Em alguns dias se comemora em nosso país o Dia das Mães. Também celebrada em diversas partes do mundo, a polêmica relativa ao seu suposto caráter comercial é quase tão antiga quanto a popularização da data. Todavia, ultimamente, outra vem sendo levantada, e não só em relação ao Dia das Mães, mas também no que concerne ao dos Pais: e se não há pai ou mãe para homenagear? É preciso refletir a respeito.
A fim de responder a tais questionamentos, muitas instituições de ensino não mais realizam atividades relativas ao “Dia das Mães” nem ao “Dia dos Pais”. Nas semanas que antecedem tais datas, o que se celebra é o “Dia das Famílias”. A motivação para tanto é variada, havendo uma visão sociopolítica e cultural muito forte que a defenda baseada na ideia de “novas famílias”, como as monoparentais ou as formadas a partir de casais homoafetivos. Todavia, no caso específico de uma Escola Infantil a respeito da qual tomei conhecimento, a justificativa apresentada é que, tempos atrás, havia um aluno que perdera o pai quando tinha três anos de idade e, a partir de então, na época do Dia dos Pais, a criança ficava inconsolável, chorosa e deprimida ao ver seus coleguinhas, por uma semana inteira, realizando atividades para homenagear seus genitores. Visando a acabar com tal sofrimento, a creche renomeou as datas, e ambas passaram a se chamar, como referido, “Dia das Famílias”. Assim, passou-se a homenagear aqueles que os infantes viam como “família”, seja ela como for ou quem sejam suas referências. Embora eu pessoalmente acredite que tal fato tenha sido apenas o detalhe necessário para se implementar a referida visão política em tal instituição, não entrarei em polêmicas a respeito, e me inclinarei apenas sobre aspectos atinentes à versão oficial.
Tristeza envolve perda, e sua forma mais bruta em uma criança está, justamente, na hipótese desta não ter o que mais ama, o que geralmente é materializado na ausência das figuras materna e paterna que um dia estiveram lá, ou deveriam ter estado. Logo, um sofrimento como esse é digno de amolecer corações, e se houver alguma medida ao alcance para amenizá-lo, a tendência é que esta seja efetivada. Todavia, a realidade da vida é cruel, e não somos protagonistas do universo, mas partes dele. Isso significa que estamos sujeitos a não termos o melhor, a não sermos contemplados por aquilo que é especial, de destaque, ou, até mesmo, aquilo que emocionalmente poderíamos considerar como o mínimo. As escolas poderão extinguir o Dia das Mães ou o Dia dos Pais, mas não mudará a ausência da mãe, do pai ou de ambos, e inevitavelmente a criança sofrerá, em algum momento e em alguma medida, pois sempre haverá pais e mães em algum lugar, e sua existência, naturalmente, levará aquele ou aquela que não os têm a lembrar disso, seja no aniversário de algum pai ou mãe de alguém, seja no natal, seja quando for, inclusive no novo “Dia das Famílias”.
Não se está, aqui, defendendo a necessidade do sofrimento, mas é preciso admitir a sua inevitabilidade e, por conseguinte, saber como encará-lo. De fato, a tristeza decorrente da perda de entes queridos, ainda mais na infância, é algo difícil de compreender, e muitos, ao discordarem do ponto de vista que busco apresentar, invocarão o tal “lugar de fala” para tirar qualquer credibilidade de minha opinião. O problema é que movimentos como esses acabam por criar cortinas de ilusão que buscam esconder a existência da dor e daquilo que a causa. Extinguir ou alterar o sentido de uma data culturalmente instituída e popularizada com o intuito de proteger aqueles que com elas não se identificam ou que dela se sentem excluídos, embora por um lado legítimo, acaba sendo mais uma forma de evitar o amadurecimento do ser humano e de protegê-lo daquilo que é inevitável: da tristeza e da frustração por não mais ter (ou nunca ter tido) pai ou mãe.
Assim, em vez de apagar uma data do calendário ou renomeá-la para proteger aqueles que com ela se sentem penalizados, é preciso, sempre, conversar a respeito, conversar profundamente, o que inclui falar e, mais ainda, escutar, sempre de uma maneira condizente com a idade do interlocutor que sofre ou que se sente deslocado. Também envolve mostrar o sentido e a riqueza da vida, do amor, e apontar, sempre com carinho, tato e compreensão, a razão de se encontrar naquela situação e em como enfrentá-la ou com ela conviver.
Sei que essas minhas palavras serão fustigadas por muitos que vivem ou viveram situações assim, mas a verdade é uma só: não se pode fugir do sofrimento, mas sempre é preciso encará-lo com sabedoria. Isso vale para todo tipo de dor emocional, e a aludida sabedoria só será adquirida se exercitada. Caso tal prática se der desde a tenra idade, melhor, pois a possibilidade de, no futuro, haver um adulto maduro e forte, que não nega o sofrimento e a frustração, mas os enfrenta e com eles convive, é muito maior.
A fim de responder a tais questionamentos, muitas instituições de ensino não mais realizam atividades relativas ao “Dia das Mães” nem ao “Dia dos Pais”. Nas semanas que antecedem tais datas, o que se celebra é o “Dia das Famílias”. A motivação para tanto é variada, havendo uma visão sociopolítica e cultural muito forte que a defenda baseada na ideia de “novas famílias”, como as monoparentais ou as formadas a partir de casais homoafetivos. Todavia, no caso específico de uma Escola Infantil a respeito da qual tomei conhecimento, a justificativa apresentada é que, tempos atrás, havia um aluno que perdera o pai quando tinha três anos de idade e, a partir de então, na época do Dia dos Pais, a criança ficava inconsolável, chorosa e deprimida ao ver seus coleguinhas, por uma semana inteira, realizando atividades para homenagear seus genitores. Visando a acabar com tal sofrimento, a creche renomeou as datas, e ambas passaram a se chamar, como referido, “Dia das Famílias”. Assim, passou-se a homenagear aqueles que os infantes viam como “família”, seja ela como for ou quem sejam suas referências. Embora eu pessoalmente acredite que tal fato tenha sido apenas o detalhe necessário para se implementar a referida visão política em tal instituição, não entrarei em polêmicas a respeito, e me inclinarei apenas sobre aspectos atinentes à versão oficial.
Tristeza envolve perda, e sua forma mais bruta em uma criança está, justamente, na hipótese desta não ter o que mais ama, o que geralmente é materializado na ausência das figuras materna e paterna que um dia estiveram lá, ou deveriam ter estado. Logo, um sofrimento como esse é digno de amolecer corações, e se houver alguma medida ao alcance para amenizá-lo, a tendência é que esta seja efetivada. Todavia, a realidade da vida é cruel, e não somos protagonistas do universo, mas partes dele. Isso significa que estamos sujeitos a não termos o melhor, a não sermos contemplados por aquilo que é especial, de destaque, ou, até mesmo, aquilo que emocionalmente poderíamos considerar como o mínimo. As escolas poderão extinguir o Dia das Mães ou o Dia dos Pais, mas não mudará a ausência da mãe, do pai ou de ambos, e inevitavelmente a criança sofrerá, em algum momento e em alguma medida, pois sempre haverá pais e mães em algum lugar, e sua existência, naturalmente, levará aquele ou aquela que não os têm a lembrar disso, seja no aniversário de algum pai ou mãe de alguém, seja no natal, seja quando for, inclusive no novo “Dia das Famílias”.
Não se está, aqui, defendendo a necessidade do sofrimento, mas é preciso admitir a sua inevitabilidade e, por conseguinte, saber como encará-lo. De fato, a tristeza decorrente da perda de entes queridos, ainda mais na infância, é algo difícil de compreender, e muitos, ao discordarem do ponto de vista que busco apresentar, invocarão o tal “lugar de fala” para tirar qualquer credibilidade de minha opinião. O problema é que movimentos como esses acabam por criar cortinas de ilusão que buscam esconder a existência da dor e daquilo que a causa. Extinguir ou alterar o sentido de uma data culturalmente instituída e popularizada com o intuito de proteger aqueles que com elas não se identificam ou que dela se sentem excluídos, embora por um lado legítimo, acaba sendo mais uma forma de evitar o amadurecimento do ser humano e de protegê-lo daquilo que é inevitável: da tristeza e da frustração por não mais ter (ou nunca ter tido) pai ou mãe.
Assim, em vez de apagar uma data do calendário ou renomeá-la para proteger aqueles que com ela se sentem penalizados, é preciso, sempre, conversar a respeito, conversar profundamente, o que inclui falar e, mais ainda, escutar, sempre de uma maneira condizente com a idade do interlocutor que sofre ou que se sente deslocado. Também envolve mostrar o sentido e a riqueza da vida, do amor, e apontar, sempre com carinho, tato e compreensão, a razão de se encontrar naquela situação e em como enfrentá-la ou com ela conviver.
Sei que essas minhas palavras serão fustigadas por muitos que vivem ou viveram situações assim, mas a verdade é uma só: não se pode fugir do sofrimento, mas sempre é preciso encará-lo com sabedoria. Isso vale para todo tipo de dor emocional, e a aludida sabedoria só será adquirida se exercitada. Caso tal prática se der desde a tenra idade, melhor, pois a possibilidade de, no futuro, haver um adulto maduro e forte, que não nega o sofrimento e a frustração, mas os enfrenta e com eles convive, é muito maior.
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