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QUEREM MATAR A CONSTITUIÇÃO DE 1988!


            Não sou apenas eu quem teme pelo anunciado no título dessa postagem. Gente muito melhor, mais experiente, qualificada e respeitada tem a mesma opinião que esse humilde “ancião de nascença” que lhes escreve. Ontem falei sobre uma das ideias do Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, para enfrentar/conter/satisfazer a onda de protestos: a necessidade de uma Assembleia Constituinte Exclusiva com o fim de se fazer uma reforma política. E não é que a nossa presidente curtiu a sugestão? Seu anúncio, ontem, de que será feito um plebiscito para consultar os cidadãos brasileiros sobre a formação da Assembleia Constituinte Exclusiva, causou repercussão muito negativa. Mais uma vez, observa-se um atentado, não apenas à democracia, mas a todos os direitos estabelecidos e possíveis de serem promovidos pela nossa Constituição de 1988.

           É desnecessária uma Constituinte Exclusiva para se atender ao anseio de se modificar o nosso sistema político. Ele pode ser alterado via Emenda Constitucional ou, inclusive, por lei ordinária. A OAB, por exemplo, juntamente com o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, elaborou uma minuta de Projeto de Lei de iniciativa popular que visa a grandes mudanças. Quem não o conhece pode consultá-lo aqui. Trata-se da mesma associação que deu origem à famosa Lei da Ficha Limpa, que é uma grande evolução para o cenário eleitoral brasileiro, uma verdadeira reforma no ponto em que toca.

            A ideia de Assembleia Constituinte Exclusiva não é nova. No período entre 2006-2008, à medida que se aproximava o fim do segundo mandato de Lula, aumentou a pressão do seu governo para que fosse convocada a tal Constituinte. No entanto, assim como ocorre hoje, essa ideia foi ignorada no âmbito parlamentar e esmagada pela ampla maioria dos juristas especialistas no tema. Como não havia um clamor social por mudanças no país, a exemplo do que ocorre atualmente, não foi possível a Lula tocar o projeto adiante, afinal, seria necessária uma justificativa das massas para isso. Hoje, o povo nas ruas bradando por mudanças pode ser maquiado como uma turba que quer um novo Estado, uma nova Constituição. Essa multidão, na verdade, não tem pleno conhecimento dos direitos – e da possibilidade de se obter outros - que têm. Ela pede por transporte público de qualidade e mais acessível (até gratuito), e isso pode ser feito no âmbito da Constituição de 1988, que reserva esses direitos (a qualidade) e possibilita o atingimento de outros (gratuidade ou preços reduzidos); ela quer mais rigor com a corrupção, mas isso pode ser feito por lei ordinária, inclusive; ela clama por respeito normativo às diversidades sexuais (e isso tem sido alcançado, gradualmente, numa estrada sem volta, ainda que haja percalços no caminho resultantes do debate democrático necessário para a convivência harmônica entre aqueles que pensam diferente); ela requer a reprovação da Proposta de Emenda Constitucional n. 37, cuja apreciação, para um lado ou para o outro, acontecerá no Congresso (o qual, com toda a pressão popular, provavelmente se inclinará pela reprovação), pois assim prevê o processo legislativo disposto na Constituição. Enfim, eu poderia ficar dias aqui enumerando as reivindicações populares que têm ganhado repercussão, mas o que quero demonstrar é que a Constituição de 1988 é muito boa e, assim como uma árvore, está crescendo e gerando seus frutos positivos. Um deles é a participação cidadã do povo brasileiro nos últimos dias, que percebeu seu poder de levar pautas, literalmente, até o colo dos governantes.

            Uma Assembleia Constituinte Exclusiva é como um machado para cortar a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 pela raiz, disfarçado de facão ou tesoura de poda. Essa árvore deve ser bem regada e devidamente aparada, e com um carinho mobilizado por cidadania, debate e respeito. As ferramentas para isso existem e são frutos dessa árvore que é a nossa Carta Magna. Usar outra é pegar um fruto envenenado e matá-la com sua semente adoecida. Não sejamos tolos!

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