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POR UMA QUESTÃO DE TRANSPARÊNCIA

  E o caos enfim chegou à Porto Alegre. As notícias de que as UTIs ultrapassaram o limite só não são acompanhadas da palavra “colapso” por mera conveniência. O sistema colapsou, sim, e já há relatos (eu mesmo tive de profissionais que atuam na linha de frente) de que o “protocolo Sofia” estaria a um triz de ser executado. Considerando que recebi essa informação há cerca de uma semana, creio que tal estimativa já esteja em uso.   Diante desse contexto apocalíptico, não há como negar a legitimidade da adoção de medidas mais radicais. Isso porque não nos resta opção. Existe uma realidade, a superlotação das emergências, somada ao fato de que, ao que parece, o vírus, ao finalmente alcançar muitas pessoas, o faz irrestritamente, e isso não se limita ao contágio, mas à gravidade e, provavelmente, aos efeitos colaterais. A vacinação, longe de uma cura, representa apenas uma arma nessa luta, a qual está longe de alcançar toda a população brasileira. Não se trata, aqui, de promover o pânico,

SEM VIRTUDES, SOMOS ESCRAVOS

  Sou gaúcho e não sei se os brasileiros cantam os seus hinos estaduais com tanta emoção, ofuscando, quando tocado, até mesmo o hino nacional. Porém, a novidade é o surgimento de um movimento organizado para alterá-lo, uma vez que os versos “povo que não tem virtude // acaba por ser escravo” teria conotação, ou origem, racista. A iniciativa não se limita a políticos, mas vem sendo apoiada pela imprensa, como é o caso, especialmente, do jornalista Túlio Milman, dono de uma página inteira no jornal Zero Hora e que dedicou t oda a semana passada para defendê-la. Há muitas razões para não alterar o hino, mas esse espaço sucinto não me permite ir além de uma interpretação específica da letra, cujos versos se mostram desprovidos, em absoluto, de conotação racista. Entendimento diverso é mera presunção foucaultiana, e somente visa à “revelação” do suposto aspecto “inconsciente” constante na letra. Trata-se de uma atitude típica dos que buscam, por ignorância ou desonestidade intelectual, u

CELEBREMOS A VIDA

  E entramos na última semana de 2020 e é evidente que o principal, senão o único assunto em todas as retrospectivas possíveis será a pandemia, e não poderia ser diferente. Esse foi o ano dessa praga exportada, propositalmente ou não, pela China, e suas consequências nos acompanharão por muito tempo. Talvez sejam permanentes, mas isso é assunto para outro texto, pois, hoje, gostaria de trazer uma luz diferente para esse período. Ao parabenizar uma ex-colega de faculdade pelo seu aniversário completado no dia de hoje, parei para pensar na confusão de sentimentos dos últimos meses para ela, que se tornou mãe há pouquíssimo tempo. Assim como essa amiga, outras deram à luz crianças que, por sua vez, trouxeram luz para essas mães em um ano de muitas trevas. Poucas imagens emocionam mais do que as de bebês nascidos em meio à guerra ou a grandes crises como as vividas por nós devido à maldita pandemia . Pelo contexto, as lágrimas a lheias podem ser de tristeza e aflição, mas, acima de tud

A OUTRA ANIVERSARIANTE

  N ão se sabe exatamente o porquê de comemorarmos o natal em 25 de dezembro. Embora não haja nenhuma evidência de que Jesus teria vindo ao mundo nesse dia, o fato é que a escolha de uma data específica para comemorar o seu nascimento se deu por alguma convenção, o que não tira, evidentemente, a importância da celebração. A contece que há os que realmente nasceram em 25 de dezembro e que, ano após ano, “concorrem” com aquele que não tem concorrência. Bênção para uns, azar para outros, a verdade é que não é fácil aniversariar nesse dia, o que acaba sempre representando alguma frustração, de convidados ausentes à falta de parabéns; de presentes que se confundem com os de natal ao desinteresse pelo bom e clássico bolo de chocolate ante tantas outras farturas da data. Sei bem como ´é isso. Minha mãe nasceu no natal de 1958 e, obviamente, sempre nos dividimos em comemorar o seu aniversário e a data que, ao lado da páscoa, é a mais importante do cristianismo. Durante a ceia, a poucos ins

O ANIVERSARIANTE

  Fazia algum tempo que ele batera na s porta s das casas de todos da cidade. Alguns o receberam, mas outros, não. Com os primeiros, e não eram poucos, fez grandes amizades, e, no início, todos se lembravam dele, compartilhavam suas alegrias e angústias, convidavam-no para jantar, apreciavam sua companhia. Depois, tudo foi ficando morno, com a maioria se limitando a dar-lhe educados cumprimentos ao acordar e ao dormir. Muitos, nem isso. Outros s equer atendiam às suas ligações e, na rua, ou fingiam não conhecê-lo ou já haviam se esquecido de seu rosto. Então, no dia do seu aniversário, para retomar laços que outrora se mostravam tão fortes e belos, e nviou convites para aqueles que um dia se disseram seus amigos. Comida maravilhosa, decoração impecável, casa limpa e arrumada. Seria uma grande festa! Ao perceber as pessoas s e aproximando de sua casa, vibrou, exultante . Antes que batessem à porta, ele já a abriu. Sua alegria, porém, logo começou a ser desfeita, pois algo estav

O ÚLTIMO NATAL COM PAPAI NOEL

  E ra dezembro de 1993. Com 8 anos, eu era um dos poucos da minha idade a manter firme a crença em Papai Noel. Alguns nunca acreditaram, vê se pode? Insistiam que ele não existia, g abavam-se de como teriam descoberto a “verdade”, debochavam de mim. Pobre deles. A família estava reunida naquela noite quente de nat al . L ogo seria meia-noite. Foi quando percebi um vulto vermelho caminhando no jardim d e casa e u m i ncomporável “ Ho ho ho! Feliz natal! Ho ho ho!”. E ra ele. Alto, rechonchudo, cabelos e barba compridos e alvos como a neve. Ele suava, o que era previsível, afinal, sair do Polo Norte e dar um pulo no Brasil não é para qualquer um. Suas axilas fermentavam e encharcavam o casaco. Pobre Papai Noel! Minha alegria foi extasiante. O bom velhinho lera a minha carta e atendera o meu pedido: a sua visita . Às suas costas, um enorme saco com m uitos presentes. “Onde estão o Renan e o Henrique?”, perguntou Papai Noel. “Somos nós!”, respond emos , e corremos para abr

ESQUECERAM DE... QUEM?

  Por muitos anos , sempre havia aquela tarde do mês de dezembro reservada para Esqueceram de Mim , de 19 90. Trata-se da história de uma criança (Kevin Mc C allister , interpretado por Macaulay Culkin) esquecida pelos pais a alguns dias do natal . Enquanto o menino fica n o sótão da imensa casa, dormindo, a família, depois de ter acordado atrasada, tensa e confusa, o deixa para trás. Apenas quando o avião já estava em voo de cruzeiro é que sua mãe p ercebe a ausência do filho, que não s ó permanece solitário em seu lar, como o defende contra dois ladrões atrapalhados. A lém de divertid a , a obra , já alçad a a clássico, é lind a , preenchid a por uma ótima trilha sonora e com ricos momentos de reflexão sobre a data. S ua p rofundidade, porém, é maior do que parece, e v ejo Esqueceram de Mim como uma aula de misericórdia de Deus, ainda que, provavelmente, não tenha sido essa a intenção do roteirista e produtor John Hughes e do diretor Chris Columbus. A família Mc