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UMA VIAGEM À IMUNOLÂNDIA


Fazia tempo que não embarcava em um avião. Dessa vez, fui tentar a sorte na nossa Capital Federal, concurso grande, aquela coisa. Ao contrário da ida, a volta teria uma conexão em Guarulhos, e quando há conexão, tudo pode acontecer.

Desembarquei às 8 da manhã, e o voo para casa decolaria em 25 minutos. Corri como Forest Gump pelo terminal, respirando o meu próprio bafo, sentindo o excesso de peso e a toxicidade do gás carbônico em minha máscara. Ao chegar ao portão de embarque, a surpresa: o voo estava atrasado pela forte (e previsível e recorrente) neblina matinal de inverno em Porto Alegre.

Foram cinco horas de atraso. Cinco! No período, a aglomeração que se formou foi assustadora. Mal havia espaço para caminhar, as filas de embarque invadiam os corredores, os restaurantes lotados, pessoas de todas as idades sentadas no chão, um absurdo!

Agora, o mais patético era o aviso, a cada hora, de que ainda não havia previsão de decolagem e que os passageiros deveriam se “acomodar” junto ao portão de embarque 221 e cuidar o distanciamento de 1,5 metros de outras pessoas. “Acomodar-se” no chão? “Distanciamento”? As imagens revelam as acomodações e o distanciamento social que o aeroporto permitia. Mais tarde, quase às 13 horas, quando, enfim, se deu o embarque, todas as fileiras de assentos estavam ocupadas, inclusive as odiadas “B” e “E”, que separam os passageiros em 1,5 centímetros. Opa, era pra ser 1,5 metros?

Pois descobri que, após um ano e meio de home office, de contatos limitados com a família e os amigos, de cultos on line e igrejas esvaziadas, de gôndolas de supermercado isoladas, de crianças e adolescentes que não podem estar lado a lado na escola, de restaurantes e lojas fechadas, há um mundo imune: a Imunolândia.

A Imunolândia é uma terra de campanhas eleitorais cheias de afeto, abraços e mãos dadas, de protestos a favor das causas “certas”, de ônibus, trens, estações rodoviárias e ferroviárias, aviões e aeroportos, todos entupidos de gente. São lugares onde o vírus não circula. Ele olha e pensa: “Hm, não, muito cheio, vou a pé”, ou, de repente, “ah, prefiro ser levado pelo vento e aterrissar ali, na maçaneta da porta daquela igreja ou naquela cadeira de praia à venda no super”.

Minha jornada pela Imunolândia acabou com o meu dia. Cheguei em casa eram quase 17 horas e o sol, moribundo, já arrumava suas coisas para descansar. Terei eu me contaminado? Não, no mundo em que estive ontem ninguém se contamina. Perigoso mesmo é o culto de domingo, a escola, o churrasco com a família, estar com os amigos. Fiquem longe disso!



*Fotografias tirada pelo próprio autor em 05/07/2021.

  

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