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MORTAL KOMBAT E A HUMILDADE PARA A CONFIANÇA

  De todos os arcos desenvolvidos no filme “Mortal Kombat”, de 1995, o de Sonya Blade, interpretado por Bridgette Wilson, é o mais fraco, talvez caricato, eu diria. Mesmo assim, e para que não digam que não falei de flores, traz uma lição valiosa.   Exortados por Raiden (Christopher Lambert), Liu Kang, Johnny Cage e Sonya Blade ouvem do deus do trovão o que os torna insuficientes para as grandes batalhas que lhes aguardavam. Dele, Sonya escuta: “ Você, Sonya, está com medo de admitir que até você, às vezes, precisa de ajuda. Se está com medo de confiar, você vai perder ”.   Poucas coisas são mais irritantes do que um cabeça-dura. Aquela pessoa que simplesmente não ouve a verdade e sequer se presta a refletir a respeito. Alguém que se olha no espelho e acha que ali estarão as respostas para as suas perguntas. Receber ajuda não é apenas aceitar serviços a seu favor, mas conselhos. Antes, porém, é preciso ser humilde para admitir que o caminho originalmente escolhido para ser trilhado

MORTAL KOMBAT E A RAZÃO DAS NOSSAS LUTAS

  A profundidade disfarçada de entretenimento juvenil do filme Mortal Kombat, de 1995, embora aparentemente simples e rasa, ainda é capaz de ressoar de maneira relevante em nossos corações. Uma de suas mensagens está no questionamento sobre o que nos motiva a encarar nossos desafios.   Em um momento crucial da história, Raiden (Christopher Lambert), aborda Liu Kang, Johnny Cage e Sonya Blade e lhes diz por que cada um deles ainda não estava pronto. Para Cage (Linden Ashby), esclarece: “ Você, Johnny, está com medo de ser uma farsa, então vai entrar em qualquer luta para provar que não é. Vai lutar bravamente, mas estupidamente, descuidado, e será derrotado ”. Pois é assim em Mortal Kombat, é assim na vida.   Então, o que nos motiva em nossas batalhas diárias? Pois uma das maiores armadilhas está na preocupação com a maneira como os outros nos verão. No filme, Johnny Cage sabia que não era uma farsa, mas queria convencer os outros do contrário. Ainda que ciente da verdade pura e sim

MORTAL KOMBAT E OS SENHORES DO DESTINO

  Assisti a Mortal Kombat pela primeira vez em novembro de 1995, e jamais imaginaria que um filme infantil de luta baseado em um game seguiria ecoando em minha vida.   Um arco importante da história é a busca de Liu Kang (Robin Shou) por vingança contra Shang Tsung (Cary-Hiroyuki Tagawa), o qual matara o seu irmão mais novo, Chan (Steven Ho), que, sem ainda estar pronto, desafiara o feiticeiro. A culpa e o ódio o cegam o herói, e Raiden (Christopher Lambert) o alerta de que perderia se assim continuasse, ensinando-o que “ cada homem é dono do seu próprio destino ”. Então, quando o vilão se transfigura em Chan e alimenta o remorso de Kang, este repele o inimigo proferindo o provérbio do deus do trovão.   Então? Seríamos realmente donos do nosso destino? Tendemos a pensar que destino tem a ver com o êxito ou o fracasso que nos espera. Para alguns, a frase seria um slogan para meritocracia. Porém, é mais do que isso.   Viktor Frankl, em sua obra mais famosa, “Em busca de sentido: um

MORTAL KOMBAT E OS ALGORITMOS DEVORADORES DE ALMAS

  No clássico filme Mortal Kombat, de 1995, Liu Kang (Robin Shou), em sua luta final contra Shang Tsung (Cary-Hiroyuki Tagawa), ouve do feiticeiro: “Eu posso ver dentro de sua alma. Você vai morrer!” . Ao que o herói responde: “Você pode ver dentro da minha alma, mas não é o seu dono!” . Pois esse breve diálogo entre rounds do derradeiro confronto é mais profundo do que parece.   Alma é o nosso caráter bruto, o que nos torna o que somos. Não são nossos nomes, endereços, conquistas, dinheiro, poderes, profissões, inclinações políticas. Porém, seria possível ver dentro da alma de alguém? Pois não seria isso o que os algoritmos fazem no meio tecnológico, por exemplo?   No filme, Shang Tsung diz que via dentro da alma de Liu Kang que ele morreria. Ele não o faz, porém, com base em uma suposta premonição, mas a partir da percepção verossímil de que seu oponente temia fracassar. Acontece que o medo da derrota é bem diferente da própria derrota, e o vilão sabe disso. Por isso ele tenta in

MORTAL KOMBAT E OS TRÊS DESAFIOS DE KITANA

  Enquanto Raiden, durante todo o clássico filme “Mortal Kombat”, de 1995, dava o ar de sua graça para injetar um pouco de sabedoria em seus protegidos, Kitana (Talisa Soto) mostrou a Liu Kang (Robin Shou) que seu leque tem mais do que lâminas cortantes, mas relevantes ensinamentos. Preparando-o para a luta final contra Shang Tsung, disse: “Na Torre Negra, você terá três desafios: deve enfrentar seu inimigo, enfrentar você mesmo, e enfrentar seu maior medo”. Seria assim, na vida, para nós?   Um inimigo é facilmente identificável, afinal, é algo ou alguém que não apenas se opõe a nós, mas aos princípios que nos motivam. Ele pode estar materializado em uma pessoa ou grupo, mas também pode ser um movimento, uma cultura. A tal correnteza contra a qual nadamos. Superá-lo é uma necessidade para que possamos prosseguir. Caso contrário, ou tombaremos ou, na melhor das hipóteses, seguiremos adiante de forma trôpega, sem condições de alcançamos a vitória. Uma criança vítima de bullying sabe qu

MORTAL KOMBAT E AS GUERRAS DE ATENA E ARES

  Em meio a dosadas gotas de sangue e cenas de pancadaria, o filme “Mortal Kombat” (1995) nos presenteia com muitas lições. Raiden, interpretado por Christopher Lambert, é quem mais traz provérbios que, apesar da roupagem oriental, poderiam nos remeter, inclusive, aos ensinamentos da Grécia Antiga.   A sabedoria impressa pelos gregos em sua mitologia é formidável. Uma das mais interessantes é o contraponto entre Atena e Ares. Ambos são deuses da guerra, porém, bem diferentes. Enquanto aquela é a senhora das chamadas guerras justas, o mal-humorado deus vermelho representa as injustas. A civilização helênica, portanto, não demonizava as guerras, mas o que as motivava.   Muitas vezes, tende-se a interpretar uma guerra injusta como aquela provocada, enquanto a justa seria a defensiva. Será? Suponhamos que Hitler nunca tivesse saído dos limites da Alemanha ou erguido um dedo contra seus vizinhos, mas, dentro do seu território, feito exatamente o que fez, com campos de concentração, exíl

CUIDADO COM O ESCORPIÃO

  Na próxima sexta-feira, dia 15, estreará na Netflix a nova temporada de “You”, série que conta a história de Joe, um homem aparentemente comum que se obceca por aquelas por quem se apaixona, perseguindo-as até...bom, acho que ficou claro. Pois o dia da referida estreia me fez lembrar de que o premiado escritor gaúcho Charles Kiefer já havia criado o seu “Joe” quase 20 anos antes.   Ambientado em Porto Alegre, “O Escorpião da Sexta-Feira” (2002) traz a história de Antônio, um pacato ex-seminarista que se apaixona por Luísa. Com a paixão vem o ciúme e, dele, a obsessão. Seu relacionamento logo se revela doentio e a frustração com Luísa torna-o um serial killer de certa forma criativo, que vem a usar escorpiões contra suas vítimas. Acalmem-se, isso não é spoiler, afinal, está na orelha do livro.   Como acontece em “You”, a obra é narrada na primeira pessoa. É Antônio quem nos traz os eventos que o tornaram aquilo, do mesmo modo que Joe nos conta o que está acontecendo. A diferença é