O que anda com os sábios ficará sábio, mas o
companheiro dos tolos será destruído. (Provérbios
13:20)
No Dia do Amigo compartilhei nas minhas redes
sociais o trecho destacado na imagem acima, retirado do livro “Os Quatro Amores”, de C. S. Lewis. Agora,
amigos são apenas aqueles com quem podemos nos reunir assim? Não, claro que não.
Talvez esse tipo de amigo não seja aquele que mais nos fará rir; é possível que
não seja o que mais nos ajudará em uma situação difícil; de repente esse amigo
não se mostre o mais adequado para nos consolar, nem se mostre o parceiro ideal
para praticar esportes ou assistir a uma partida de futebol. Porém, não há dúvidas
de que o amigo a que se referia Lewis é o mais apto a nos tornar sábios a
partir de sua própria sabedoria.
Como Lewis descreve, o amigo sábio não é
aquele que se coloca em um púlpito, tribuna ou palanque, tampouco um professor
particular para nos instruir sobre as questões da vida, mas o que, inexoravelmente
inteligente (mas não necessariamente culto) se coloca lado a lado com o outro em
uma conversa franca, profunda, talvez até filosófica, e sempre permeada de
humildade, provocando os nossos mais adormecidos neurônios e dispondo-se a, ele
próprio, e de forma espontânea, também abrir a sua mente diante das respostas
honestas de seu amigo interlocutor.
Essa é a maravilha do amigo sábio: ele se
revela na sua humildade, pois apenas essa virtude é capaz de permitir um diálogo
mutuamente enriquecedor, e não um debate estúpido em busca de uma vitória inútil
de ideias. O amigo sábio não se preocupa em comprovar seus pontos de vista, mas
usa-os como ponto de partida para, humildemente, alcançar a verdade.
No entanto, mesmo o amigo sábio pode ser
entorpecido pela estupidez se o ambiente for inadequado. Por isso Lewis ilustra
as tais “melhores reuniões” com a imagem dos pés relaxados e com chinelos esticados
em direção à lareira. A sabedoria é um alimento saudável que, para ser comido,
deve ser cozido de forma correta, no fogo de uma conversa acolhedora, aberta e
tranquila. Agora, se meramente lançado na fornalha de um debate, acabará
incinerada, e dela só restarão cinzas.
Encontrei-me, nessa semana, com dois grandes
amigos. Um deles conheço há quase três décadas, e nosso papo enriquecedor foi
em um agradável pub; o outro, uma amizade de mais de vinte anos, vi em sua
casa, e a engrandecedora conversa foi antes, durante e depois do jantar
compartilhado por nossas famílias. São os meus dois melhores amigos? Talvez não
em alguns aspectos, certamente sim em outros. De qualquer forma, não tenho dúvidas
de que são dois dos mais sábios e, ao mesmo tempo, que mais provocam, em
mim mesmo, alguma sabedoria que porventura exista na minha essência. O que o
encontro com os dois teve em comum? Além da sua sabedoria e do fato de eu ter
voltado para casa igualmente mais sábio (assim como eles, talvez), o ambiente
humilde, desarmado e relaxado, um campo fértil para um diálogo franco,
reflexivo e despreocupado.
Portanto, valorizemos os amigos sábios que
nos provocam sabedoria, mas lembremo-nos de que toda sabedoria poderá ser desperdiçada
se plantada em uma terra estéril ou em uma arena de debates (ou combates?). Acendamos a lareira e estiquemos os nossos pés
com chinelos para ela, com humildade e coração aberto, sempre buscando forjar,
no diálogo, não a vitória de nossos argumentos, mas a revelação da verdade.
*Imagem 1: fotografia do próprio autor, retirada do livro "J.R.R. Tolkien e C.S. Lewis: O dom da Amizade", de Colin Duriez.** Imagem 2: https://contraosacademicos.com.br/biblioteca/lista-de-leitura-ordenada-clive-staples-lewis/
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