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Ana Clara e seu aniversário: um presente de Deus

A data de hoje é muito especial. Aqueles que convivem comigo sabem do que estou falando, mas compartilho aqui esse assunto. Trata-se do aniversário da minha prima, Ana Clara. Sem dúvidas, hoje é um dos dias mais felizes da minha vida, não pela simples comemoração da data, mas por tudo o que aconteceu até que estivéssemos todos reunidos ao redor da minha prima querida.

Constatou-se, no início do ano, que a Ana Clara estava com câncer na pleura do pulmão (um tal de tumor neuroectodérmico primário), um tipo muito agressivo e maligno. Fez duas sessões muito intensas de quimioterapia e, depois da segunda, teve de ser internada, pois foi acometida por uma infecção pesada, fruto da baixíssima imunidade decorrente do tratamento. Não demorou para ser transferida para a UTI onde, em pouco tempo, acabou piorando e entrando em coma (induzido). Foram mais de quarenta dias nessa situação, e ela chegou a estar, literalmente, à beira da morte. No entanto, Deus a salvou.

Vou contar tudo do começo, aqui. Faço questão de investir esse tempo debruçado diante do computador, pois um testemunho desses precisa ser compartilhado.

São muitas histórias, e aquelas que registrarei são apenas as de que eu tomei conhecimento, ou que ocorreram ao meu redor, na distante Porto Alegre.

Desde a constatação da doença, eu e minha família passamos a orar a Deus com uma intensidade muito maior que a usual. Além disso, nossos irmãos na fé embarcaram nessa jornada ao nosso lado: todos os membros do grupo de oração dos meus pais, meus amigos do peito da minha juventude evangélica ("Os Gansos"), além de toda a nossa comunidade paroquial.

Por falar em corrente de oração por grupos, creio que "orar pela Ana Clara" virou uma epidemia, pois cada vez mais ouvi falar de grupos de oração, um mais distante que o outro, que, de alguma forma, souberam da doença e da crise que acometia minha prima e, sem hesitar, passaram a orar de maneira intensa e sistemática.

E não foram apenas conhecidos ou conhecidos de conhecidos que abraçaram a causa. Pessoas completamente estranhas surgiram nas nossas vidas, como anjos que vêm do céu, dispostas a se dedicarem de maneira até maternal às súplicas sagradas ao Pai Querido pela vida da minha prima e, principalmente, pelo cumprimento da Vontade Dele sobre ela. Minha mãe, no mesmo dia em que ficou sabendo da doença da Ana Clara, pegou uma lotação para se dirigir ao centro de Porto Alegre. No veículo, sentou ao lado de uma senhora bem velhinha, cuja idade ronda os 80 anos. Iniciaram um diálogo acerca de trivialidades, bem típico de uma senhora de idade e, papo vai, papo vem, ela se revelou uma médica aposentada e que, atualmente, se dedica às orações pelas pessoas próximas. Minha mãe, então, naquele momento de fragilidade, acabou revelando o caso da minha prima à senhora que, no mesmo momento, ofereceu-se para orar por ela.

Quando minha mãe contou a história, não dei muita bola, mas o fato é que a senhora, uma cristã católica dedicada, fiel a Deus, humilde e dona de uma fé inabalável, de fato orava de maneira muito intensa e telefonava periodicamente para nós, para saber da Ana Clara. Enfim, uma pessoa que surgiu do nada para orar pela vida da minha prima (e ainda ora). Um exemplo de sacrifício e dedicação pelo próximo.

Assim como o caso dessa senhora, há muitos outros que poderão ser relatados por outros membros da nossa família. Enfim, foi tanta gente que surgiu do nada ou das nossas relações para orar pela minha prima que poderia ter sido criado um "faithbook" com as milhares de pessoas que se engajaram na "causa".

O período em que a minha prima esteve no hospital também serviu para aproximar a sua família de Deus. Quando digo "família", falo da célula, pai, mãe e irmãos, e não do resto do povo, mas que também poderiam se incluir, de certo modo. Eles sempre acreditaram em Deus, mas acreditar é diferente de crer, é diferente de entregar a vida a Ele, de demonstrar humildade para escutá-lo, de buscar na Bíblia a Palavra, de ver quem Jesus de fato É! E foi isso o que aconteceu. Não se tratou de apenas um apelo de desespero, mas de uma busca sensata e concreta e, o que é melhor, fundamentada, calcada na Verdade. E aí entra outra história.

Ana Cláudia, irmã de Ana Clara, caminhava pela casa quando, do nada, caíram dois novos testamentos (aquela edição bíblica que só traz o novo testamento)da prateleira de livros. Não sei se foi um anjo que empurrou os livros, ou o vento ou qualquer outra coisa física. Isso é o que menos importa, pois, por coincidência ou não, eles estavam lá, na frente da Ana Cláudia, que os pegou e folheou. Foi o que o Espírito Santo precisava: coração aberto. A partir de então, ela passou de fato a crer e isso foi passado para o resto da família. Ana Cláudia, hoje, leva uma bíblia virtual no celular para ler à toa. Fantástico.

Bem, milhares de pessoas estavam engajadas, orando pela Ana Clara, a família passou a crer em Deus de uma maneira concreta, mas a Ana Clara ainda estava doente. E apesar de uma ou outra melhora esporádica, na verdade piorava cada vez mais.

O último fato que eu gostaria de relatar, aqui, é o mais incrível. Era final de maio, ou inicinho de junho, não lembro ao certo. Na verdade, tudo ficou meio nebuloso em relação àqueles dias tensos. A Ana Clara, ainda em coma na UTI, estava muito mal, sofria com uma terrível pneumonia que não permitia que o seu pulmão sem câncer funcionasse direito, enquanto que o canceroso não funcionava. A situação foi ficando dramática, pois a cada hora as coisas pioravam, sem perspectiva de melhora. Os médicos já haviam feito tudo o que estava ao seu alcance, e só restava-lhes esperar, torcer, orar por uma reação milagrosa da Ana Clara. Mas ela não veio.

Era sábado e eu, ao lado da Roberta, minha namorada (que ama a Ana Clara como uma irmã, e por quem ora intensamente), me ajoelhei, acompanhado, ainda, por muitos amigos, verdadeiros irmãos em Cristo, na reunião da minha juventude evangélica, "Os Gansos". Oramos a Deus, entre lágrimas, pela vida da Ana Clara, implorando pela misericórdia do nosso Pai Eterno para com ela, mas deixando claro, acima de tudo, que fosse feita a sua vontade, independentemente do que pedíamos em humildade.

No domingo seguinte, minutos antes de eu, meu irmão e meu pai irmos ao culto, minha mãe (que estava em Niterói/RJ), ligou, avisando-nos que a situação piorara.

Na igreja, o trecho-tema da pregação não poderia ser melhor: o Salmo 23:4 ("Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam".), sobre o qual eu havia comentado ao meu irmão, pouco antes. Ele não resistiu e desatou a chorar. Ao final do culto, novamente, com meus irmãos de fé lado a lado, em círculo, oramos muito pela Ana Clara. Mesmo assim, no dia seguinte, as notícias não eram animadoras.

Eu estava estudando, quando, ansioso, resolvi ligar para a minha mãe em busca de notícias. Ela, contendo as lágrimas, disse-me que só um milagre salvaria Ana Clara. O mesmo foi dito à minha prima, Ana Carolina, ao meu primo Augusto, Ana Cláudia, enfim, a toda a família celular da Ana Clara. Todos eles confirmaram que os médicos haviam perdido as esperanças e estavam apenas à espera dos acontecimentos.

Desesperado, entreguei-me às lágrimas. Liguei para a senhora que minha mãe conheceu no ônibus, que demonstrava muita preocupação e dedicação desde que soubera da Ana Clara, assim como também telefonei para o pastor da minha igreja. Não tinha mais a quem recorrer fisicamente. Ao mesmo tempo, seguia orando e me perguntando sobre a causa daquilo. Lembrei-me que, dois anos antes, um colega meu de faculdade falecera, vítima de câncer. Na ocasião, orei muito por ele, mas Deus preferiu levá-lo. Apesar de saber da soberania da vontade Dele, implorava que, dessa vez, minhas orações fossem atendidas no sentido de que permanecesse a Ana Clara entre nós. Creio que todos, naquele dia, oravam do mesmo modo.

Ana Carolina, ao lado do Júnior, seu namorado (o nome é Antônio, mas todos o chamam de Júnior, mesmo), não aceitava apenas esperar. Estava desesperada e apesar de saber que a Ana Clara estava à beira da morte, não se entregaria até que ela morresse, afinal, "enquanto há vida, há esperança". Ela e o namorado digitaram no google "pulmão artificial" e descobriram um médico do RJ que tinha um aparelho desses, de uso externo (não é um pulmão interno), que servia para auxiliar o órgão em cirurgias cardíacas, mas não para substituí-lo, propriamente dito. Era tarde da noite, mas mesmo assim ligaram para ele. Não estava mais no consultório, mas a secretária, sim. Conseguiram o número do seu celular e, graças a Deus, conseguiram contatá-lo. Explicaram toda a situação e ele, que, sem demonstrar qualquer resistência, se ofereceu para ajudar.

Tudo ocorreu rapidamente. A Ana Clara aguentou até a chegada do médico e sua equipe no INCA. O problema é que no grupo não havia, naquele momento, ninguém que já tivesse operado o pulmão artificial, e a urgência não permitia esperar: precisavam arriscar. De qualquer modo, Deus moveu os seus pauzinhos e, no corredor do INCA, o médico encontrou uma enfermeira (ou técnica) com quem já trabalhara e já havia mexido na máquina. Ela foi escalada na hora para a operação.

Tudo foi um sucesso. O pulmão artificial funcionou tempo suficiente para que o pulmão doente pudesse se dedicar 100% ao combate à pneumonia. Graças a Deus, depois de quase dois meses na UTI, quarenta em coma, passadas duas semanas do procedimento do pulmão artifical, a Ana Clara receberia alta.

Passados quase três meses daquilo, duas semanas atrás, minha prima submeteu-se a uma cirurgia para a retirada do tumor, que também foi um sucesso.

Hoje estou aqui, junto dos meus pais, meu irmão, tios, tias e primos ao lado da Ana Clara, sorridente, feliz e contente, comemorando o seu vigésimo aniversário. Graças a Deus, que operou um verdadeiro milagre, demonstrado por uma sucessão de fatos improváveis, ela pôde estar aqui, conosco, levemente debilitada pela cirurgia recente, mas em ascendente processo de recuperação. Seu sorriso é contagiante, sua forma de encarar os fatos, também. Além disso, demonstra o quão forte é e o quão fortalecida tem sido pelo amor de sua família e, acima de tudo, de Deus.

Não sabemos com certeza, hoje, se a Ana Clara ainda está doente. Todos os tumores encontrados foram retirados na cirurgia. De qualquer forma, oremos para que a cura tenha sido completa. Mesmo assim, sabemos que, aconteça o que acontecer, estamos nas mãos de Deus, que foi muito bom conosco por ter mantido a minha prima entre nós.

Esse relato é um testemunho de que, enquanto há vida, há esperança! Além disso, é para lembrarmos de que Deus nos ama e está no comando de tudo, e que tudo o que Ele quer é que sejamos humildes e reconheçamos, de coração, isso.

Não há como negar: o dia 04 de setembro de 2011 é um dos mais felizes da minha vida, graças a Deus, nosso Pai Querido, o Senhor dos Senhores que, por meio de Jesus Cristo, fala conosco e se revela a nós, ensinando-nos sobre sua vontade e sobre o verdadeiro amor e esperança.

Obrigado, meu Deus, pela vida da Ana Clara, cujo aniversário é comemorado hoje, depois de tanta luta durante o ano. Também agradeço a todos que oraram e seguem orando pela plena recuperação da minha prima. A batalha é árdua, ainda não terminou, mas essa conquista, que é a comemoração deste aniversário, precisa ser celebrada intensamente!

Fiquem com Deus!


Comentários

  1. Mais uma vez, assim como quando orávamos incessantemente,fui às lágrimas mas hoje não pela aflição e incerteza e sim, pela alegria e emoção de saber como a nossa querida Ana Clara está melhor!Obrigada Senhor!

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  2. Li este post e cheguei a chorar, mas não foi de tristeza e sim de felicidade! Isso realmente foi um milagre de Deus, não existe outra explicação para isto! Fiquei MUITO feliz mesmo! Vou continuar rezando por ela. Bj

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