Oscar Nimeyer é o nosso herói-arquiteto. O cara sempre foi talentoso, desde o seu período "normalzinho" (até os anos 40, mais ou menos), e, principalmente, a partir da sua fase "cúrvica", na qual começou a projetar obras cada vez mais grandiosas, verdadeiros monumentos modernos e, ao mesmo tempo, funcionais. O que pareceria uma escultura, num primeiro momento, tratar-se-ia, na verdade, de um prédio, um memorial ou uma igreja. Até cidade ele projetou. O que fez tal mestre conquistar o mundo em sua área de atuação foi justamente o fato de dar funcionalidade às suas curvas, sempre com algum propósito artístico intrínseco. Niemeyer, um brasileiro, tornou-se um dos maiores arquitetos do mundo - e merecidamente. Hoje, ainda vivo e saudável, segue trabalhando. Um dos seus próximos projetos em vias de sair do papel provavelmente será implantado em Porto Alegre, na orla do Lago Guaíba, próxima ao Anfiteatro Pôr-do-Sol e em frente a um belo parque, o Maurício Sirotsky Sobrinho (o "Harmonia"). Pois é. Um grande arquiteto, grandes obras, centenário...A cidade só tem a ganhar, certo? Afinal, teríamos uma grande atração turística, e isso é bom, oras. Errado!
Oscar Niemeyer é um arquiteto ultrapassado, e o mundo pede coisas diferentes do que aquelas que ele oferece. Chocante? Nem tanto. Observemos umas de suas obras-primas: o MAC de Niterói (o "disco voador da Baía de Guanabara"): lindo, é verdade, mas possui uma área enorme totalmente sem utilização e absolutamente impermeabilizada pelo seu maldito concreto branco. Um absurdo. Por acaso é contra a ideologia (jamais religião, pois ele é ateu) de Niemeyer plantar grama? Seria algo que destruiria a sua obra de arte arquitetônica? Claro que não. O "Caminho Nimeyer", também de Niterói, é um grande espaço sem nada de verde, apenas sufocado pelo seu "temperinho" que sempre o acompanha nas suas grandes obras. O Rio de Janeiro, no verão, arde mais que o inferno, e todo aquele bafo é refletido nas obras de Niemeyer. Tal arquiteto não precisaria mudar seu estilo, apenas adaptá-lo. Outro exemplo: a Praça dos Três Poderes, em Brasília. Uma mega área concretada, sem árvores nem nada, num lugar onde não chove durante seis meses do ano e cuja falta de umidade gera até falta de ar na população em determinadas épocas do ano. Finalmente, Porto Alegre: uma área enorme servirá com um memorial em homenagem aos grandes líderes trabalhistas da nossa história recente - Getúlio, Jango e Brizola. Contudo, será tudo construído no estilo "concretão branco" do consagrado arquiteto, impermeabilizando toda aquela parte da orla do Guaíba. Achei, num primeiro momento, boa a iniciativa de revitalizar a região com uma obra desse porte mas, por outro lado, é urgente que hajam algumas determinações preliminares, como uma porcentagem de, no mínimo, 20 ou 30% da área com cobertura vegetal. E não adianta dizer que vai plantar em outra área a quantidade devastada, porque o impacto será sentido lá, na orla. O bafão será criado, a água não será absorvida pela terra, correndo na direção do asfalto a ajudando nas formações das enchentes. Meu Deus! Todos sabem disso!
Oscar Nimeyer é um arquiteto espetacular,e não tem culpa de ter essa mentalidade "anti-verde", pois seu auge e a própria criação e consolidação de seu tão destacado estilo ocorreu no período de maior ignorância da humanidade quanto a preocupações ambientais - o pós-guerra, passando pelos "progressistas" anos 50, 60 e 70, até a bolha dos 80. Seria um crime forçá-lo a mudar o seu estilo, e não é isso que proponho, mas sim uma convivência entre curvas e vegetação. Que seja construído o tal memorial em Porto Alegre, mas onde não há memorial nem o caminho a ser percorrido entre as três obras, que seja mantido ou até incrementado o verde. O mundo pede isso, não há o que se discutir. Por que teríamos que "andar para trás"? Apenas para satisfazer uma grife?
Nosso herói-arquiteto, tão imerso em ideologias não-duradouras, utópicas e, dentro do mundo real, autoritárias, precisa ter a humildade de adaptar-se, mesmo sendo alguém tão experiente e idoso, e que isso não seja encarado como uma humilhação ou falta de respeito, mas como um favor à humanidade e, muito além disso, à vida. Que sua insensata bandeira vermelha seja encostada, estirando outra, a qual não se trata de uma "onda", mas de sobrevivência: a verde.
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