Eduardo Coudet foi contratado pelo Internacional que, nele, via um grande treinador sul-americano em ascensão, com boas ideias de futebol e capaz de criar uma nova cultura tática no Beira-Rio. Como se vê de seu desempenho médio à frente da equipe, com exceção de sua alergia a Gre-Nal (foram seis clássicos e nenhuma vitória contra o Grêmio - não estou de zoeira, é só informação...), o argentino de fato se mostrou competente e deixa o colorado na liderança isolada do dificílimo Campeonato Brasileiro. Entretanto, ele também deixa para trás Musto, Leandro Fernández e Abel Hernández. Ele os levará para a Espanha? Duvido. As "buchas de canhão" contratadas a seu pedido permanecerão na Padre Cacique para serem aproveitados pelo próximo treinador, ocupando espaço na folha salarial, no banco de reservas ou, o que é pior para o torcedor colorado (e bom para os secadores de plantão, como eu), entre os onze titulares.
Assim, Eduardo Coudet segue a vida, ele veio, treinou e partiu, mas, nesse meio tempo, indicou três jogadores muito fracos e que, certamente, não terão futuro à beira do Lago Guaíba, mas que, por razões contratuais, seguem por lá, inclusive para "confundir" a cabeça do próximo treinador e iludi-lo em treinos de qualidade (ninguém fazia mais gols em treino no Grêmio do que o André, por exemplo) ou em resenhas "boas de grupo" (vide Marcelo Oliveira, o "craque de vestiário" do tricolor dos pampas). Enfim, como diria meu amigo Carlos Felipe Vellinho em um poema de sua autoria do qual nem ele se lembra mais, "tudo se foi, tudo sempre se vai, mas as pessoas continuam". Por isso a nossa responsabilidade sobre o que deixamos para trás em nossas jornadas, sejam elas quais forem, sejam por onde forem. E nada tem mais poder, para o bem e para o mal, do que as pessoas que, por nossa responsabilidade, permanecem depois que nós seguimos adiante.
Jair Bolsonaro tem seus méritos e defeitos. Seu governo tem muitas coisas boas que não recebem o merecido destaque e olhar positivamente crítico, inclusive em muitas das áreas em que, ironicamente, é mais criticado. Também tem muitas falhas de gestão e de visão política, de atitude e de foco, como qualquer governo. Agora, não há falha maior do que a indicação de Kássio Nunes para o STF. Foi um erro, sim, e não estou fazendo juízo de valor do cidadão, mas apenas constatando que, para aquela cadeira, não poderia haver uma "aposta" de um magistrado, no mínimo, controverso. Deveria ter havido a escolha de alguém "confirmado", um nome poderoso do meio jurídico e, evidentemente, com visão de mundo corroborada pelos eleitores de Bolsonaro, afinal, foram eles, esses eleitores, quem deram tal poder para o nosso atual Chefe de Estado e de Governo. Mesmo assim, Bolsonaro indicou Nunes, que permanecerá na nossa Suprema Corte pelos próximos 27 anos. Quando eu for idoso, e espero chegar lá, Nunes ainda estará no STF, "apenas" cinco anos depois que Toffoli se aposentar, por exemplo. Nunes e Toffoli, sem sombra de dúvidas, foram as piores escolhas de Bolsonaro e Lula, respectivamente, porque tanto o atual presidente quanto o petista passam e passarão. Um dia eles serão meras lembranças, talvez suas vidas já tenham sido consumidas pelo tempo, mas Toffoli e Nunes seguirão lá, fazendo das suas à frente do Supremo.
Eis a questão, portanto: como usufruímos nossas passagens? O que deixamos pelo caminho? Se somos gestores em uma empresa, sabemos, de antemão, que um dia não mais o seremos. Ainda que ela seja nossa e nela trabalhemos arduamente, haverá aquele dia em que não mais abriremos os olhos. Então, como ela terá sido deixada? Como os herdeiros e os funcionários a receberão? Como eles foram preparados para tocar tudo adiante? Vejam, parti do futebol, passei pela política, toquei em questões profissionais, mas chego, agora, naquilo que é mais relevante: na família.
Como pais e mães, irmãos e irmãs, maridos e esposas, filhos e filhas, aqui chegamos, aqui estamos, mas a terceira certeza é que, daqui, cedo ou tarde, partiremos. Mesmo em nossos núcleos mais íntimos, somos passageiros. Durante muito tempo, parece que somos protagonistas de um longo seriado, mas, na verdade, não passamos de meros coadjuvantes da grande saga da história do universo, preparada por Deus para um clímax incompreensível e de motivações igualmente impossíveis de se entender. Ainda assim, nós, apesar de pó de estrelas, temos a capacidade de fazer maravilhas e grandes estragos, todas criadas pelas pessoas aos nosso redor, pessoas que vêm de algum lugar, e esse lugar se chama lar, e todo lar tem uma família, seja qual for a sua configuração. E é ali, na família, que o caráter é desenvolvido, que as sementes morais são plantadas, que as histórias são ensinadas e passadas adiante, que as tradições se estabelecem e servem como baluarte para a sociedade, que a fé é regada, que a perseverança e a coragem são incentivadas. São esses elementos que compõem o espírito de alguém e as forças magnéticas que indicarão o norte da bússola de suas vidas. Vidas que serão vividas no futebol, no Judiciário, nas empresas, na política. Vidas de pessoas que permanecerão, enquanto nós seguiremos adiante.
Somos passageiros, e o que deixaremos são as pessoas. Todas as nossas escolhas, sejam elas quais forem, devem levar em consideração isso: o que permanecerá. Serão sementes para um futuro abundante, pão velho para ser comido pelos pássaros e levado pelo vento ou veneno para apodrecer a terra? Por mais gloriosa que seja a nossa jornada, ela termina, mas para nós. Os canteiros da estrada devem seguir florescendo vida, pois as pessoas permanecerão no caminho. Qual caminho? A resposta é sua.
Imagens:
*https://globoesporte.globo.com/rs/futebol/times/internacional/noticia/coudet-e-o-favorito-para-assumir-o-celta-apos-demissao-de-treinador-diz-imprensa-espanhola.ghtml
** https://nature.desktopnexus.com/wallpaper/2429963/
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