A
grande maioria das pessoas não está mais pensando. Faltam indivíduos que, entre
uma opinião e outra, reflitam sobre o que ocorre ao seu redor e, ainda que
discordemos de suas palavras, possamos lê-las ou ouvi-las sabendo que foram
elaboradas com honestidade, como parte de um hercúleo trabalho perpetuamente inacabado
de busca pela verdade.
David
Coimbra era uma pessoa que pensava e, como qualquer indivíduo genuinamente
livre, convertia, pelo microfone ou a escrita, suas reflexões em palavras. No
primeiro quesito, não era muito feliz, pois, desprovido daquele tempo necessário
para uma reflexão ponderada, desenvolvia opiniões precipitadas, metia-se em
debates constrangedores e largava algumas pérolas lamentáveis.
Já
na escrita, sempre o admirei, ainda que muitas vezes dele discordasse porque,
ao acompanhá-lo por tantos anos, percebia-se nele alguém que não vinha com uma
opinião meramente pronta, mas construída a partir de muita reflexão e, o que é
mais importante, claramente inacabada. Isso significa que ele era um
relativista, um “isentão”? Não. Ele era ele mesmo, mas com a opinião
desenvolvida para aquele dia, a qual, humildemente, seria constantemente
submetida a sua própria revisão com base nos fatos e no seu constante pensar.
Coimbra
pensava antes de escrever e sobre o que havia escrito. Diferentemente de tantos
outros, inclusive de alguns de seus colegas, sua opiniões não eram para uma
claque, nem se apresentavam de forma robotizada e intoxicada por chavões reducionistas
e palavras de ordem. Seus momentos “sobre o muro” também não indicavam covardia,
mas uma efetiva dúvida, uma reflexão em voz alta sobre dois lados que,
honestamente, para ele, apresentavam coisas boas e ruins.
A
partida de David Coimbra representa a perda de uma pessoa que pensava, de alguém
prudente que refletia sobre o que via e sentia, cujas divagações buscavam transcender
a natureza e o dia-a-dia, evidenciando, senão uma fé genuína, uma sede por essa
fé, o que ficou evidenciado nas suas derradeiras nove crônicas.
Jesus
disse que daria de beber a todos aqueles que têm sede. Espero que, nesse
momento, com a misericórdia de Deus, Coimbra esteja bebendo, entre um chope
cremoso e outro, dessa água.
Descanse
em paz, David Coimbra, e obrigado pelo legado de seus textos, que, assim como
seu espírito, viverão para sempre!
*Imagem: https://cultura.uol.com.br/noticias/49344_jornalista-david-coimbra-morre-aos-60-anos-vitima-de-cancer.html
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