Há poucas semanas, mostrei
para a minha filha a coleção de “tazos”, aquelas figurinhas redondas que vinham,
entre os anos de 1997 e 1998, nos pacotes da Elma Chips, que guardo desde então.
O jogo não tem nada de especial, mas o belo dessa história é o fato de uma
brincadeira da minha infância ser valorizada pela minha primogênita,
enriquecendo nossa relação de pai e filha e explicitando um vínculo entre
passado, presente e futuro. Ao mostrar-lhe algo dos meus tenros anos que eu
valorizava, ela voltou seus olhos para aquilo de maneira diferente, pois não se
trata de um mero jogo divertido, mas de um jogo divertido guardado há décadas
pelo seu pai. Isso certamente é percebido por ela que, agora, vive pedindo para
jogarmos, tornando-se uma diversão da família. Uma tradição.
Agora, o que é tradição? A mera
repetição de ritos por grupos que possuiriam algum vínculo entre si, independentemente
do seu sentido ou origem? Não, isso seria tradicionalismo, pois a expressão tradição
que usamos no cotidiano tem exatamente o mesmo significado utilizado no meio
jurídico: “entrega”.
Assim, não passamos adiante
uma tradição, mas a própria tradição é o ato de passar adiante, de entregar a
alguém algo que valorizamos e que tem sentido. Ela é a vara cujo anzol é
lançado ao passado para pescar o peixe para o futuro. Não ter tradição é não
ter nada a entregar, e se não há nada a entregar é porque não valorizamos nada
digno de ser entregue. A consequência será a exposição daqueles que valorizamos
aos ventos do mundo, sejam eles para o bem, sejam para o mal. Independentemente
do caminho escolhido, tem-se uma certeza: o desprovido de tradições sempre
estará mais vulnerável às tempestades, pois sua casa, virtuosa ou não, terá
sido firmada na areia, e não na rocha.
Na vida matrimonial, é
fundamental o casal refletir entre si e individualmente sobre aquilo que cada
um carrega do passado e que considera importante transmitir aos filhos. Seja algo
profundo como fé e valores, seja algo superficial dotado de relevância pessoal,
como brincadeiras e receitas gastronômicas, criar e manter espontaneamente
tradições dá segurança aos pequenos e fortalece grandemente os vínculos
familiares e conjugais.
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