, mas será que há necessidade de nos atualizarmos durante aqueles breves segundos? O mundo irá acabar se soubermos um minuto depois que o dólar subiu ou caiu, que seu time contratou algum jogador ou que o governador do Estado está sendo processado? Acho que não. No final das contas, absorvemos informações que, se não são irrelevantes, não são urgentes ao ponto de termos de sabê-las durante aqueles instantes e, por fim, deixamos de perguntar à pessoa ao lado que horas são (pois há um relógio no canto do monitor) ou qual a temperatura (o termômetro fica exatamente ao lado do relógio), ou de fazermos algum comentário sobre futebol (exibidas no monitor já se encontram as informações e críticas que provavelmente traríamos ou faríamos). A tendência é que os elevadores, que já eram um espaço onde a mais calorosa das conversas minguava por alguns segundos, tranforme-se, definitivamente, em um sepulcro ascendente/descendente.
O lugar onde as pessoas mais conversavam ou conversam em suas casas é a "sala de estar" e a cozinha. A televisão chegou pedalando e invadiu as duas (não importa a ordem). As famílias passaram a conversar menos. Depois, a televisão se expandiu para cada quarto da casa, chegando ao ponto de em algumas residências haver televisores nos banheiros! Resultado: a crise da família do século XXI é a falta de diálogo! Existem cidades pelo mundo que, em algumas de suas avenidas, há televisões gigantes, nos moldes do monitor de elevador. Os ônibus em Porto Alegre também já são equipados com essa bugiganga. O que nos resta? Do jeito que a coisa anda, até as Igrejas, durante seus cultos religiosos, terão, em um cantinho, um monitor para deixar todos atualizados com os imprescindíveis acontecimentos mundiais.
A tendência é nos tornarmos tão frios e tão distantes uns dos outros que morreremos e a pessoa ao lado ficará sabendo disso não por estar "ao lado", mas porque haverá um monitor de informações em cima do leito do hospital que lhe informará desse fato. Em vez de ela olhar para o defunto, provavelmente se preocupará com a próxima notícia. Por fim, haverá um monitor em nossos caixões, atualizando nossos restos mortais dos acontecimentos desse mundo.
COMENTÁRIOS
[greta guimarães] [greta.guimaraes@uol.com.br] Muito bem escrito e muito contagiante! Realmente, "pequenas atitudes"como estas, tornam-se GRANDIOSAS nos dias de hoje. Beijos. Te amo. Mãe. 09/10/2009 11:27 | |
[Henrique] [henriqguima@bol.com.br] É verdade. Gostei muito, e concordei. abraços 09/10/2009 07:57 |
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