Diego Maradona faleceu na última quarta-feira, 25/11/2020. O maior craque futebolístico desde Pelé sempre teve uma popularidade assombrosa, a ponto de existir uma “Igreja Maradoniana”. Um ídolo, literalmente. Não é um deus, claro, mas alguém que, inegavelmente, deixa um legado estelar, um legado que precisa ofuscar, mas não ignorar, a escuridão de seus erros.
Ele foi uma figura errática. Sua personalidade intensa e irresponsável o levou a cometer excessos que certamente o levaram ao falecimento precoce. Nas quatro linhas, o craque foi insuperável em seu tempo, mas algumas atitudes mostraram que não se importava muito com honestidade, como o famoso gol com a “mão de Deus”, por exemplo. Nunca teve estabilidade familiar, seu uso de drogas quase ceifou ainda mais cedo sua vida e também o cortou de uma Copa do Mundo. Considerava Fidel Castro um pai e idolatrava Che Guevara, tendo as faces dos dois assassinos comunistas tatuadas em seu corpo. Enfim, Maradona era, no frigir dos ovos, um péssimo exemplo de ser humano. Ou não.
Afinal, o que são “exemplos”? A verdade é que nenhum de nós é exemplo incontestável para nada. Somos falhos por natureza, e por uma simples razão: nossa humanidade. Devido a ela, pagamos pelos erros que cometemos, grandes e pequenos. Mesmo assim, não nos resumimos aos erros, mas contemos universos complexos onde esses tropeços são cometidos. Universos em que há o caos que assusta e destrói, mas também o cosmo que organiza e ilumina.
O craque argentino foi um bom exemplo, sim, mas não de pai, marido ou de honestidade, nem de visionário político. Também deve ser esquecido o legado de seus excessos. Todavia, ele foi um monstro do futebol, alguém que trouxe um brilho quase inigualável para os gramados, não apenas pela sua qualidade, mas por sua galhardia. Todo jogador de futebol deve nele se inspirar para conciliar plasticidade e garra, e toda pessoa precisa olhar para o falecido camisa dez como alguém que dava o máximo pelas cores que defendia e pela coragem e determinação ao expor seus pontos de vista publicamente, sem medo de qualquer julgamento, exercendo, ao máximo, sua liberdade de expressão (apesar de seus ídolos a detestarem…).
Maradona deve ser lembrado pelo cosmo que promovia, e não pelo caos. Ele não era e nunca será um deus olhando dos céus pelos que ficam, mas realizou feitos luminosos como as estrelas. Olhemos para o melhor dele, para o fulgor dos astros do universo de sua vida, e não para a escuridão da noite que sempre o envolveu. Se há algo do craque argentino que deva servir para nos orientar nas navegações de nosso cotidiano, que sejam as constelações criadas em sua jornada, e não as trevas que nos levam à perdição. Quem mira à luz busca a saída, mas o que admira o abismo é abraçado pela queda.
*Imagem: https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/marcel-rizzo/2020/11/27/o-verdadeiro-primeiro-jogo-de-maradona-contra-a-selecao-brasileira.htm
Comentários
Postar um comentário