Todo mundo é hipócrita, em maior ou menor grau. Por mais retos que sejamos, jamais seremos perfeitos e, vira e mexe, escorregamos realizando coisas que criticamos. A maioria das pessoas, por exemplo, acha um absurdo xingarmos no trânsito, mas muitas delas acabam "caindo nessa tentação" quando a circunstância é propícia. Do mesmo modo, vivemos dizendo que a violência não leva a nada, até o dia em que vemos alguém agredir, na nossa frente, um amigo, irmão ou qualquer pessoa querida. Outro exemplo bom são os meios de comunicação que adoram falar que o grande problema da sociedade é a crise da família, sua falta de diálogo do seu processo crescente de desagregação, mas vive incentivando que ninguém saia da frente da TV.
Ainda falando dos meios de comunicação, esses dão créditos para músicos que historicamente incentivam o uso de maconha (que é uma droga ilícita, prejudicial à saúde e sua origem dá-se no submundo do tráfico), mas faz uma ferrenha campanha contra o crack (o qual é uma droga muitíssimo mais pesada que a maconha, mas vale sempre perguntar qual droga foi experimentada, na maioria das vezes, antes). Há também a hipocrisia referente ao "beba com moderação" das bebidas alcoólicas, o que é inegável, bem como a referente às indenizações relacionadas ao uso do cigarro (que de fato se trata de um veneno, mas cuja indústria sempre obedeceu às normas públicas, além de tratar-se de uma atividade lícita). Em relação ao cigarro, o que torna tal exemplo ainda mais bizarro é o fato de que o governo permitia – e permite - a comercialização dessa droga, cujas empresas fabricantes obedeciam (e obedecem) aos termos estabelecidos, mas agora têm que pagar por terem respeitado às normas anteriormente postas.
Esses exemplos serviram apenas para escancarar a hipocrisia. Existem infinitos outros que permeiam as nossas relações. No entanto, o foco dessa crônica é a hipocrisia em torno de um princípio cujo grande impacto é sentido desde a segunda metade do século XX e clamada com ainda mais força nos tempos atuais: a dignidade da pessoa humana.
O modo como a sociedade, na teoria, encara a dignidade da pessoa humana é quase religioso. Quase todos os processos judiciais, por exemplo, mencionam esse princípio. A dignidade da pessoa humana, dizem os estudiosos, foi aventada, primeiramente, pelo cristianismo, religião que não vê ninguém como diferente, pregando o respeito e o amor a todos, seja eles judeu, cristão ou "gentio" (não-judeu e não-cristão). O cristianismo se propagou bastante e com força até o séc. XIX, mas os seus valores radicais (não no sentido violento da palavra, mas no sentido literal, de raiz) acabaram postos de lado, dentre eles o sincero amor ao próximo. Limitando-se ao aspecto diplomático (pois essa análise de influência do cristianismo verdadeiro é muito mais ampla e profunda), do mesmo modo, os países "cristãos" não agiam como tal, tendo como consequência máxima a escravidão, os imperialismos e as guerras mundiais. Somente depois do trauma da 2ª Guerra Mundial e da consciência de que um novo conflito culminaria, sem dúvida, no extermínio da humanidade, é que a maioria das nações do planeta se uniu em prol da paz por meio da assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e fundou a ONU, que buscaria defender a paz e tais direitos humanos ao redor do globo. A defesa da dignidade da pessoa humana, um dos princípios mais básicos do cristianismo, enfim era defendida (embora sem a referência religiosa) como a solução para a manutenção da paz na humanidade.
Tudo muito lindo e admirável. Contudo, se olharmos para aquele momento, quem estava lá, fundando a ONU e assinando essa declaração? Os EUA, que, à época, ainda possuíam unidades federativas que tinham políticas explicitamente segregacionistas; a Inglaterra, que explorava a África e outros cantos do mundo de modo avassalador, assim como fazia a França; a URSS, uma nação totalitária que matava e/ou mandava para campos de trabalhos forçados os opositores de seu regime. Mais tarde, entraria para o clube dos chefes da humanidade, que é o Conselho de Segurança da ONU, a China, numa época em que os chineses exterminavam qualquer mosquinha que dissesse que o azul era melhor que o vermelho, por exemplo. Hoje a URSS não mais existe, mas a Rússia, principal república que compunha tal união socialista, e que mantém grande parte do seu poderio geográfico, energético, militar e, agora num período capitalista, consumidor, ainda faz parte de tal conselho.
Na verdade, o que vemos é o seguinte: a ONU existe para impedir que o mundo seja destruído. Ponto final. Todos os cinco membros do seu Conselho de Segurança possuem armas nucleares. Além deles, somente Índia, Paquistão e Israel têm esse tipo de armamento. Há boatos de que a Coreia do Norte também. O seu objetivo, no frigir dos ovos, é um só: impedir que esses países se destruam. Defesa dos direitos humanos, da dignidade da pessoa humana? Balela!
A defesa dos direitos humanos feita pela ONU é apenas consequência do interesse desses países. Um exemplo: invasão do Iraque. Os EUA queriam invadir o Iraque sob o pretexto de que esse país estava construindo armas de destruição em massa, como químicas e biológicas. O Conselho de Segurança, depois de incontáveis vistorias dos técnicos da ONU, vetou a invasão. Contudo, os EUA fizeram uma banana para o CS e invadiram o país do oriente médio e, pior, sequer se preocuparam em "plantar provas": admitiram não terem encontrado arma nenhuma, e tudo ficou por isso mesmo. O Iraque, apesar de, à época, viver sob um duro regime ditatorial, era uma nação soberana, mas restou invadida e seu líder, enforcado pelos invasores. Uma ação completamente imperialista e injustificada. Ou melhor, seria justificada, mas a hipocrisia deslegitima essa justificativa, como veremos a seguir.
A consciência do povo norte-americano, mesmo depois da notícia de que Saddam Hussein não era uma ameaça real aos EUA, manteve-se leve, pois se pensava que "pelo menos caiu um ditador sanguinário e instaurar-se-á uma democracia justa que fará a liberdade reinar no Iraque". O problema é que essa gente, assim como quase todos do planeta, precisa olhar um pouco mais ao seu redor e perceber o que está em questão. A China, por exemplo, é uma república que persegue e condena, sem o devido julgamento e contraditório, à prisão, a trabalhos forçados ou até à morte pessoas que criticam o governo ou apenas expressam suas opiniões religiosas. No entanto, o governo chinês conseguiu aliar o socialismo ao capitalismo de tal forma que a sua economia parece se expandir sem horizontes que a limitem. O detalhe é a exploração do trabalhador chinês, cuja ausência de férias, salários baixíssimos e carga horária desumana, e exploração infantil tornam incomparavelmente baratos os produtos oriundos do gigante asiático. Todavia, os EUA não se atrevem a criticar efusivamente a China, um país com mais de 1,5 bilhão de consumidores, quero dizer, pessoas. Do mesmo modo, os EUA não ousam criticar a Arábia Saudita, uma das ditaduras mais pesadas do globo, lugar onde as mulheres são discriminadas, cristãos, pesadamente perseguidos e homossexuais, mortos, mas parceiro econômico e grande fornecedor de petróleo. Em relação ao Irã, por exemplo, é correto o fato de criticar Mahmoud Ahmadinejad, mas isso só ocorre porque o sonho dos EUA é invadir o Irã, assim como fez com o Iraque, pois lá há grandes jazidas de petróleo e seu governo se declara inimigo mortal dos ianques, bem como não lhes abre as portas de sua economia e fontes energéticas. No entanto, ditaduras tão ou mais sanguinárias e crueis dominam a maioria dos países africanos, mas como tais nações não possuem riquezas que interessem aos EUA ou a qualquer país poderoso, faz-se vista grossa para esses problemas.
Uma breve observação: ditaduras militares sul-americanas nas décadas de 60, 70 e 80. Um período negro, de severas perseguições políticas, total ausência de liberdade de expressão e violência política através da tortura e da repressão indiscriminada. Tudo sob a aprovação da ONU e das nações poderosas, em especial os EUA. O motivo da prostituição? Política (defesa contra o comunismo em expansão) e, consequentemente, econômica. Dignidade da pessoa humana? Esquece!
Enfim, chegamos ao caso brasileiro. O Brasil almeja um cargo permanente no Conselho de Segurança da ONU, e não mede esforços para alcançar esse objetivo. É capaz de se prostituir para consegui-lo: troca os seus valores básicos, como a defesa da dignidade da pessoa humana, em favor da defesa de sua campanha. É o que fez quando da visita de Mahmoud Ahmadinejad, na última semana. Não vou comentar especificamente o fato de Lula ter defendido a autonomia do Irã para tocar o seu programa nuclear, nem sobre considerar legítimo o governo do líder iraniano, mas o simples fato de tê-lo recebido. Receber Mahmoud Ahmadinejad é a mesma coisa que receber o torturador, o executor, o perseguidor, o mentiroso. Um homem que nega o holocausto e defende a destruição de Israel e seu povo? Um homem que acha que os homossexuais devem morrer? Um homem que persegue quem não segue a sua fé? Um homem que dá abrigo a organizações terroristas? Sim, e o nosso presidente apertou a mão desse homem, que até que estava simpático em sua visita. Contraditório, não?
Outra hipocrisia brasileira: a Venezuela. Hugo Chávez persegue seus opositores políticos e dá abrigo a terroristas das FARC. Eternizou-se no poder e é provável que só sairá quando morrer, pois suas instituições estão tão apodrecidas e a liberdade de opinião é tão combatida que é praticamente impossível algum opositor sobressair-se. Uma democracia? É óbvio que não, mas uma tirania de uma suposta maioria liderada por um populista ignorante, porém esperto e sedento por poder. Mesmo assim o Brasil aceitou esse país como membro do Mercosul, cuja prerrogativa para dele fazer parte é justamente a existência de instituições democráticas sólidas, o que não é o caso venezuelano. A razão dessa prostituição brasileira é econômica, pois sua intenção é vender mais para os nossos vizinhos do norte. Não importa que jornalistas sejam perseguidos, que guerrilheiros terroristas sejam acolhidos e armados, que opositores sejam presos e cuja dignidade humana reste altamente ferida: se produtos brasileiros serão comprados por tal país, está valendo.
Enfim, vivemos na era da defesa explícita da dignidade da pessoa humana e, mais explícita ainda, da prostituição das nações em desfavor desse princípio e em favor de interesses políticos e econômicos. Alguém que já leu a Declaração Universal dos Direitos Humanos acredita naquilo? É válido acreditar, mas cabe ler o "parágrafo invisível" existente em todos os seus dispositivos e impresso pela "experiência diplomática" das nações: "Esse ponto será relativizado na hipótese de interesses econômicos de grande relevância serem ameaçados".
Não se enganem: o que reina e sempre reinará no nosso mundo, ao menos no aspecto diplomático, é a hipocrisia capitaneada por dinheiro e poder. A defesa da dignidade da pessoa humana existe, mas qual o preço que você estipularia para dela abdicar?
Ainda falando dos meios de comunicação, esses dão créditos para músicos que historicamente incentivam o uso de maconha (que é uma droga ilícita, prejudicial à saúde e sua origem dá-se no submundo do tráfico), mas faz uma ferrenha campanha contra o crack (o qual é uma droga muitíssimo mais pesada que a maconha, mas vale sempre perguntar qual droga foi experimentada, na maioria das vezes, antes). Há também a hipocrisia referente ao "beba com moderação" das bebidas alcoólicas, o que é inegável, bem como a referente às indenizações relacionadas ao uso do cigarro (que de fato se trata de um veneno, mas cuja indústria sempre obedeceu às normas públicas, além de tratar-se de uma atividade lícita). Em relação ao cigarro, o que torna tal exemplo ainda mais bizarro é o fato de que o governo permitia – e permite - a comercialização dessa droga, cujas empresas fabricantes obedeciam (e obedecem) aos termos estabelecidos, mas agora têm que pagar por terem respeitado às normas anteriormente postas.
Esses exemplos serviram apenas para escancarar a hipocrisia. Existem infinitos outros que permeiam as nossas relações. No entanto, o foco dessa crônica é a hipocrisia em torno de um princípio cujo grande impacto é sentido desde a segunda metade do século XX e clamada com ainda mais força nos tempos atuais: a dignidade da pessoa humana.
O modo como a sociedade, na teoria, encara a dignidade da pessoa humana é quase religioso. Quase todos os processos judiciais, por exemplo, mencionam esse princípio. A dignidade da pessoa humana, dizem os estudiosos, foi aventada, primeiramente, pelo cristianismo, religião que não vê ninguém como diferente, pregando o respeito e o amor a todos, seja eles judeu, cristão ou "gentio" (não-judeu e não-cristão). O cristianismo se propagou bastante e com força até o séc. XIX, mas os seus valores radicais (não no sentido violento da palavra, mas no sentido literal, de raiz) acabaram postos de lado, dentre eles o sincero amor ao próximo. Limitando-se ao aspecto diplomático (pois essa análise de influência do cristianismo verdadeiro é muito mais ampla e profunda), do mesmo modo, os países "cristãos" não agiam como tal, tendo como consequência máxima a escravidão, os imperialismos e as guerras mundiais. Somente depois do trauma da 2ª Guerra Mundial e da consciência de que um novo conflito culminaria, sem dúvida, no extermínio da humanidade, é que a maioria das nações do planeta se uniu em prol da paz por meio da assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e fundou a ONU, que buscaria defender a paz e tais direitos humanos ao redor do globo. A defesa da dignidade da pessoa humana, um dos princípios mais básicos do cristianismo, enfim era defendida (embora sem a referência religiosa) como a solução para a manutenção da paz na humanidade.
Tudo muito lindo e admirável. Contudo, se olharmos para aquele momento, quem estava lá, fundando a ONU e assinando essa declaração? Os EUA, que, à época, ainda possuíam unidades federativas que tinham políticas explicitamente segregacionistas; a Inglaterra, que explorava a África e outros cantos do mundo de modo avassalador, assim como fazia a França; a URSS, uma nação totalitária que matava e/ou mandava para campos de trabalhos forçados os opositores de seu regime. Mais tarde, entraria para o clube dos chefes da humanidade, que é o Conselho de Segurança da ONU, a China, numa época em que os chineses exterminavam qualquer mosquinha que dissesse que o azul era melhor que o vermelho, por exemplo. Hoje a URSS não mais existe, mas a Rússia, principal república que compunha tal união socialista, e que mantém grande parte do seu poderio geográfico, energético, militar e, agora num período capitalista, consumidor, ainda faz parte de tal conselho.
Na verdade, o que vemos é o seguinte: a ONU existe para impedir que o mundo seja destruído. Ponto final. Todos os cinco membros do seu Conselho de Segurança possuem armas nucleares. Além deles, somente Índia, Paquistão e Israel têm esse tipo de armamento. Há boatos de que a Coreia do Norte também. O seu objetivo, no frigir dos ovos, é um só: impedir que esses países se destruam. Defesa dos direitos humanos, da dignidade da pessoa humana? Balela!
A defesa dos direitos humanos feita pela ONU é apenas consequência do interesse desses países. Um exemplo: invasão do Iraque. Os EUA queriam invadir o Iraque sob o pretexto de que esse país estava construindo armas de destruição em massa, como químicas e biológicas. O Conselho de Segurança, depois de incontáveis vistorias dos técnicos da ONU, vetou a invasão. Contudo, os EUA fizeram uma banana para o CS e invadiram o país do oriente médio e, pior, sequer se preocuparam em "plantar provas": admitiram não terem encontrado arma nenhuma, e tudo ficou por isso mesmo. O Iraque, apesar de, à época, viver sob um duro regime ditatorial, era uma nação soberana, mas restou invadida e seu líder, enforcado pelos invasores. Uma ação completamente imperialista e injustificada. Ou melhor, seria justificada, mas a hipocrisia deslegitima essa justificativa, como veremos a seguir.
A consciência do povo norte-americano, mesmo depois da notícia de que Saddam Hussein não era uma ameaça real aos EUA, manteve-se leve, pois se pensava que "pelo menos caiu um ditador sanguinário e instaurar-se-á uma democracia justa que fará a liberdade reinar no Iraque". O problema é que essa gente, assim como quase todos do planeta, precisa olhar um pouco mais ao seu redor e perceber o que está em questão. A China, por exemplo, é uma república que persegue e condena, sem o devido julgamento e contraditório, à prisão, a trabalhos forçados ou até à morte pessoas que criticam o governo ou apenas expressam suas opiniões religiosas. No entanto, o governo chinês conseguiu aliar o socialismo ao capitalismo de tal forma que a sua economia parece se expandir sem horizontes que a limitem. O detalhe é a exploração do trabalhador chinês, cuja ausência de férias, salários baixíssimos e carga horária desumana, e exploração infantil tornam incomparavelmente baratos os produtos oriundos do gigante asiático. Todavia, os EUA não se atrevem a criticar efusivamente a China, um país com mais de 1,5 bilhão de consumidores, quero dizer, pessoas. Do mesmo modo, os EUA não ousam criticar a Arábia Saudita, uma das ditaduras mais pesadas do globo, lugar onde as mulheres são discriminadas, cristãos, pesadamente perseguidos e homossexuais, mortos, mas parceiro econômico e grande fornecedor de petróleo. Em relação ao Irã, por exemplo, é correto o fato de criticar Mahmoud Ahmadinejad, mas isso só ocorre porque o sonho dos EUA é invadir o Irã, assim como fez com o Iraque, pois lá há grandes jazidas de petróleo e seu governo se declara inimigo mortal dos ianques, bem como não lhes abre as portas de sua economia e fontes energéticas. No entanto, ditaduras tão ou mais sanguinárias e crueis dominam a maioria dos países africanos, mas como tais nações não possuem riquezas que interessem aos EUA ou a qualquer país poderoso, faz-se vista grossa para esses problemas.
Uma breve observação: ditaduras militares sul-americanas nas décadas de 60, 70 e 80. Um período negro, de severas perseguições políticas, total ausência de liberdade de expressão e violência política através da tortura e da repressão indiscriminada. Tudo sob a aprovação da ONU e das nações poderosas, em especial os EUA. O motivo da prostituição? Política (defesa contra o comunismo em expansão) e, consequentemente, econômica. Dignidade da pessoa humana? Esquece!
Enfim, chegamos ao caso brasileiro. O Brasil almeja um cargo permanente no Conselho de Segurança da ONU, e não mede esforços para alcançar esse objetivo. É capaz de se prostituir para consegui-lo: troca os seus valores básicos, como a defesa da dignidade da pessoa humana, em favor da defesa de sua campanha. É o que fez quando da visita de Mahmoud Ahmadinejad, na última semana. Não vou comentar especificamente o fato de Lula ter defendido a autonomia do Irã para tocar o seu programa nuclear, nem sobre considerar legítimo o governo do líder iraniano, mas o simples fato de tê-lo recebido. Receber Mahmoud Ahmadinejad é a mesma coisa que receber o torturador, o executor, o perseguidor, o mentiroso. Um homem que nega o holocausto e defende a destruição de Israel e seu povo? Um homem que acha que os homossexuais devem morrer? Um homem que persegue quem não segue a sua fé? Um homem que dá abrigo a organizações terroristas? Sim, e o nosso presidente apertou a mão desse homem, que até que estava simpático em sua visita. Contraditório, não?
Outra hipocrisia brasileira: a Venezuela. Hugo Chávez persegue seus opositores políticos e dá abrigo a terroristas das FARC. Eternizou-se no poder e é provável que só sairá quando morrer, pois suas instituições estão tão apodrecidas e a liberdade de opinião é tão combatida que é praticamente impossível algum opositor sobressair-se. Uma democracia? É óbvio que não, mas uma tirania de uma suposta maioria liderada por um populista ignorante, porém esperto e sedento por poder. Mesmo assim o Brasil aceitou esse país como membro do Mercosul, cuja prerrogativa para dele fazer parte é justamente a existência de instituições democráticas sólidas, o que não é o caso venezuelano. A razão dessa prostituição brasileira é econômica, pois sua intenção é vender mais para os nossos vizinhos do norte. Não importa que jornalistas sejam perseguidos, que guerrilheiros terroristas sejam acolhidos e armados, que opositores sejam presos e cuja dignidade humana reste altamente ferida: se produtos brasileiros serão comprados por tal país, está valendo.
Enfim, vivemos na era da defesa explícita da dignidade da pessoa humana e, mais explícita ainda, da prostituição das nações em desfavor desse princípio e em favor de interesses políticos e econômicos. Alguém que já leu a Declaração Universal dos Direitos Humanos acredita naquilo? É válido acreditar, mas cabe ler o "parágrafo invisível" existente em todos os seus dispositivos e impresso pela "experiência diplomática" das nações: "Esse ponto será relativizado na hipótese de interesses econômicos de grande relevância serem ameaçados".
Não se enganem: o que reina e sempre reinará no nosso mundo, ao menos no aspecto diplomático, é a hipocrisia capitaneada por dinheiro e poder. A defesa da dignidade da pessoa humana existe, mas qual o preço que você estipularia para dela abdicar?
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