Pular para o conteúdo principal

Posição = polarização + fim da ilusão de "todos são legais"

A vida é um imenso aprendizado. Quando pensamos que já sabemos tudo, somos surpreendidos por situações que nos fazem quebrar a cara. Dentre tantas coisas complexas da vida estão os relacionamentos humanos. E não falo no sentido afetivo, mas meramente social.

Quando eu era criança, até os meus dez ou doze anos, achava todo mundo legal. É evidente que havia algumas pessoas com quem eu tinha mais ou menos afinidade, mas o fato é que, até aquelas que considerava desafetos, se num dia eram chatas, mas nos dois seguintes eram legais, eu passava a vê-las como amigas ou "amigas em potencial", iludindo-me com o pensamento de que "até que ele(a) não é tão chato(a) assim...". Enfim, passadas algumas experiências desagradáveis na minha pré-adolescência, percebi que nem todos são nossos amigos e que não existe a possibilidade de todos serem nossos amigos.

Até aí tudo bem. Nem todos são nossos amigos, mas isso não os torna inimigos. É possível conversar com as pessoas, cumprimentá-las, etc. Manter uma conviência pacífica e harmoniosa na medida do possível, buscando evitar conflitos diretos que exponham as diferenças. Tudo pelo "social", pela "paz". Foi agindo assim que me tornei uma pessoa sem inimigos, adversários ou rivais. Contudo, há um momento em que temos que tomar alguma posição sobre determinado assunto. E, dependendo do assunto, o preço pode ser caro.

Poder. Essa palavra é maldita, mas necessária para manter o mundo e as suas instituições em ordem. As posições a serem tomadas referentes ao modo como devemos proceder para alcançarmos o poder ou agir quando o exercemos são algumas daquelas que farão as pessoas não mais olharem para a cara das outras, pois o que se fala para alcançar o poder, muitas vezes, é pesado, e isso de ambas as partes que o disputam.

Estudo Direito na UFRGS e, no momento, estão acontecendo eleições para o nosso Centro Acadêmico. Integro uma das chapas e vejo que a disputa ficou pesada. Não quero expôr aqui nesse blog (que é perene) nenhuma posição pontual sobre a questão dessas eleições, mas apenas constatar que, depois delas, infelizmente, a faculdade não será mais a mesma (no sentido social). A disputa se polarizou ao ponto de muitos das chapas rivais (colegas de sala de aula, muitas vezes) não mais se olharem, havendo um verdadeiro racha harmônico. E tudo porque, enfim, posições foram tomadas (de ambos os lados), defendidas com unhas e dentes. Essas posições deveriam ser, sim, tomadas, mas por que o racha na faculdade? Por que as pessoas não podem mais se olhar? Por quê?

Vivendo e aprendendo. Todos são legais, até o momento em que nos deparamos com situações em que é necessário tomarmos posições que nos expõem. Infelizmente, isso tende a gerar uma polarização que dá origem ao grupo dos "mocinhos" e dos "malvados" (absolutamente subjetiva, pois para um grupo o outro será o malvado e vice-versa), originando rivalidades que minam uma sentimento fraternal e harmonioso! O que não pode haver é o alimento desse sentimento, raiz dos ódios coletivos. Divergências ideológicas, políticas e principiológicas poderão permanecer, mas isso não impede que haja uma convivência harmoniosa entre as pessoas. É isso que molda uma sociedade desenvolvida.

É impossível que todos sejamos amigos, e que todos nos pareçam legais. As posições que tomamos na vida frente às diversas situações que nos são apresentadas determinam isso, gerando, até, uma certa polarização. Todavia, que essa polarização não passe dos limites, e se é impossível ter todos como amigos, que possamos conviver em paz, harmoniosamente. Limitem-e as divergências às quatro linhas das divergências, e não a todo o resto!


Publicado originalmente em 13/11/2008, no blog RENAÇÕES - renanguimaraes.zip.net - antigo blog do autor.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

TIA NOECI, HENRIQUE E EU

  Enquanto eu e o Henrique almoçávamos assistindo ao Chaves e ao Chapolin, lá estavas tu, convencendo o meu irmão a, para a comida, dizer “sim”, antes que eu desse cabo aos restos a serem deixados por ele que, diante de uma colher de arroz e feijão, insistia em falar “não”. Enquanto eu e o Henrique estávamos na escola, durante a manhã, na época do Mãe de Deus, tu arrumavas a bagunça do nosso quarto, preparando-o para ser desarrumado outra vez. Então, quando desembarcávamos da Kombi do Ademir, tu, não sem antes sorrir, nos recebias cheia de carinho e atenção, e dava aquele abraço caloroso que transmitia o que havia no teu coração. Enquanto eu e o Henrique, em tenra idade escolar, tínhamos dificuldades nos deveres de casa, tu estavas lá, nos ajudando a ler, escrever e contar, pois, embora a humildade seja tua maior virtude, ela era muito menor do que tua doação. Sabias que, em breve, não mais conseguirias fazê-lo, mas, até lá, com zelo, estenderias tuas mãos. Enquanto eu e o Henri...

O ÚLTIMO DIA DA MINHA INFÂNCIA

  Eu olhava para eles, e eles, para mim. Não sorriam, mas também não choravam. Apenas aguardavam, resignadamente, pela minha decisão. Estavam todos ali, amontoados no armário cujas portas, naquele momento, eram mantidas abertas. Encarando-os, via-me dividido, pois persistia, em mim, uma certa vontade de dar asas à imaginação e criar mais uma história com meus Comandos em Ação, meu Super-Homem, meu Batman, o Robocop. Porém, paradoxalmente, uma força interior impedia-me de fazê-lo. Sentia-me tímido e desconfortável, mesmo na solidão do meu quarto, onde apenas Deus seria testemunha de mais uma brincadeira . TRRRIIIIMMMM! O chamado estridente do telefone, daqueles clássicos, de discar, quase catapultou meu coração pela boca. De repente, fui abduzido pela realidade e resgatado de meus pensamentos confusos. Atendi. “ Oi, Renan! É o Harry!”, identificou-se meu velho amigo e, na época, também vizinho e parceiro de molecadas na Rua Edgar Luiz Schneider. “ V amos brincar de esconde-e...

Dica de Tiras - High School Comics

Essa tira foi desenhad a por um amigo meu, Rodrigo Chaves, o qual realizou tal trabalho em parceria com outro artista, Cláudio Patto. Acho simplesmente excelente essa série de tiras chamada "High Shool Comics", que trata do cotidiano da vida escolar, sempre com bom humor. Mereceria aparecer todos os dias nos jornais, sem dúvida. Se a visualização não ficou boa, cliquem na imagem. Querem ver mais? Então acessem: http://contratemposmodernos.blogspot.com .