Todos são imperfeitos e, em certa medida, contraditórios. Ninguém
consegue agir totalmente de acordo com as suas palavras, sendo fato que, em
dado momento, qualquer um tropeçará e fará algo que vá contra aquilo em que
acredita. A natureza humana é falha, pecadora, e é por isso que sempre podemos,
enquanto vivermos, recomeçar.
No entanto, não podemos confundir imperfeição com hipocrisia. A
hipocrisia é premeditada, maquiavélica, e tem um uso específico com um fim bem
delineado. É o retrato da falsidade do ser humano, levando este a
conscientemente aparentar algo, embora, sem nenhum pudor, pense ou aja de outra
maneira. Para o hipócrita, o que vale é ser visto como um virtuoso, não sendo
necessário assim sê-lo. O hipócrita quer ser querido, amável, sendo
invariavelmente um camaleão que se adapta às pessoas e situações. Não há rocha
que o firme em algum princípio real e verdadeiro. O importante é ele ser visto
como um exemplo, uma boa pessoa, que apareça e que represente a perfeição. O
hipócrita não é humilde, não confessa suas falhas, e ainda que não faça
julgamentos oralmente diretos, ele assim o faz ao se comparar aos outros por
meio da sua “jornada de herói”, que, ao cabo, revelará como ele é “bom e
vencedor”. O hipócrita gosta de aparecer, de estar em evidência, de ser uma autoproclamada
luz àqueles ao seu redor, ainda que saiba que seu interior é sombrio, nebuloso
e nada sincero. Ele fala o que aqueles que o ouvem querem ouvir, sorri para
aqueles que vê apenas para ganhar simpatia. Por fim, o que mais é do gosto do
hipócrita é fingir amar aqueles que não ama, tendo como objetivo tão somente
estar de bem com todos, a fim de alcançar algum objetivo tido como maior.
Escrevo isso porque, embora devamos amar uns aos outros, inclusive os
nossos inimigos, é preciso ponderar esse esforço com o risco de sermos
hipócritas. O amor é um exercício, e aquele dirigido aos que não merecem
recebê-lo de nós envolve oração, exortação, compaixão, educação, cordialidade,
mas nunca pode ser falso, desprovido de franqueza e honestidade. O amor ágape, ou
doação, é gratuito e não quer nada em troca, é verdade, mas ele não pode ser
pretexto para uma mentira utilitarista que busca reconhecimento e aprovação. O
esforço para exercê-lo precisa ser verdadeiro. Caso contrário, é teatro, é
cena, é mera hipocrisia. Enfim, é repugnante.
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