Pais e mães que me leem
sabem do que estou falando: dificilmente há animação mais popular do que a
controversa FROZEN, de 2013, cujas músicas e personagens, desde então, como uma
força irresistível, parecem invadir os lares de todo o mundo pelas frestas de
suas portas e janelas. Para muitos, os poderes reprimidos de Elsa, a
protagonista, seriam uma alusão às suas inclinações sexuais, e o tema “Let it
Go”, um hino de rebeldia e libertação. Embora nada no filme confirme essa
tendência, ela seria plausível pela clara inclinação política da Disney. Agora,
será que as pautas que a obra alegoricamente promoveria estariam realmente ali?
Nem todas. Trata-se, na
verdade, de um roteiro que fala sobre libertação em relação àquilo que é
apontado como a percepção e o julgamento da maioria. O que os “poderes
congelantes” de Elsa realmente significariam é uma lacuna preenchível por
qualquer coisa. Logo, um cristão tímido poderia se espelhar em Elsa para
defender seus pontos de vista com coragem, sem medo do julgamento alheio, por
exemplo. O mesmo vale para aqueles que simplesmente pensam diferente do
promovido pelo establishment, inclusive no que toca a pautas
identitárias e de costumes que, ironicamente, seriam promovidas pelo filme.
Como toda obra de arte, a
interpretação daquilo que a animação representa passou a domínio público no
momento em que lançada. George Orwell, por exemplo, era um socialista assumido
quando escreveu “1984” e “A Revolução dos Bichos”, as mais inteligentes e
objetivas críticas ao socialismo de que já se teve conhecimento,
convertendo-se, hoje, em uma das principais referências do conservadorismo
contemporâneo.
FROZEN é uma urna glacial
que, se descongelada, poderá trazer à tona muito mais do que os críticos
apontam e seus idealizadores possivelmente almejariam. Se não há como se
defender da espada, então é melhor dela fazer uso para contra-atacar, afinal, não
é a lâmina que escolhe a carne que cortará.
*Imagem: https://disney.com.br/novidades/grammys-2021-frozen-2-star-wars-e-mais_indicados-ao-premio
Comentários
Postar um comentário