Tenho lido quase tudo sobre a Copa de 2014, desde reportagens, passando por fóruns de discussões, além de prestar atenção nas mais variadas imagens de projetos. Observei que a CBF pretende incluir doze cidades-sede no torneio, o que, teoricamente, seria justo, tendo em vista a extensão territorial do Brasil e uma certa necessidade de tornar a Copa próxima de todos os cidadãos brasileiros, e não algo distante. Contudo, essa primeira impressão, na verdade, mostra-se equivocada, o que pode ser duro para as regiões distantes dos centros do país.
Existe o seguinte debate em torno das sedes do mundial: a CBF defende, no mínimo, doze; a FIFA, por sua vez, nunca escondeu seu gosto por oito, nove, no máximo dez cidades. Afinal, o que seria melhor para o Brasil, economicamente falando? Em primeiro lugar, devemos ter a certeza de que o único fator que motiva a entidade máxima do futebol brasileiro a incentivar determinadas candidaturas é político: o grupo de Teixeira quer se eternizar no poder, e nada melhor do que um apoio desse porte. Em seguida, devemos pensar no "depois" da copa. Afinal, a Copa é apenas um momento, um mês. Estádios lotados, alta bilheteria, movimentação pela cidade e... acabou! Trata-se de um surto econômico, o qual deixa muitas coisas positivas para as suas cidades em termos de infra-estrutura, mas, limitando-se ao fator "estádio", devemos pensar no amanhã. Com todo o respeito, mas cidades como Rio Branco, Maceió, Cuiabá, Campo Grande, Manaus e Brasília não podem ser sede do mundial porque não têm clubes que participem ou estejam participando da primeira divisão. Simples. Não têm clubes de massa, não têm clubes de "marca" e, obviamente, não trariam o retorno ideal para um eventual investidor. De que adianta montar uma arena gigante para um clube pequeno e raquítico. Moderno, tudo bem, mas para a Copa o estádio deve apresentar outro quesito que é o tamanho, ou seja, em torno de 40, 45 mil pessoas. Um investimento que não vale muito a pena. Pensemos, por exemplo, que interesse teria a Kyocera (empresa que dá seu nome à arena do Atlético-PR) em dar seu nome à arena de Rio Branco? A sua divulgação se limitaria às fronteiras do estado. Portanto, creio que as empresas (além da FIFA e da CBF), gostariam que a Copa se limitasse á regiões mais centrais do futebol brasileiro, optando por mais estádios modernos, em centros de "retorno garantido".
De todos esses casos, o mais interessante e "menos humilde" é Brasília. Tudo bem, capital federal, constantemente exposta à mídia, mas sem um time decente (com todo respeito ao Guará, Gama, Brasiliense...). Nenhuma dessas equipes é de massa, como o Remo e o Paysandu, no Pará, Santa Cruz, Sport e Náutico, no Recife, ou, até mesmo, o Goiás, em Goiânia. São clubes que, literalmente, se limitam à periferia da cidade, cujos torcedores se tratam, na verdade, de "simpatizantes", os quais torcem, de fato, para times do sudeste/sul do país. É inconcebível, até patético, Brasília se candidatar a sediar jogos da copa nessas condições e, pior ainda, apresentar um projeto de estádio (Mané Garrincha reformado) para 75 mil pessoas, o maior depois do Maracanã. Esse estádio, por mais "multiuso" que possam torná-lo, jamais será rentável. Sabem quando que 75 mil pessoas encherão o "Mané"? Algum jogo da Seleção Brasileira, ou algum confronto contra o Corinthians ou o Flamengo. Depois, não mais. Nem nas finais do campeonato do DF todos esses assentos serão preenchidos. Pior do que candidatar-se a ser sede é aspirar a ser o local em que haverá o jogo de abertura da competição. Ora, me parece óbvio que, política e historicamente, as cidades que deveriam fazer a abertura e o encerramento do mundial deveriam ser São Paulo (por seus quatro vitoriosos clubes, tanto em nível nacional quanto internacional, e por ser a principal cidade do país, em termos econômicos e populacionais) e Rio de Janeiro (pelos mesmo motivos de São Paulo, além do fator tradição, que remonta a copa de 1950). O que Brasília quer? Que concorrência real há? A verdade é que Brasília visa sediar algum desses jogos importante apenas para divulgar seus políticos populistas. Ponto final.
Concretamente falando, o que eu defendo? Menos cidades, mais estádios de qualidade e rentáveis por longo período de tempo. Olhemos para São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro: tudo leva a crer que, em 2014, tais cidades abrigarão, no mínimo, cada uma, dois "estádios-fifa". O Morumbi será remodelado, mas cogita-se construir um outro estádio, nos moldes do Engenhão, o qual deverá ser concedido a algum clube da capital; em Porto Alegre, o Beira-Rio já vem se trasformando, devendo ser, em sete anos, o mais bonito do Brasil, enquanto que a "Arena Tricolor", novo estádio do Grêmio, começará a ser erguida ano que vem; o Rio possui um Maracanã que, a exemplo do Beira-Rio, vem se transformando, além do Engenhão, carente de poucos detalhes para estar no "padrão FIFA". Em três cidades, seis arenas! Em Curitiba, haverá a Kyocera Arena "completa" (com anel fechado); Florianópolis não tem clube de massa, mas o Figueirense apresentou um projeto real de reformulação de seu estádio, além do fato de a capital catarinense estar crescendo muito economicamente, graças ao turismo, em especial (trata-se da segunda cidade mais visitada do Brasil, atrás apenas do Rio de Janeiro); o Mineirão ficará perfeito, além de ser o campo de duas das maiores torcidas do Brasil - Cruzeiro e Atlético-MG; os estádios de Recife sempre lotam e seus clubes, ano sim, ano não, pelo menos, vivem circulando pela primeira divisão, sendo a Arena Recife-Olinda um empreendimento que certamente dará certo, considerando o potencial econômico da cidade, um pólo do turismo no Brasil; finalmente, Salvador, com toda a sua importância histórica e pelo fato de ser um destino muito apreciado pelos turistas.
Assim, creio que essas deveriam ser eleitas as cidades-sede, utilizando-se todos os seus respectivos estádios. Tratam-se de lugares cujas arenas com certeza não se tornariam "elefantes brancos", rendendo muito por todo os seus períodos de concessão. Seria o melhor para as empresas, e o mais racional, também. Não sou contra estádios modernos em regiões distantes dos centros ou onde o futebol é fraco, mas contra mega-investimentos visando a Copa, dando origem a problemas para a comunidade. No caso da Arena da Floresta, no Acre, vislumbramos um estádio moderno, porém pequeno, proporcional aos clubes e à torcida da região. Importante frisar que esse comentário tem em vista a Copa de 2014 e o depois.
A Copa do Mundo de 2014 será um grande evento, devendo o país apresentar o que tem de melhor, e isso inclui, além dos estádios, as cidades. É importante mostrarmos nosso potencial máximo, e os investimentos, de longo prazo, precisam ter um retorno garantido, e não um prejuízo pós-copa. A política deve sair de cena, sendo crucial que seja dada atenção somente às capacidades das cidades. A Copa é o maior evento esportivo do mundo, depois das Olimpíadas, e não podemos arriscar fazer feio. As cidades não podem ser muito distantes umas das outras, daí o porque dos jogos deverem se concentrar no sudeste-sul e um pouco no nordeste.
Uma pequena simulação:
Grupos A e B - jogos em Porto Alegre e Florianópolis (Beira Rio, Arena do Grêmio e Orlando Scarpelli), Grupos C e D - São Paulo e Curitiba (Morumbi, "outro estádio" e Kyocera Arena); Grupos E e F - Rio de Janeiro e Belo Horizonte (Maracanã, Engenhão e Mineirão); Grupos G e H - Salvador e Recife (Arena da Bahia e Arena Recife-Olinda).
Pronto. Oito cidades, todas próximas umas das outras, e onze estádios, os quais, com certeza, trariam retornos econômicos aos seus clubes por um longo período. Claro que o ideal seria uma copa que "integrasse" o Brasil, mas o problema é, como já disse antes, o depois. Portanto, que assim seja a Copa!
Publicado originalmente em 29/11/2007, no blog RENAÇÕES - renanguimaraes.zip.net - antigo blog do autor.
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