Na Antigüidade, os romanos construíram o coliseu e instituíram a chamada "Política do Pão e Circo" para iludir a plebe e aliená-la das questões relevantes da sua vida, buscando evitar que tal massa se preocupasse com a política e seus direitos. Uma medida maquiavelicamente inteligente, a qual ajudou a blindar internamente aquele magnânimo império, servindo de inspiração para os dias atuais.
Sim, inspiração. O nosso coliseu é, além do estádio de futebol, as transmissões via TV e rádio dos seus jogos, e o pior é que nem pão gratuito tem mais! No máximo alguma promoção, mas para isso temos que dar uma contrapartida, como sermos sócios de um clube, assinar alguma coisa, pagar isso ou aquilo, etc. Brincadeiras à parte, venho por esta postagem (que espero que alguém leia, além de mim e de Deus) comentar sobre a alienação que o futebol gera em nossas vidas, mas não apenas no aspecto político, mas geral.
Segunda-feira, após uma noite curta de sono (afinal, buscamos prolongar ao máximo o nosso fim-de-semana, com a esperança de que a Segunda não chegue), a primeira coisa que eu faço é pegar o jornal que minha família assina (o mais rápido possível) e ler o caderno de esportes. Lá, me deparo com notícias muto "úteis", como aquelas referentes ao jogo do fim-de-semana (sobre o qual, no dia anterior, eu já havia ouvido todos os comentários na TV e no rádio, bem como assistido ao jogo e aos seus melhores momentos antes de dormir), além das colunas com os comentários dos especialistas. Depois de perder preciosos minutos fazendo isso, enfim fecho o jornal e sigo minha vida com a opinião formada (referente a futebol, claro). E as outras notícias? Política? "É tudo corrupto, não perco o meu tempo"! Economia? "Só falam dessa crise! Que saco, por que ler isso?" O mundo? "O que eu quero saber com o que acontece do outro lado do planeta?" Polícia? "Bah, cansei de desgraceira!" A cidade? "Só notícia inútil!"...Enfim, os esportes são o que a maioria da população de fato acha relevante. Mas, na prática, na prática mesmo, que diferença faz o futebol nas nossas vidas? A resposta é: nenhuma! Todavia, podemos relativizar isso, dizendo que faz uma diferença sentimental, afinal, a relação entre o clube e o seu torcedor é de amor, etc. Contudo, esse amor se baseia no quê? Não há, na prática, uma contrapartida direta. Se o time ganha, ficamos felizes; se perde, tristes. Contudo, com exceção dos jogadores e daqueles que trabalham no meio, ganhando ou perdendo o clube, nossa vida sempre será a mesma.
Passa a semana e a maioria das pessoas apenas lê a seção de esportes, na expectativa do jogo do meio ou do fim-de-semana. Enfim, chega o domingo! No rádio, a cobertura abrange quase metade do dia, e a televisão não fica muito longe disso. O churrasquinho de domingo, invariavelmente, desemboca em algum jogo de futebol e... o domingo acaba! Vejam os leitores: considerando que no domingo acordamos tarde, entre 11 e 13h; que, em razão disso, o almoço sai tarde, entre 13 e 15h; e que o jogo de futebol começas entre as 16 e as 18h (com duas horas de duração), concluímos que o domingo é, no mínimo, mutilado pelos jogos aos quais, absurdamente, fazemos questão de sempre assistir! Quantos domingos ou sábados ensolarados, os quais estavam perfeitos para fazer um passeio, sentar ao sol, apreciar o Guaíba, namorar, foram trocados por um sofá, guloseimas e um jogo de futebol? Quantas horas se foram nisso? É de se pensar. A questão toda é que não há razão nisso tudo. Eu me encaixo nessas pessoas que se alienaram por causa do futebol. Não necessariamente no aspecto político, econômico, etc, mas no aspecto do lazer mesmo!
Esses dias eu estava passando em frente ao Jardim Botânico de Porto Alegre e percebi que estou namorando há quase quatro anos e nunca fui lá com a minha namorada! Por quê? Culpa do futebol! Se assistir aos jogos do meu time fosse uma exceção, tudo bem. Acontece que isso se tornou um hábito quase religioso, chegando ao ponto de eu deixar de ir à Igreja para contemplar e torcer por um bando de pernas-de-pau correndo atrás de uma bola. O pior é que essa alienação gera uma "futebolcentrismo" perigoso, tendo conseqüências violentas. Há pessoas que começaram torcendo discretamente, mas acabaram manipuladas de tal modo que tornaram o futebol a razão de suas vidas, vivendo e, pasmem, matando por ele! Isso é inadmissível, mas o pior é que vem aumentando cada vez mais, na onda da falta de valores da nossa sociedade contemporânea. No início, começamos a ignorar o que acontece ao nosso redor apenas para acompanhar futebol; depois, deixamos de fazer qualquer coisa para não afetar o futebol, seja deixando de estudar, namorar, passear, assistir à aula, ir à Igreja e, até, praticar esportes, entre eles o próprio futebol; por fim, tornamos esse esporte o centro de nossas vidas, razão da nossa existência, uma total e nojenta idolatria que vem a nos afastar da coexistência harmoniosa com a sociedade e, até, de Deus, considerando o que muitos vem a fazer "em nome do futebol ou do clube de coração".
Enfim, o futebol é um esporte incrível e apaixonante, mas tudo tem limites. Nunca podemos esquecer que se trata de um simples entretenimento, e que não vale a pena sacrificarmos a nossa vida apenas para sofrer ou vibrar por algo que, na prática, na prática mesmo, nada nos dá em troca. Abaixo o falso deus Futebol e salve o esporte, grande modalidade que em muito nos exercita e diverte, mas que não merece (mesmo porque não vale a pena) ser o centro de nossas vidas! Cansei de domingos e horas de lazer, estudo, namoro e contato com Deus desperdiçados por causa do futebol! Aproveitemos os nossos domingos sem medo de perder um jogo de futebol! E não leiam o jornal de trás para frente!
COMENTÁRIOS
[edisson] [edisson_ferreira@yahoo.com.br] [mokola.wordpress.com] Concordo com o Gustavo e com o tal de Henrique. Concordo com o senhor também, mas gosto dos shows do tricolor, os outros poderiam aproveitar melhor a vida né? Grato 20/05/2009 21:35 | |
[vellinho] [fe.vel@terra.com.br] Cara, "homo sapiensicamente" falando, somos os únicos aniamis que trabalham sem ser pela comida. Criamos o dinheiro, e nos matamos por ele, seja para sustentar o que for. Vejo o entretenimento (futebol, cinema, sitcoms) como ferramentas indispensáveis no sistema social vigente, para que se possa, ao menos uma ou duas vezes por semana, vivenciar uma alegria pura e infantil, como torcer por um gol. Claro que virou uma indústria, como qualquer outra coisa no mundo, mas ao menos durante aqueles 90 minutos, alegro-me de não me preocupar com nada, a não ser com a bola criando vida, sob pés modestos - como sempre- mas guerreiros e sangrentos militantes tricolores. Pés Gaúchos. Abrass! Liberta 2009 não tem erro! 16/12/2008 03:47 | |
[Gustavo Altreiter] Eu sou um alienado, futibolisticamente falando, e vou continuar sendo. Me desculpe Renan. Abração Renan 08/12/2008 14:25 | |
[Roberta] [eu.robs@gmail.com] Meu amor,nem preciso dizer o quão orgulhosa e feliz fiquei por ter lido esse texto maravihoso!!Também adoro acompanhar o futebol,mas penso que seja bem melhor sair para passear,namorar e ficar mais próximos ainda de Deus nos finais de semana (ainda mais que as férias estão chegando,neh gatinho?!)! Te amo demais e pra sempre meu lindo!! Muitos beijos da namorada mais apaixonada do mundo ps:Quando será essa visita ao Jardim Botânico?heheheheh 29/11/2008 10:48 | |
[Daniela Strüssmann] Oi Renan! Passei por aqui! Também concordo que o futebol ocupa um lugar importante na vida de algumas pessoas, importante até demais. Para mim, penso o mesmo que tu, só que no meu caso são "novelas" e "seriados" que ocupam meu tempo de forma indevida. Oremos pra que isso mude! Te amo muito! BEIJOS 28/11/2008 22:15 | |
[henrique] [henriqguima@bol.com.br] muito bom. Mas ainda vou ler de tras pra frente o o jornal, nao estudar nos fins de semana e matar aula quando tiver show do tricolor! 27/11/2008 12:00 |
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