Pular para o conteúdo principal

Esses tempos eu estava conversando com uma colega da faculdade, e ouvi todo o seu desabafo sobre o desgaste pelo qual passa em seu ambiente de trabalho. Essa minha colega é uma funcionária pública, e se lamuriava sobre a falta de solidariedade e sensibilidade existente no órgão no qual atuava. Entre uma palavra e outra, reclamações e lamentações sobre o maldito dia em que fora aprovada bem colocada naquele concurso. Eu, ouvindo, pouco tinha a dizer, a não ser um "siga em frente", "trabalhe e desligue-se", etc. É claro que minhas palavras não eram em nada reconfortantes, pois qualquer um poderia proferi-las e, aparentemente, soavam como superficiais e desinteressadas. Todavia, não são tão superficiais assim.

Sou jovem e nunca trabalhei, no sentido legal do termo. Apenas estagiei (como ainda o faço), o que não deixa de ser uma forma de trabalho, afinal, o estagiário faz o mesmo que muitos funcionários, principalmente em órgãos públicos. De qualquer forma, a questão é que tenho alguma mínima experiência de vida decorrente de alguns anos de labor, sobre os quais, hoje, faço uma constatação: como a nossa vida é afetada pelo nosso trabalho! Afetada de uma forma incrível, a ponto de muitas vezes não conseguirmos dormir, e, o que é pior, determinando a nossa felicidade ou tristeza. Existem alguns serviços que acabam, invariavelmente, dominando a nossa mente em momentos que deveríamos reservá-la apenas para nós ou para os amigos ou familiares. Todavia, há outros em que, no momento em que termina o expediente,deixamos tudo de ruim dentro daquela repartição e reornamos à casa na santa paz. A maioria dos serviços públicos burocráticos são assim, e isso é uma vantagem. Eu, que já estagiei em vários órgãos públicos, e quase sempre exercendo funções burocráticas, percebi que não adianta nada deixarmos algo desses serviços afetarem a nossa vida pessoal. Devemos chegar no ambiente, trabalhar o máximo que pudermos, mas sempre ter consciência de que não há motivos para levar todo eventual estresse para casa.

É duro trabalhar ao lado de pessoas desinteressadas. Eu já passei por isso, assim como a maioria das pessoas. O fato é que isso sempre vai existir, sempre haverá os aplicados e os encostados, assim como muitas injustiças, como o encostado sendo, em muitas ocasiões, mais valorizado do que o aplicado, e é isso o que mais deixa as pessoas bem intencionadas e esforçadas indignadas em seus ambientes de trabalho: a sub-valorização. Entretanto, devemos lutar para sermos vistos, mas, ao mesmo tempo, não tornar isso as nossas vidas. Tudo é efemeridade, e o trabalho e o dinheiro não podem ser a razão de vivermos. Um ambiente ruim de trabalho é dose, mas pior é ter um lar ruim, com familiares desunidos, pais desinteressados, filhos ingratos e desamorosos, irmãos inimigos, falta de fé. Isso é ruim mesmo. Pois o ambiente de trabalho é uma porta que se abre numa hora e se fecha noutra, e o dinheiro se ganha, se gasta, se poupa, mas morremos e ele fica para os outros, se é que fica. De qualquer forma, aquilo com o que devemos, de fato, nos preocupar, é com a saúde dos nossos lares, pois é a partir de lá que faremos pessoas melhores que tornarão o mundo melhor, inclusive os ambientes de trabalho pelos quais elas passarão. Isso é um legado, e é para isso qued evemos dedicar as nossas vidas.

O seu colega é preguiçoso e você trabalha que nem um cão, mas o outro é, mesmo assim, mais valorizado? A vida é assim. Lute para mudar a situação, mas não torne isso o centro da sua vida, não carregue isso para o lar. A sua casa é o seu templo, e leve para lá Deus e o seu amor, pois, aí sim, tudo ficará sempre bem.

A vida não é parte do nosso trabalho, mas o nosso trabalho é parte da nossa vida. A maioria das pessoas não trabalham onde querem, e mutos dos seus sonhos profissionais não se realizaram. Infelizes? Não necessariamente. Se o são, não perceberam o constante na primeira frase desse parágrafo. O fato é que devemos trabalhar, lutar pelo melhor, ir atrás dos nossos sonhos, mas nunca deixar que essa busca se torne uma obcessão, a qual sempre vem acompanhada por uma certa frustração. "Por isso, não fiquem preocupados com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã trará suas próprias preocupações. Para cada dia, bastam as suas próprias dificuldades" (Mt. 6:34).

Estar bem num bom ambiente de trabalho é o ideal, mas o não estar não significa o fim da vida. A vida está no amor do lar, dos amigos e, acima de tudo, no amor de Deus.

Publicado originalmente em 15/05/2008, no blog RENAÇÕES - renanguimaraes.zip.net - antigo blog do autor.

COMENTÁRIOS


[Aleja] [rwchaves@terra.com.br] [http://contratemposmodernos.blogspot.com]
Opa, bem legais os teus textos, mas ainda sinto falta das tuas narrativas. Continua postando, o importante é escrever. Abraços

01/06/2008 22:53

[MÃE] [greta.guimaraes@uol.com.br]
Oi filhão! Te amooo!!! Adoro ler o teu blog, é de uma sensibilidade incrível!

17/05/2008 18:31

[PAIZÃO] [p.renato@ecotelhado.com.br]
Meu querido filho. Pelo visto já sabes muito da vida, talvez muito mais do que uns e outros de 50 para cima. Que consigas manter o equilíbrio perante as dificuldades da vida e que passes este legado aos teus filhos. Grande beijo do Paizão

16/05/2008 19:10

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CASAMENTO É UMA MARATONA

  Ontem o dia foi corrido e realmente não deu para fazer a reflexão a partir de um #tbt. Porém, por que não um #fbf (Flashback Friday)? A vida já é dura demais para condicionarmos lembranças a dias específicos da semana! Pois na quarta-feira escrevi sobre símbolos e me inspirei na linda celebração de casamento que fiz na @loja_loveit, entre a @adrianasviegas e o @tales.viegas e, claro, a lembrança da semana, precisava ser a deles.   Pra quem não sabe, os dois se conheceram e, mais tarde, iniciaram seu namoro a partir de maratonas, e esse esporte muito tem a ensinar quando se fala em relacionamentos e, claro, matrimônio.   Em uma maratona, em meio a confusão da largada, a única certeza é a incerteza acerca do que virá nos primeiros metros ou nos quilômetros finais da prova. Logo nos primeiros passos, é possível que tropecemos em algum atleta que venha a tombar, podemos ficar ansiosos ante a dificuldade em avançar rapidamente, e é difícil prever precisamente qual será o...

Dica de Tiras - High School Comics

Essa tira foi desenhad a por um amigo meu, Rodrigo Chaves, o qual realizou tal trabalho em parceria com outro artista, Cláudio Patto. Acho simplesmente excelente essa série de tiras chamada "High Shool Comics", que trata do cotidiano da vida escolar, sempre com bom humor. Mereceria aparecer todos os dias nos jornais, sem dúvida. Se a visualização não ficou boa, cliquem na imagem. Querem ver mais? Então acessem: http://contratemposmodernos.blogspot.com .

POR QUE A FANTASIA?

  Amanhã é natal, e duas imagens me vêm à cabeça: a do presépio e a do Papai Noel. Claro que a primeira é muito mais importante do que a segunda, mas a nossa cultura está aí e é inevitável pensarmos no barbudinho de vermelho. Quando alimentamos o símbolo do Papai Noel, alimentamos a fantasia, e não se trata de uma fantasia qualquer. As crianças crescem ouvindo sobre ele, o trenó, os duendes, o Polo Norte, a descida pela chaminé e tudo o mais, até que, um dia, vem a aguardada pergunta, o rompimento de uma fronteira do seu amadurecimento, e nada nos resta a não ser dizer a verdade. Lembro-me de quando fiz a pergunta e da tristeza ao ouvir a resposta, recordo-me da reação ainda mais decepcionada e revoltada do meu irmão, e temo por isso quando chegar o momento da revelação para as minhas filhas. Então, por que alimentamos essa fantasia? Tolkien entendia de fantasia. Sem fazer uso de alegorias como as do seu amigo C. S. Lewis, ele queria desenvolvê-la como uma ilustração da Verdade ...