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Mostrando postagens de novembro, 2020

O COSMO DE MARADONA

  D iego Maradona faleceu na última quarta-feira, 25/11/2020. O maior craque futebolístico desde Pelé sempre teve uma popularidade assombrosa, a ponto de existir uma “Igreja Maradoniana”. Um ídolo, literalmente. Não é um deus, claro, mas alguém que, inegavelmente, deixa um legado estelar, um legado que precisa ofuscar, mas não ignorar, a escuridão de seus erros. Ele foi uma figura errática. Sua personalidade intensa e irresponsável o levou a cometer excessos que certamente o levaram ao falecimento precoce. Nas quatro linhas, o craque foi insuperável em seu tempo, mas algumas atitudes mostraram que não se importava muito com honestidade, como o famoso gol com a “mão de Deus”, por exemplo. Nunca teve estabilidade familiar, seu uso de drogas quase ceifou a inda mais cedo sua vida e também o cortou de uma Copa do Mundo. Considerava Fidel Castro um pai e idolatrava Che Guevara, tendo as faces dos dois assassinos comunistas tatuadas em seu corpo. Enfim, Maradona era, no frigir dos ovos

O SIGNIFICADO DO "SIM"

  O que significa o “sim” pronunciado diante do altar? Eis uma pergunta aparentemente banal, afinal, só pode querer dizer q ue a noiv a e o noiv o se aceitam como e sposa e espos o , certo? Errado! O “sim” é muito mais profundo e dizê-lo é mais do que uma concordância, mas um juramento. C asar não é dar um mero passo adiante no relacionamento, mas a necessária aceitação de uma palavra que se fará presente em todo o matrimônio, e no bom sentido: sacrifício. A ideia de sacrifício est á diretamente relacionada à de doação, ou seja, a de ofertar sem nada esperar em troca, em que ambos, gratuitamente, abrem mão de algo todos os dias . Ao natural, estabelece-se uma harmonia que virá não com a anulação de um em relação às vontades do outro, mas na forma transparente, franca e espontânea como isso se d ará , inclusive para aparar arestas nessa jornada. E o amor se revela justamente na capacidade mútua de doação num casamento. Trata-se de um processo sutil, longo e que requer paciê

UMA CONHECIDA FÁBULA SOBRE HOJE

  A forma como as pessoas replicam notícias n o embalo do narrado pela maioria, sem atentar p ara os fatos em si, me assusta e sempre me lembra da infância. S entado no chão, pernas cruzadas e queixo apoiado sobre as mãos cerradas, eu esperav a ansioso pela hora da leitura na biblioteca Monteiro Lobato, na Escola Mãe de Deus . A professora sentou-se em frente às crianças e abriu o pequeno livro. Uma fábula conhecida seria narrada e n unca imaginei que aquele dia me marcaria para sempre. Era a história de uma ovelhinha inocente. Ela seguia naturalmente o curso de sua vida: pastava, balia e esparrama bolinhas ejetadas de suas entranhas pelo campo, ciente de que seu destino seria um açougue ou a indústria têxtil. Não que ela almejasse isso, mas aceitava, afinal, assim era a vida. Um dia ela terminaria, e a ovelhinha sempre procurou aproveitar da melhor forma os dias em que caminhava sobre seus verdejantes campos. Um dia, porém, observou, de longe, várias ovelhas que repetiam o que

LANÇAMENTO DO LIVRO "EU, HEIN?"

Dia 26/11, às 19h30min, em facebook.com/oficinasantasede/, será o lançamento da coletânea de crônicas "Eu, hein?". Participo com 9 crônicas inéditas (não estão publicadas no blog), cada uma com um estilo e uma temática diferente. Há crônicas do tipo paródia, artigo, resenha, conto, prosa poética, entre outras. Além de mim, participam outros 8 autores, todos de primeira qualidade, totalizando 81 crônicas formidáveis. Nosso padrinho é o Mário Corso, cronista de Zero Hora, que escreveu a orelha da obra. O trabalho foi orientado e organizado pelo premiado Rubem Penz , grande cronista de Porto Alegre, que, com sua oficina literária Santa Sede (@oficinasantasede ), já promoveu diversos autores e obras. "Eu, hein?" é a décima primeira coletânea (ou "safra") da antologia "Santa Sede", um sucesso desde 2010. O lançamento se dará virtualmente em razão da pandemia, mas, assim que possível, haverá uma festa para que possamos celebrar juntos e tranquil

OS CUCOS

  O velho O smar há pouco abrira as portas de sua loja de decorações rústicas quando viu se aproximar um homem mascarado como todos os outros. O rapaz lhe  perguntou: “Então, é assim?”. O smar não entendeu a pergunta, mas a chegada hostil da pessoa o fez pensar s er um assalto. “Eu...não tenho…”, tentava responder, confuso, mas foi interrompido: “Ou você f az alguma coisa, ou vai pagar por isso”. O indivíduo deu-lhe as costas, atravessou novamente a rua e sumiu na esquina. O dono da loja ficou perturbado. Sim, fora ameaçado, mas não tinha a mínima ideia pelo quê. Foi quando olhou para a esquerda e percebeu outras três pessoas que iam na sua direção. Uma delas portava um porrete. Seus passos apressados impediram o senhor de escapar. Já estava envolvido pelos três. O do porrete o cutucava nas costas e comentava em seu ouvido: “M achista ! M achista de merda!”. Confuso e temeroso, O smar não entendia a razão das ofensas , e foi quando uma outra integrante do trio o encarou e

UM PASSO DE FÉ

  Todos temos inseguranças e incertezas na vida. Todos passamos por situações em que, ou permanecemos parados, como se tivéssemos sido congelados por uma tempestade noturna de neve, ou fugimos, temerosos de que, se um passo a mais for dado, seremos devorados por uma besta ocultada pelas sombras. Uma besta que achamos que está lá, mesmo sem vê-la. A questão é: quem incute esses medos em nossos espíritos? Na maioria das vezes, a resposta é a mais simples de todas: nós mesmos. Não há maior inimigo das nossas vitórias do que o nosso "EU" medroso. Não estou falando do bom e velho Grilo Falante que reside em nossos corações, sempre disposto a sopesar com prudência nossas decisões. Refiro-me ao oposto da coragem. O medo é isso. É abraçar a escuridão em vez de procurar uma lanterna, uma tocha ou, na sua ausência, seguir adiante tateando as paredes. É nos convencermos, em frente ao espelho, de que a ponte na qual sempre acreditamos não mais está lá, ou que o que nos espera do outro

VEM AÍ A "ERA MUSSUM"

  O Colégio Franco-Brasileiro, de Recife (PE), anunciou que adotar á  a linguagem neutra a fim de combater o sexismo, o machismo  e  o preconceito àqueles que não se sintam confortáveis com a visão binária de gênero .  Assim, palavras “masculinas” e “femininas” que terminam com “O(S)” ou “A(S)” passariam a terminar com “E(S)”, como, por exemplo, “obrigade”, “menines” etc. E m 1984 , G eorge Orwell apresenta uma nação totalitária q ue possuía q uatro ministérios, mas um merece especial destaque, considerando a notícia acima. O Ministério da Verdade adulterava notícias e fatos históricos , conforme a conveniência do momento, o que envolvia a adaptação da própria língua a tais interesses (a “novilíngua”), eliminando-se ou condensando-se palavras a fim de limitar significados, evitar reflexões desnecessárias ou gerar uma dissonância cognitiva proposital (exemplo: cor “pretobranco”). Orwell acertou na mosca em sua percepção acerca do que envolve uma visão política e cultural tota

SOMOS PASSAGEIROS

O gancho da crônica de hoje vem do lado vermelho de Porto Alegre. Claro que não falo de foice e martelo, nem de estrelinha amarela, mas do Inter. Sim, sou gremista e, ainda assim, meto meu bedelho no assunto em voga do coirmão: a demissão de Eduardo Coudet. Uma demissão que tem muita relevância para as nossas vidas, pois provoca a seguinte reflexão: se somos meros hóspedes, meros inquilinos, meros passageiros, o que deixamos para os próximos? Eduardo Coudet foi contratado pelo Internacional que, nele, via um grande treinador sul-americano em ascensão, com boas ideias de futebol e capaz de criar uma nova cultura tática no Beira-Rio. Como se vê de seu desempenho médio à frente da equipe, com exceção de sua alergia a Gre-Nal (foram seis clássicos e nenhuma vitória contra o Grêmio - não estou de zoeira, é só informação...), o argentino de fato se mostrou competente e deixa o colorado na liderança isolada do dificílimo Campeonato Brasileiro. Entretanto, ele também deixa para trás Musto, Lea

QUEM SABE UM DIA? *

  Vamos falar de pandemia. Opa, você já está de saco cheio dessa história? Ah, sim, como passou o inver no e chegaram as eleições municipais e as dos Estados Unidos, então deveríamos focar em tragédias mais altivas, e não de uma doença que, embora curável, tira muitas vidas (ou afunda no mesmo barco de vidas já perdidas). Quer saber? Vamos falar dessa tempestade, sim. Preste atenção no que eles dizem e diziam lá no início: “fique em casa”. Com hashtag e tudo mais. Feche-se no seu mundo e alimente a esperança recheada com hipocrisia que eu vendo para você todos os dias, e lembre-se que o que você entende como felicidade, que geralmente é estar com a família e os amigos, é nada mais do que uma mentira, nunca uma salvação. O importante é beber esse seu vinho premiado e mostrar para o mundo que, mesmo em casa, você ainda tem dinheiro. Claro, quando a floresta pega r fogo, aglomere-se e proteste, peça sanções internacionais contra você mesmo, abrace os outros manifestantes, mas não esq

SIGA EM FRENTE

Às vezes, tudo ao redor parece não dar sinais de esperança. Ficamos perdidos, sem chão, cegos pelo desespero. Cada um dentro de sua realidade, sem comparações alheias, já passou por situações do tipo. Nesse contexto, nada melhor do que os amigos. Quando digo "amigo", me refiro a quem tem intimidade suficiente para nos dizer verdades, não com o intento de nos demolir, mas de nos reerguer. Foi pensando nisso que escrevi o poema abaixo, em 2001. Não lembro o que, na ocasião, me deixou "na fossa" o que significa que deveria ser algo que, embora uma provável bobagem adolescente, representou, para a minha imatura mente de 15 anos de idade, um terremoto. Meu irmão a transformou em uma linda canção, apesar de todas as suas limitações técnicas e criativas da época. Alguns diriam que ela é “melosa”, e talvez estejam certos, mas nada muda o fato de que, ao passar essas palavras para o papel, eu tentava, na época, falar comigo. Talvez a canção "Walk On", do U2, que bo

DA MORTE PARA A VIDA

  Em 1998, meu avô Roberto Jeolás Machado Guimarães faleceu. Ao olhar para aquele ano, enxergo apenas um céu cinzento. Não me recordo de calor, de sol, do azul, mas apenas do cinza invernal que deu o tom daqueles meses de julho, agosto e setembro. Foi a primeira vez que vi meu pai, Paulo Renato M Guimarães , chorar. “O papai tá indo”, disse ele, nos ombros da minha mãe, em um dia terrível, na sacada gelada do quarto do Hospital Moinhos de Vento. Em setembro, ele partiu e, por incrível que pareça, recordo-me que, no dia do seu enterro, o céu, apesar de parcialmente nublado, no entardecer, perto do horário do sepultamento, permitiu que o sol acalentasse nossas almas tomadas pela dor da despedida. Mas a dor, apesar de não mais aguda, permaneceu, como uma ferida que não cicatriza totalmente. A vida seguiu adiante, e em meados de 1999, enquanto dirigia ao lado de seu sócio, João Manuel Linck Feijó , meu pai precisou estacionar o carro, tomado por uma crise de choro. Foi quando João o convi